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Raúl Castro elogia Obama em discurso e agradece pelo fim do isolamento cubano

A presença dos presidentes de Cuba e dos EUA na mesma mesa foi o ponto alto da 7ª Cúpula das Américas, a primeira que contou com a presença de todos os 35 lideres do continente

por Monica Yanakiew - Agência Brasil/EBC   publicado às 11:24 de 13/04/2015, modificado às 11:24 de 13/04/2015

O presidente de Cuba, Raúl Castro, cumpriu a "ameaça" que fez – em tom de brincadeira – ao iniciar seu discurso na 7ª Cúpula das Américas: falou durante 50 minutos (muito além do combinado) para compensar o silêncio nas seis cúpulas anteriores. Foi a primeira vez que um líder cubano participava da conferência, realizada a cada três anos, desde 1994. Raúl Castro aproveitou para elogiar o presidente norte-americano, Barack Obama.

A presença dos presidentes de Cuba e dos EUA na mesma mesa foi o ponto alto da 7ª Cúpula das Américas, a primeira que contou com a presença de todos os 35 lideres do continente. Foto: Ministerio de la Presidencia

“Já era hora de me deixar falar. Fiz um grande esforço para reduzir meu discurso, mas, como vocês me devem seis cúpulas, pedi uns minutinhos mais”, disse Castro, rindo. Ele falou logo depois de Obama, a quem chamou de “homem honesto” e agradeceu pela decisão de reverter 50 anos de políticas norte-americanas destinadas a isolar o governo comunista cubano. Em dezembro, Obama anunciou que queria normalizar as relações diplomáticas com Cuba, interrompidas há meio século – e uma das primeiras medidas foi suspender o veto de seus antecessores à inclusão do governo cubano na cúpula.

A presença de Castro e Obama na mesma mesa foi o ponto alto da 7ª Cúpula das Américas – a primeira que contou com a presença de todos os 35 lideres do continente. “Celebramos, aqui e agora, a iniciativa corajosa dos presidentes Raúl Castro e Barack Obama de restabelecer relações entre Cuba e Estados Unidos, pondo fim a esse último vestígio da Guerra Fria na região”, disse a presidente Dilma Rousseff, ao discursar. “Os dois presidentes deram uma primeira prova do quanto se pode avançar quando aceitamos os ensinamentos da história, deixando de lado preconceitos e nocivos antagonismos que tanto afetaram nossas sociedades.”

A reaproximação entre Estados Unidos e Cuba foi saudada pelos líderes na cúpula como uma vitória para toda a região. Mas alguns lamentaram a recente crise entre os EUA e a Venezuela, desencadeada por um decreto de Obama, com sanções a sete funcionários do governo venezuelano de Nicolás Maduro, por seu papel na violação de direitos humanos. Para justificar as medidas, de bloquear seus bens e contas nos Estados Unidos, Obama teve que declarar a Venezuela “ameaça à segurança” norte-americana – o que gerou um mal-estar em toda a região.

O presidente do Equador, Rafael Correa, fez referência à participação dos Estados Unidos no golpe militar do Chile (1973) e à invasão norte-americana do Panamá (1989) para argumentar que a potência não é exemplo em termos de respeito aos direitos humanos. Obama, que falou depois dele, disse que os Estados Unidos “não são perfeitos” e reconheceu erros do passado (inclusive cometidos contra os próprios cidadãos norte-americanos).

“Na primeira cúpula da qual participei, há seis anos, prometi inaugurar um novo capitulo de engajamento na região porque acho que temos que acabar com velhas magoas”, disse Obama. “Foi o que fiz”, complementou. Obama destacou que era o primeiro a reconhecer que os EUA violaram direitos humanos no próprio país, citando os 50 anos da Marcha de Selma, liderada por Martin Luther King, contra a política de segregação racial. Ele acrescentou que, quando Luther King foi preso, e os negros foram reprimidos, muitos fora dos EUA pediram sua libertação.

“Eu estaria traindo a minha história se não fizesse o mesmo”, disse Obama, referindo-se às críticas contra as violações de direitos humanos na Venezuela. Obama disse que falar sobre o passado não resolverá os problemas do presente. “Não estou interessado em batalhas que começaram antes que eu nascesse”, disse.

Para o presidente norte-americano, é mais importante virar a página e juntar esforços para melhorar a educação, combater a pobreza e investir em energia limpa. O presidente também reconheceu que, apesar de continuar tendo diferenças com Cuba, isso não impedirá a normalização das relações entre os dois países. Mas ele não fez menção ao decreto contra a Venezuela.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse que tentou várias vezes falar com Obama, sem sucesso. “Eu o respeito, mas não temos confiança em você, presidente Obama. Se quer conversar... Agora, se não quer conversar, aí esse será seu legado à Venezuela”, disse.

Raúl Castro também falou da histórica ingerência norte-americana em Cuba e pediu desculpas por insistir no passado, quando Obama preferia apostar no futuro. "Peço desculpas porque Obama não tem responsabilidade pelos dez presidentes anteriores a ele. Todos são responsáveis, menos Obama”, disse, depois de contar que leu duas biografias do presidente norte-americano, que considera ser um “homem honesto”.

Além da reaproximação de Cuba e Estados Unidos e da condenação de 33 países (todos menos Estados Unidos e Canadá) ao decreto contra a Venezuela, todos os presentes manifestaram solidariedade à presidente do Chile, Michelle Bachelet, que teve que cancelar a visita devido aos desastres naturais em seus país. Muitos presidentes ressaltaram a importância de se unirem para combater as mudanças climáticas e adotarem uma frente unida na Conferência do Clima em dezembro, em Paris.

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