Pouco depois do ato que pedia a saída do presidente Michel Temer e eleições diretas ser encerrado pelos organizadores, a Polícia Militar (PM) começou a disparar bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e muita água nos manifestantes. Sem dizer qual foi a razão para que isso ocorresse, a Polícia Militar dispersou os manifestantes que já estavam se preparando para ir embora do Largo da Batata, na zona oeste da capital. Por meio do Twitter, a Polícia Militar de São Paulo disse que "em manifestação inicialmente pacífica, vândalos atuam e obrigam PM a intervir com uso moderado da força/munição química".
São Paulo, 04/09/2016 - Manifestantes pedem novas eleições durante ato na Avenida Paulista. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
As bombas assustaram muitas pessoas. Entre elas, a estudante Ana Luiza Parra Spinola, 18 anos, que passou correndo pela reportagem da Agência Brasil ao lado de seu avô Geraldo Spinola. “Meu avô tem 90 anos. É a primeira vez que ele vem a um protesto. A gente tinha acabado de chegar. Moramos aqui perto e viemos porque estava pacífico. Eles jogaram bomba e meu avô tem dificuldade de locomoção”, reclamou a estudante. “Somos contra o golpe. Só estamos pedindo um governo legítimo. “Eles [policiais] querem causar a imagem de que nós, manifestantes, somos os ruins. Mas eles que começam”, ressaltou.
Outro que teve que sair correndo, mesmo sem ter participado do protesto foi o professor de tênis Valdemar Paixão, 56 anos. Valdemar estava sentado em um bar na região, quando as bombas começaram e ele teve que sair correndo. “Eu estava em um bar. Começaram a soltar bomba e gás lacrimogêneo, começou a arder os olhos. Acho que devia ter paz, senão o Brasil nunca vai andar para a frente”, afirmou.
O ato teve início na Avenida Paulista por volta das 16h de ontem (05/09). Às 17h30, os organizadores deram início a uma caminhada de cerca de duas horas, que passou pela Avenida Rebouças e terminou no Largo da Batata. Durante a caminhada, grupos black blocs começaram a se organizar, mas foram contidos por seguranças e membros de movimentos sociais e da torcida Gaviões da Fiel, que os alertaram que seria importante manter o ato pacífico.
Ao chegarem ao Largo, os organizadores encerraram a manifestação, pedindo para que as pessoas não “entrassem em confronto com os policiais” na dispersão. Pouco tempo depois, a confusão começou. Policiais militares, que acompanharam todo o ato à distância, decidiram sair de um lado do Largo da Batata para mais perto da praça, sendo muito vaiados pelos manifestantes. Pouco tempo depois das vaias, começaram as primeiras bombas, o que gerou muito corre-corre no local.
Grupos black blocs começaram novamente a se organizar para seguir em direção aos policiais, mas foram contidos por membros de movimentos sociais, que insistiam em dizer a eles para deixar as provocações apenas em responsabilidade dos policiais. Os organizadores do ato chegaram a ir ao microfone para pedir que os manifestantes não entrassem em confronto com os policiais, mas, enquanto falavam, diversas bombas foram disparadas na direção deles.
Muitos correram para a estação de metrô Pinheiros, onde desceram as escadas rolantes gritando "Fora Temer".
Pouco antes das bombas, o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, fez um balanço positivo da manifestação. “O ato foi uma grande demonstração de força de setores populares contra o governo ilegítimo do Michel Temer. Foi um ato que também expressou a reação da provocação infame que ele fez sobre 40 manifestantes, desqualificando a participação popular”, disse.
Segundo os organizadores, o ato atraiu 100 mil pessoas. A Polícia Militar não deu estimativa do número de participantes. Diversos políticos participaram da manifestação, como Eduardo Suplicy, Luiza Erundina (PSOL) e Lindbergh Farias (PT-RJ).
Uma nova manifestação foi marcada para a próxima quinta-feira (8), às 17h, no Largo da Batata, e a intenção dos manifestantes é seguir em direção à casa de Michel Temer, no Alto de Pinheiros, em São Paulo.
Detidos no Deic
Antes que o protesto começasse, cerca de 30 pessoas que iriam participar do protesto foram detidas pela Polícia Militar no Centro Cultural São Paulo, na Rua Vergueiro. Elas foram levadas para o Departamento de Investigações Criminais de São Paulo (Deic),que confirmou à reportagem que eles estavam lá, sem confirmar o número de pessoas e porque haviam sido detidos. A reportagem conversou com pessoas que conhecem alguns dos detidos e que estavam no protesto e eles disseram que a Polícia Civil tinha proibido a presença de advogados por lá e que não havia informações sobre o porque eles haviam sido detidos.