A Arquidiocese do Rio de Janeiro recebeu hoje (19) a menina que levou uma pedrada na cabeça, por intolerância religiosa, no domingo (14). Acompanhada da avó Kátia Marinho e do babalaô Ivanir dos Santos, representando a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, ela recebeu a solidariedade do arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta. Eles estiveram no Palácio de São Joaquim, zona sul do Rio do Janeiro, residência oficial do arcebispo.
O arcebispo do Rio de Janeiro, dom Orani Tempesta. Foto: Tomaz Silva/ Agência Brasil
Segundo Ivanir do Santos, dom Orani reafirmou a posição da Igreja Católica contra qualquer forma de perseguição ou intolerância a adeptos de religiões como o candomblé e a umbanda. “Foi muito importante, uma manifestação pública, de preocupação para que o sentimento de ódio [que motivou a agressão] não avance”, disse o babalaô à Agência Brasil.
A avó, que testemunhou o ocorrido, conta que a menina foi agredida por um grupo de evangélicos. Os fiéis arremessaram pedras e xingaram ao identificar, por meio das roupas brancas das vítimas, que eram adeptos do candomblé. A família da garota está empenhada em fazer da agressão um símbolo contra o preconceito. No domingo (21), adeptos das religiões afro-brasileiras fazem uma passeata na Vila da Penha, às 10h, bairro onde ocorreu o ataque.
Apesar de o Rio de Janeiro ter a maior proporção de praticantes de religiões afro-brasileiras (1,61%), segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas, com base no Censo 2010, o estado também liderou as denúncias de discriminação religiosa em 2014, como mostra levantamento da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH). Foram 39 ligações para o Disque 100 denunciando a intolerância. São Paulo, em segundo lugar no ranking, contabilizou 29 casos.
A professora aposentada da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Denise Fonseca, que coordenou pesquisa sobre templos de religiões de matriz africana, acredita que por trás das agressões aos praticantes de religiões como o candomblé e a umbanda está a necessidade de religiões neopentecostais criarem um inimigo a ser combatido, para depois cooptar fiéis.
“Há um projeto de aliciamento de pessoas em estado de vulnerabilidade emocional ou material [por neopentecostais]”, disse. “Ao satanizar e trazer [essas pessoas] para dentro de suas igrejas, oferecendo o que chamam de libertação, nada mais estão fazendo do que roubando adeptos”, destacou a professora.
Na pesquisa, entre 2008 e 2011, foram mapeados 900 templos religiosos de matriz africana no Rio e registradas 450 queixas de intolerância. “São casos que começam com agressões verbais – 'Filha do demônio' e 'Vai para o inferno', ou seja, uma satanização – e passam por agressões às casas religiosas, com pichações e depredações e até agressões físicas”, explicou Denise Fonseca.