Projeto Nariz de Plantão usa linguagem do palhaço para levar escuta e empatia a cursos da saúde. Foto: Divulgação
Para combater a velha reclamação de que um paciente recebeu atendimento, mas o profissional nem olhou no seu rosto, o projeto tenta mudar a percepção dos estudantes sobre as relações humanas dentro da área da saúde. Em contato com a arte do palhaço, eles são estimulados a passar por um processo de autoconhecimento que ajuda a melhorar o relacionamento com as pessoas.
“Na área da saúde, como médicos, nutricionistas ou fisioterapeutas, os alunos vão encontrar pessoas – e não apenas doenças. Então é muito importante trabalhar tudo isso”, diz o professor universitário, ao mencionar que, para atender aos pacientes, o desenvolvimento de competências socioemocionais é tão importante quando o domínio técnico.
Com figurino, maquiagem e nariz de palhaço, hoje os estudantes fazem visitas semanais aos hospitais São Camilo, na unidade Pompeia, e São Luiz, na unidade Jabaquara, ambos em São Paulo (SP). No entanto, antes de sair a campo, eles passam por um treinamento de 16 semanas. “Basicamente, fazemos muitas oficinas baseadas em jogos teatrais. Os alunos descobrem o que é o palhaço para cada um e como eles lidam com o outro”, explica.
Durante as oficinas, os universitários precisam se conhecer melhor para construir o seu próprio palhaço. “Percebemos que essa linguagem ensina muitas coisas que a faculdade não traz. O palhaço é um verdadeiro especialista”, defende, quando exemplifica que ele tem facilidade para interagir e entrar em qualquer universo proposto.
Desde 2011, mais de 140 estudantes já passaram pelo projeto. Todo ano chegam novos participantes, como é o caso da Daniela Tibiriçá, que está no sexto semestre de medicina. “Quando se fala em palhaço, as pessoas lembram do Patati Patatá, que está sempre sorrindo. Dentro do Narizes de Plantão, aprendi que o palhaço é muito mais que isso. Ele dá abertura para conversar com a pessoa e perceber se ela está alegre ou triste. Você também precisa entender o momento que o paciente está vivendo, e não apenas o que você quer oferecer para ele”, destaca.
Ao avaliar o impacto do desenvolvimento socioemocional na área da saúde, Mauro Fantini diz que os professores de áreas clínicas observam nos estudantes maior facilidade na hora de se conectar com os pacientes. E, de acordo com ele, resultados também podem ser vistos no dia a dia da sala de aula. “Eu percebo diferença na coragem deles elaborarem uma apresentação de trabalho inusitada ou até mesmo perguntarem mais e admitirem que não estão entendendo.”
Para compartilhar essa experiência com outros profissionais e instituições, o Narizes de Plantão irá produzir um documentário sobre o palhaço como ferramenta educacional. Em uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Juntos.com.vc, o projeto arrecadou R$ 54.275 de 563 apoiadores.