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FAO: combate à fome no Brasil não deve ser considerado política de governos específicos

Para Graziano, chefe da organização, a decisão de acabar com a subnutrição é da sociedade brasileira

por ONU Brasil   publicado às 09:43 de 10/08/2016, modificado às 09:43 de 10/08/2016

Atletas e agências da ONU pediram o fortalecimento do combate à fome e outras formas de má nutrição — que incluem a obesidade — na véspera (4) da abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016, em evento que reuniu autoridades do governo brasileiro e representações diplomáticas na Casa Brasil, na zona portuária da capital fluminense.

Diretor-geral da FAO, José Graziano destacou que “acabar com a fome foi uma decisão da sociedade brasileira”. Foto: ONU Brasil

“Eu ouvia muito da minha mãe: ‘vai dormir que o sono alimenta’. Muitas crianças foram dormir e não acordaram, pois morreram de fome”, lembrou o bimedalhista olímpico brasileiro e ex-corredor, Robson Caetano, durante a abertura do encontro.

O atleta destacou que ele é uma exceção entre tantos jovens pobres da comunidades — como a favela da Nova Holanda, onde cresceu — que não conseguiram ter sucesso em qualquer atividade.

“No Brasil, nossos meninos e meninas morrem de fome e, muitas vezes, não têm força para correr de uma bala perdida”, lamentou o campeão. Caetano disse ainda que chegou o momento de “nos despirmos das regalias e abraçarmos os irmãos da África e aqueles que passam fome no Brasil”.

Atualmente, a desnutrição afeta 100 milhões de crianças em todo o mundo e é responsável por 3,1 milhões de mortes anuais de jovens de até cinco anos — o que representa metade dos óbitos nessa faixa etária.

O ministro brasileiro da Saúde, Ricardo Barros, lembrou que a desnutrição do Brasil está em torno de 7% e que o índice de crianças menores de cinco anos com baixo peso para idade caiu de 7,1% em 1989 para 1,8% em 2006.

A redução da fome, de acordo com Barros, foi fruto de esforços do governo Lula, do diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, e do Fome Zero.

Também presente na conferência — chamada “Nutrição para o Crescimento” —, o chefe da agência da ONU enfatizou que a promoção da nutrição e o combate à fome deve ser uma política de Estado, contínua e duradoura. Para Graziano, a educação alimentar não é “para um governo”, pois a decisão de acabar com a subnutrição é da sociedade brasileira.

“Eu entendo que cada governo queira botar a sua marca, eu entendo que todos os políticos queiram promover a sua gestão, mas aquelas coisas que dão tão certo e são tão simples, vamos continuar, vamos considerá-las políticas de Estado, vamos considerá-las um compromisso de uma sociedade, não de um governo.”

O diretor do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Daniel Balaban, reiterou o apelo de Graziano pela continuidade das políticas de redução da fome, além de chamar atenção para o protagonismo do Brasil na difusão de conhecimentos sobre combate à desnutrição.

O dirigente lembrou que a cooperação técnica, promovida por organismos como o Centro de Excelência, “é barata” e traz enormes benefícios para países que ainda contam com elevadas taxas de insegurança alimentar.

Obesidade é outra faceta da má nutrição
Durante o encontro, a diretora-geral da Organização Mundial da Sáude (OMS), Margaret Chan, elogiou a liderança do Brasil na redução da subnutrição infantil no mundo, mas alertou que o país vive “uma epidemia de obesidade“.

“O mundo tem 800 milhões de pessoas com fome crônica, mas também tem países onde mais de 70% da população adulta está obesa ou com sobrepeso”, destacou Chan. No Brasil, cerca de 53% da população está com sobrepeso e 20% está obesa.

A situação do Brasil é semelhante a de outros países em desenvolvimento e desenvolvidos. Segundo a representante do governo do Reino Unido, Gina Radford, na Grã-Bretanha, uma em cada dez crianças começa a escola primária obesa. A proporção chega a uma em cada cinco ao longo da educação formal.

Entre as causas por trás desse cenário, estão o sedentarismo e o consumo em excesso de produtos processados e ultraprocessados, ricos em calorias e pobres em nutrientes.

“É necessário ter políticas para retirar o açúcar e o sal dos alimentos processados. Mas também são importantes ações que nos permitam saber quanto de açúcar tem no refrigerante, quanto de sal tem na pizza congelada. Precisa pôr na frente, na capa. Da mesma forma como colocamos nos venenos aquela caveirinha”, defendeu Graziano.

Barros informou que o Ministério da Saúde conseguiu “um acordo com a indústria que nos permitiu retirar 14 mil toneladas de sódio dos alimentos processados”. O chefe da pasta destacou ainda o Guia Alimentar para a População Brasileira, que traz informações sobre como se alimentar de forma saudável. O material foi feito pelo Ministério da Saúde com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

O presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ronald Ferreira dos Santos, ressaltou que é uma contradição as Olimpíadas serem patrocinadas por empresas do setor alimentício que estimulam o consumo de alimentos nocivos à saúde. Entre as corporações que financiam os Jogos, estão a Coca-Cola e o McDonald’s.

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