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Papa sobre o uso de preservativo: “o problema é maior”

Para Francisco, não devemos nos perguntar se podemos "curar no sábado", usar esse ou aquele esparadrapo para uma pequena ferida, pois a grande ferida é a injustiça social e ambiental

por Rádio Vaticano*   publicado às 12:44 de 02/12/2015, modificado às 13:51 de 02/12/2015

Dentre as perguntas feitas pelos jornalistas ao Papa durante o voo de volta da República Centro-Africana, aquela lançada pela jornalista Jurgen Baez, da filial sul-africana da agência de notícias alemã DPA, entra no contexto do Dia Internacional de Combate à aids, celebrado ontem, 1º de dezembro.

Papa Francisco visita Uganda, no continente africano. Foto: President Of The Republic Of Uganda

A Rádio Vaticano publicou a íntegra da pergunta e da resposta do Pontífice. Confira.

Jurgen Baez: Santidade, a aids está devastando a África. Os antirretrovirais aumentam a expectativa de vida. Mas a epidemia continua. Somente em Uganda, no ano passado foram registrados mais de 135 mil novos casos. No Quênia, a situação é ainda pior. A aids é a principal causa de morte entre jovens africanos. Santidade, o senhor encontrou crianças soropositivas e escutou um testemunho comovente em Uganda. Contudo, o senhor não falou muito sobre essa questão. Nós sabemos que a prevenção é fundamental. Sabemos também que o preservativo não é o único meio para erradicar a epidemia. Sabemos que é, todavia, uma parte importante da resposta. Não é talvez hora de mudar a posição da Igreja sobre esse propósito? De permitir o uso do preservativo a fim de prevenir novos contágios?

Papa Francisco: A pergunta me parece muito redutiva e parcial. Sim, é um dos métodos; a moral da Igreja se encontra – penso – neste ponto, diante de uma perplexidade: é o quinto ou é o sexto mandamento? Defender a vida ou que a relação sexual seja aberta à vida? Mas esse não é o problema. O problema é maior. Essa pergunta me faz pensar naquela que fizeram a Jesus, uma vez: “Mestre, é lícito curar no sábado?”.  É obrigatório curar! Essa pergunta, se é lícito curar...

Mas a desnutrição, a exploração das pessoas, o trabalho escravo, a falta de água potável: esses são os problemas. Não nos perguntemos se podemos usar esse ou aquele esparadrapo para uma pequena ferida. A grande ferida é a injustiça social, a injustiça do ambiente, a injustiça da exploração e da subnutrição. É isso. Não gostaria de descer às reflexões casuísticas, quando as pessoas morrem por falta de água e de fome, de casa. Quando todos estarão curados ou quando não existirão mais essas trágicas doenças causadas pelo homem, seja por injustiça social, seja para fazer mais dinheiro – pense no tráfico de armas! – quando não existirão mais esses problemas, creio que se poderá fazer uma pergunta: “É lícito curar no sábado?”. Por que se continua a fabricar e traficar armas? As guerras são a maior causa de mortalidade... Eu diria de não pensar se é lícito ou ilícito curar no sábado. Eu direi à humanidade: faça justiça e quando todos estivermos curados, quando não existirem mais injustiças neste mundo, poderemos falar do sábado.

*Texto original publicado por Rádio Vaticano.

Tags:

papa Francisco, prevenção, vida, aids, hiv, camisinha, "é lícito curar no sábado", preservativos

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