A quatro meses da primeira edicação dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, as comunidades estão na reta final para a escolha dos atletas. Os jovens treinam pelo menos três vezes por semana e recebem alimentação especial. "Os atletas não podem comer qualquer coisa. Eles têm que tomar cuidado com o local onde sentam. Não podem sentar no mesmo lugar onde velhos sentaram, por exemplo", explica o líder Jakuri Pep Krakete, da etnia Gavião Parkatêjê, do Pará.
Lançamento nacional da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Foto: Fabio Pozzebom/ABr
A comunidade Gavião deve decidir, nas próximas semanas, os seus representantes nos Jogos Mundiais. Os treinos ocorrem três vezes por semana e envolvem as oito aldeias do território. Entre as modalidades que estão sendo desenvolvidas estão corrida de tora, arco e flecha, canoagem e futebol.
Krakete diz que a maior dificuldade está na canoagem. A maior facilidade, no futebol. É deles a primeira seleção indígena profissional: Gavião Kyikatejê Futebol Clube. Para os que estão participando dos treinos, ele detalha que a alimentação é à base de berarubu, como é chamada a mandioca, e carne de caça, principalmente de veado, porco e paca. Estão incluídos na alimentação ainda milho, inhame, batata, açaí e castanha-do-pará.
O líder foi um dos que participou ontem (23) do lançamento dos primeiros Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Brasília. Os jogos serão de 20 de outubro a 1º de novembro, em Palmas, Tocantins. Cada país poderá inscrever até 50 participantes, totalizando 2,2 mil indígenas de 1,1 mil etnias nacionais e internacionais. Os representantes dos povos indígenas continuam em Brasília, participando de congresso técnico até a próxima quinta-feira (25).
Além dos povos Gavião, o pueblo Kariña, da Venezuela, também treina. A seleção dos atletas venezuelanos será em julho, nos jogos indígenas nacionais. "No país são 42 povos, e apenas 50 delegados serão selecionados. Queremos trazer também documentos tradicionais do que são os povos indígenas. Trazer o conhecimento de nossos irmãos", diz Raul Tempo, que representava o país na cerimônia de lançamento dos Jogos Mundiais.
Jailson Azanezakemae, 27 anos, é um dos atletas que estão sendo preparado entre os parecis, etnia de Mato Grosso. Ele joga futebol. Para ganhar, segundo ele, o segredo é simples: "Entrar no campo e jogar melhor que o adversário". O avô, o cacique Narciso Kazoizase explica que os atletas têm mais responsabilidades, além de fazer um bom jogo. Tudo que aprenderem terão que repassar aos mais demais. "É a mesma coisa que escola, tem que preparar para já aprender e depois passar para os outros jovens", diz.
Além do Brasil, 22 países participam do congresso técnico, indicando intenção de participar dos jogos. Para o idealizador, o líder indígena, Marcos Terena, é a realização literal de um sonho. Quando jovem, sonhou com irmãos de várias etnias, de vários países, se encontrando. Foi ele quem buscou apoio junto ao governo para a realização do mundial.
Junto com os jogos, em outubro, o Fórum Social Indígena deverá formar a Comissão Internacional Indígena, que funcionará como o Comitê Olímpico Internacional, responsável pela organização dos Jogos Olímpicos. Também será definida a frequência dos jogos.
"Nós estamos cumprindo uma primeira etapa, de envolver outros ministérios e a Organização das Nações Unidas (ONU), não para fortalecer em termos de recusos financeiros, mas sobretudo o compromisso com a questão indígena e com o nosso projeto de realizarmos os jogos com equilíbrio ambiental, para que a gente mostre o verdadeiro espírito de atletismo, onde a medalha é uma referência, mas não é o principal, o pricipal é a celebração", segundo Terena.
Participaram do lançamento, além dos representantes indígenas, a presidente Dilma Rousseff, o ministro do Esporte, George Hilton, e os ministros da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo; da Agricultura, Kátia Abreu; da Cultura, Juca Ferreira; da Integração Nacional, Gilberto Occhi; do Turismo, Henrique Alves; e das Políticas Públicas para Mulheres, Eleonora Menicucci; além de representantes do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil e dos governos do Distrito Federal, de Tocantins e da prefeitura de Palmas.