Economia / Sociedade
  

Industrialização muda perfil de periferia das grandes cidades

Responsáveis por 40% da população e 50% do PIB nacional, as 15 maiores regiões metropolitanas do país têm nível de desenvolvimento econômico maior que o do restante do país

por Wellton Máximo – Agência Brasil   publicado às 09:30 de 20/04/2015, modificado às 09:31 de 20/04/2015

Beneficiados pela migração das indústrias do centro para cidades vizinhas, os municípios da periferia das 15 maiores regiões metropolitanas brasileiras, aos poucos, alcançam desenvolvimento econômico compatível com o das principais cidades. Isso está fazendo com que os municípios que integram grandes centros deixem de ser cidades-dormitório ou bolsões de pobreza.

Indústrias na periferia das capitais mudam realidade econômica de regiões metropolitanas. Foto: Arquivo/Agência Brasil

Os dados constam de estudo do Conselho Federal de Economia (Cofecon). Em alguns casos, os municípios periféricos ultrapassaram os núcleos principais no Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas) das regiões metropolitanas. Gradualmente, as cidades principais se especializam na economia de serviços, enquanto os municípios vizinhos adotam perfil industrial.

Responsáveis por 40% da população e 50% do PIB nacional, as 15 maiores regiões metropolitanas do país têm nível de desenvolvimento econômico maior que o do restante do país. O PIB per capita dessas regiões é 30% superior à média nacional. “A indústria é o fator decisivo. Onde existe atividade industrial há mais desenvolvimento. A diferença é que esse processo está chegando às periferias”, diz o vice-presidente do Cofecon, Júlio Miragaya, autor do estudo.

Em cinco localidades, revelou o levantamento, os municípios de periferia concentram mais de 50% do PIB da região metropolitana, superando as cidades principais: Campinas, em São Paulo, com 61,2%, Porto Alegre (59,5%), Belo Horizonte (57,0%), Recife (52,7%) e Vitória (52,7%). Em Salvador (45,3%) e em Curitiba (43,5%), a participação das periferias metropolitanas aproxima-se de 50%.

Em Santos, no litoral paulista, com 37,2%, Belém (36,3%), São Paulo (35,4%), Goiânia (34,2%) e no Rio de Janeiro (32%), as periferias respondem por cerca de um terço da economia das regiões metropolitanas. Em Fortaleza (27,2%), a proporção aproxima-se de um quarto. As exceções são Manaus e o Distrito Federal (DF). Sem indústrias nas cidades periféricas, a participação da periferia na economia local cai para 6,2% na capital amazonense e 5,5% na capital federal.

As duas cidades, no entanto, têm peculiaridades. Em Manaus, a industrialização restringe-se ao pólo da Zona Franca, não atingindo as cidades vizinhas. Além disso, a capital do Amazonas não tem uma região metropolitana. “Não existe a conurbação – fusão de cidades vizinhas – em Manaus, mas cidades isoladas, separadas pela Floresta Amazônica e pelos rios da região. A região metropolitana no estado foi apenas uma criação das autoridades”, explicou Miragaya.

Na capital federal, o estudo considerou como periferia 12 municípios de Goiás que integram o entorno do DF. Toda a capital foi considerada núcleo da região metropolitana. “Dentro do próprio DF, existem Brasília e as cidades periféricas, mas as estatísticas oficiais só fornecem o PIB dos municípios”, justificou Miragaya. Oficialmente, o DF é um estado e município ao mesmo tempo, acrescentou.

Em relação ao PIB per capita, quando se divide esse indicador pela população de uma região, o estudo revelou equilíbrio entre a periferia e o núcleo das regiões metropolitanas. Em oito regiões – São Paulo, Recife, Porto Alegre, Fortaleza, Belém, Goiânia, Curitiba e Campinas –, o PIB per capita da periferia ficou entre 70% e 95% do registrado nas cidades principais.

Em Salvador (229,2%) e Belo Horizonte (119,4%), o PIB per capita das cidades periféricas foi maior que o dos núcleos por causa do Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, e de municípios fortemente industrializados ao redor da capital mineira, como Betim, Contagem e Nova Lima. Mesmo assim, o autor do estudo ressalta a limitação do PIB por habitante para medir a qualidade de vida.

“PIB per capita não indica qualidade de vida. Na Bahia, existe uma indústria intensiva em capital em municípios com população pequena em relação a Salvador. A produção é alta, mas isso não indica necessariamente que o dinheiro é revertido para as populações locais. Na região metropolitana de Belo Horizonte, há sim um equilíbrio na qualidade de vida da capital e da periferia”, explica Miragaya.

As regiões que apresentaram as maiores defasagens de desenvolvimento econômico entre a cidade principal e a periferia foram o Rio de Janeiro, onde o PIB per capita da periferia equivale a 52,9% ao da capital fluminense, Manaus (39,8%), Vitória (24,7%), Santos (19,1%) e Brasília (13,7%). No caso da capital federal, o resultado mais uma vez foi influenciado pelos municípios goianos ao redor do DF.

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