Labirinto de Kiev

Obama entrou no labirinto construído pela Rússia e o minotauro fantasiado de Vladimir Putin brinca com o líder do “free world”. A cada passo que dá, o presidente americano se perde mais, sobe o tom da retórica e, assim, aumenta o constrangimento de um possível recuo no futuro. Impávido, o minotauro sabe que seu oponente não tem para onde correr.

Na terça-feira, apenas alguns dias depois da reunião em Genebra que apontava para uma saída acordada à crise ucraniana, o governo de Washington anunciou novas restrições econômico-diplomáticas a Moscou. Proibiu empresas – algumas delas suspeitas de lavar dinheiro para Putin – de comercializar com companhias americanas. Ao todo, 17 empresas e sete pessoas sofreram as sanções e tiveram seus ativos nos Estados Unidos bloqueados.  

No dia seguinte, manifestantes pró-russos retomaram a invasão de prédios na cidade de Lugansk, leste da Ucrânia, aos olhares das forças de segurança, que não reagiram. Impotente, Kiev limitou-se a demitir os oficiais que não tentaram coibir a invasão. De Putin não parece ter vindo orientação alguma para que os manifestantes recuassem. Ao contrário, Moscou deu de ombros à bravata ocidental.

O motivo de a situação ser tão confortável aos russos foi dado pelo próprio Obama, em discurso feito durante uma visita a Manila, nas Filipinas. Rebatendo críticas de expoentes republicanos como John McCain, ele lembrou que a via armada não é uma opção após uma década de guerra que gerou “enormes custos às nossas tropas e ao nosso orçamento” com resultados contestáveis. Obama tem razão, ainda mais quando o oponente é a Rússia. Mas abrir mão da guerra também não resolve o problema. É preciso encontrar uma via eficaz de pressão sobre Putin. Hoje ela não existe e Moscou sabe disso. Ao contrário do prudente Teseu, o presidente americano parece ter entrado no labirinto sem um novelo nas mãos.



Sobre

As relações entre governos, organizações e demais atores no espaço físico, virtual e conceitual que extrapola as fronteiras de um Estado lança novos desafios para a atuação da fraternidade na política. A ausência de um agente com legitimidade coercitiva expõe o drama, mas também as possibilidades, da relação fraterna entre sujeitos em condição de paridade, responsabilidade mútua e liberdade para cooperar ou não uns com os outros. Neste blog, abordaremos os desdobramentos desse fenômeno.

Autores

Thiago Borges

Repórter da revista Cidade Nova há quase dois anos, é jornalista formado pela faculdade Cásper Líbero. Foi redator da agência internacional de notícias Ansa por três anos e concluiu recentemente uma pós-graduação em Filosofia Política no Instituto Universitário Sophia, em Florença – Itália.