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A um ano da paralimpíada, Rio tem desafios para tornar cidade acessível

Entre os problemas estão a ausência de quartos adaptados em hotéis três estrelas, a dificuldade na mobilidade urbana, a baixa acessibilidade em cartões-postais e nas praias da cidade

por Isabela Vieira* – Agência Brasil   publicado às 07:01 de 09/09/2015, modificado às 08:19 de 09/09/2015

A um ano da Paralimpíada de 2016, o Rio de Janeiro tem desafios para tornar a cidade acessível aos 4.350 atletas com deficiência de 178 países que virão competir, aos turistas e aos cariocas. Entre os principais problemas, estão a ausência de quartos adaptados em hotéis três estrelas, que são mais baratos, a dificuldade na mobilidade urbana, a baixa acessibilidade em cartões-postais, como o Cristo Redentor, e nas praias da cidade, como Copacabana. 

Atletas da seleção brasileira de goalball, que conquistaram ouro no Jogos Panamericanos de Toronto 2015, inauguram na manhã desta terça-feira (08) a quadra da Arena do Futuro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Uma barreira que pode prejudicar a abertura da Olimpíada e da Paralimpíada é o acesso ao Estádio Jornalista Mário Filho/Maracanã. O local será palco das cerimônias de abertura e encerramento, mas precisa facilitar a entrada e saída de pessoas. A rampa que liga o metrô ao estádio tem uma inclinação acentuada, o que a torna arriscada para cadeirantes e pessoas com baixa mobilidade. O problema foi identificado na Copa do Mundo de 2014, quando uma passagem provisória foi instalada, mas para o ano que vem não há nada confirmado.

“O cadeirante, sozinho, não consegue subir nem descer a rampa no Maracanã”, disse Leonardo Tavares Martins, cadeirante, que esteve no estádio durante os jogos do Mundial. “Descer ainda é mais fácil, mas para subir, precisa de ajuda, mesmo no meu caso, que me julgo safo”, explicou Leonardo, habituado ao local. Em 2014, além dos jogos no Maracanã, ele viajou a Fortaleza para ver partidas da Copa. No ano que vem, ele pretende prestigiar os atletas que virão para as competições.

A deputada e cadeirante Tânia Rodrigues (PDT), que coordena, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), levantamento sobre acessibilidade, confirma os problemas no Maracanã. “Essa rampa é fora de qualquer inclinação aceitável para uma pessoa dita normal”, acrescenta. Ela cobra que a cidade melhore a acessibilidade aos locais de provas, incluindo a mobilidade, e aos pontos turísticos.

“Os atletas e as comissões técnicas têm horas de folga e lazer não vão ficar confinados no hotel e na Vila Olímpica [residência oficial]”, destacou a parlamentar, que pretende entregar o levantamento à prefeitura e ao governo do estado até o fim do ano.

Para as competições paralímpicas, todas as instalações são adaptadas, conforme recomendação das organizações internacionais, explica Tânia, que esteve em três Paralimpíadas e nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto, na qual o Brasil obteve recorde de medalhas.

Cristo Redentor

O ponto turístico mais conhecido do Rio de Janeiro, o Corcovado, onde fica o Cristo Redentor, é um dos locais que mais recebem críticas por não oferecer infraestrutura adequada a pessoas com deficiência. Além da falta de banheiros adaptados, Luiz Claudio Pereira, que é cadeirante, critica as escadas rolantes e a ausência de um “guia auditivo”.

“Eles até começaram a criar acessibilidade para o cadeirante, mas o cego e o surdo ficam totalmente em outro país”, disse Pereira que preside a Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas. Ele sugere que informações sejam dadas em braille ou em uma espécie de computador portátil em que seja possível acessar vídeos na língua de sinais ou áudios, como já ocorre em outros países.

A Arquidiocese do Rio de Janeiro, responsável pela administração do monumento, diz que busca parceiros para fazer as modificações necessárias e aumentar a acessibilidade no Cristo Redentor.  “Para nós, é importante que seja um local democrático”, disse o cônego Marcos William, vigário episcopal para Comunicação e Cultura.

