Para transformar o espírito dos Jogos Olímpicos em ações de incentivo ao esporte na América Latina e no Caribe, a agência do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) reuniu ontem (2) gestores públicos do continente, no Rio de Janeiro. A capital fluminense receberá a competição em 2016. Será a primeira vez que a América do Sul sediará a Olimpíada, e deve aproveitar a oportunidade para deixar um legado, disse o representante do Unicef no Brasil, Gary Stahl.
A Unicef realizou ontem (2), no Museu de Arte do Rio, conferência internacional para discutir o papel do esporte no desenvolvimento de crianças e adolescentes. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
“Qual será o legado dos mega-eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas? Como as crianças pobres da América Latina e do Caribe vão se beneficiar? Queremos um acordo entre os envolvidos, com levantamento sobre indicadores básicos, como o número de professores com formação em educação física, quantas áreas esportivas existem e são acessíveis. Aí teríamos uma linha de base para ir aferindo quais os benefícios para a infância”, listou.
De acordo com Stahl, o direito ao esporte na infância e na juventude é um dos mais esquecidos. "Estamos sempre pensando na sobrevivência, nos direitos mais básicos.” Para ele, é preciso que organizações da sociedade e governos atuem em conjunto. “O esporte favorece a boa convivência familiar, a resolução de conflitos e a convivência comunitária.”.
A importância do esporte na vida em comunidade também foi apontada pelo pesquisador da Universidade Tübingen, na Alemanha, Tim Pawlowski. Ele comentou dados de pesquisa com centenas de crianças que praticam esporte em grupos, da Alemanha ao Peru. “Percebemos benefícios associados ao esporte. Elas [crianças] confiam mais umas nas outras, em momento de necessidade, quando precisam. É um tipo de capital social”, frisou.
Atento a práticas que não excluam do esporte crianças com deficiência, o presidente do Instituto Rodrigo Mendes acrescentou que práticas esportivas inclusivas dependem mais da sensibilidade de facilitadores do que de governos. Ele falou sobre uma modalidade recreativa criada por uma criança deficiente, que jogava futebol de joelhos no chão. “As crianças passaram a jogar [de joelhos] mesmo quando o menino não estava presente, o que mostra a adesão”, explicou Rodrigo Mendes, que mantém no site de sua instituição uma plataforma com boas práticas.
Com base em sua experiência como líder comunitário e educador social no Morro dos Prazeres, no Rio, Orlando Dato contou que começou projetos sociais na comunidade sem nenhum tipo de apoio. Hoje recebe ajuda financeira de parceiros para realizar as atividades e comprar equipamentos, o que demonstra importância do apoio social. Para Dato, o esporte ajuda os jovens a se dedicar a projetos de vida. “Quem não tem medo está propenso a ganhar”, declarou.
O Unicef também promoveu a troca de boas práticas entre as cidades que se destacam na promoção ao esporte, caso de Medellín, na Colômbia. O diretor do Instituto de Esportes e Recreação (Inder, o equivalente local à Secretaria de Esportes), David Mora Gomes, disse que o foco são ações comunitárias, associativas e estudantis.
“Isso nos permite ter projetos de impacto totalmente gratuitos, como aulas de rumba, exercícios aeróbicos e bailes. Não investimos em competições”, explicou o diretor, que revelou que os programas do Inder, como o Festival de Esportes Urbanos, e as escolas populares de esportes desenvolvem práticas para várias idades em complexos esportivos nos bairros.