Chegar à praia também é uma aventura para quem tem deficiência ou baixa modalidade. A prefeitura criou há alguns anos uma rota acessível entre a estação de metrô Cardeal Arcoverde e a orla de Copacabana, na altura da Rua Rodolfo Dantas. No entanto, o trecho tem vários obstáculos. Os sinais sonoros sumiram ou estão quebrados, obras bloqueiam o caminho do cadeirante e partes do piso tátil foram retiradas.

“Andar nas pedras portuguesas é uma desgraça, trepida demais a cadeira, às vezes, cai até a rodinha”, disse a deputada Tânia Rodrigues, que cobra a manutenção da rota em Copacabana. A rota tem um piso especial que facilita a passagem da cadeira e dá autonomia ao cadeirante.

A secretária da Pessoa com Deficiência da prefeitura e coordenadora da seleção de ginástica artística, Georgette Vidor, reconhece que a cidade tem problemas na acessibilidade. Segundo ela, que já esteve em 33 países, a situação do Rio é a mesma de outras cidades desenvolvidas, como Londres, que pouco a pouco vão adaptando sua infraestrutura pública e privada.

“Todas as cidades do mundo estão no esforço de se tornar cidades para todos. Os países mais avançados estão com o transporte público, talvez, mais acessível, que a gente. O restante, estamos no mesmo patamar”, avaliou.

Georgette afirma que a transformação do Rio de Janeiro em uma cidade acessível leva tempo e compete com outras prioridades do governo local.

Como exemplo do esforço da prefeitura, ela cita a criação do Museu de Arte do Rio (MAR), na zona portuária, e do Parque Madureira, na zona norte, inaugurados nos três últimos anos e com a estrutura necessária para pessoas com deficiência.

Ela cita ainda outros pontos turísticos bem preparados como o Forte de Copacabana, o Parque Nacional da Tijuca – que tem uma trilha toda adaptada – e o Jardim Botânico, com seu jardim sensorial e plantas para serem tocadas, rampas, piso tátil e informações em braille.

A secretária também explica que as obras de manutenção nas rotas adaptadas são feitas por outros órgãos que têm uma lista de prioridades própria.

Segundo Georgette, estão em discussão na prefeitura a ampliação da licença para táxis adaptados e a possibilidade de os ônibus serem rebaixados, como em São Paulo, o que facilitará a entrada de cadeirantes.

Hospedagem e restaurantes

Para receber o visitante com deficiência, o setor de turismo também está se preparando. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH), Alfredo Lopes, diz que há pelo menos um quarto adaptado por estabelecimento e treinamento profissional extra para lidar com esses hóspedes.

“No caso de deficiência visual, por exemplo, passamos para o pessoal que não pode arrumar o quarto, senão, depois, o hóspede não encontra mais nada”, disse Lopes, reconhecendo que o número de reservas para quartos acessíveis ainda é baixo o que não justifica a expansão para 10% da capacidade do hotel, como prevê a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.

Restaurantes de 24 polos turísticos da cidade vão contar com ajuda da prefeitura para se adequar. Em tom de estímulo, a Secretaria de Pessoas com Deficiência traduzirá para braille um cardápio em cada um dos polos. A ideia é que os restaurantes adotem a prática ou imprimam seus menus com letras em alto-relevo, para facilitar a leitura por clientes.

Quem vai participar da Paralímpiada aguarda as transformações com ansiedade. Para o atleta da modalidade futebol de 5, Cássio Lopes dos Reis, que é de Salvador, mas treina no Rio, as mudanças são importantes para garantir autonomia aos deficientes. “Eu não tenho segurança alguma para andar só. Acessibilidade é ruim aqui”, disse. Ele conta que, nas oportunidades de lazer, teve que ser guiado por alguém da família.

*Colaborou Tâmara Freire, do Radiojornalismo

Tags:

rio 2016, atletas, cegos, acessibilidade, surdos, praias, cadeirantes, cadeira de rodas, cartões-postais, paralimpíada

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