As grandes organizações não governamentais (ONGs), como o Greenpeace, os Médicos sem Fronteiras ou a Oxafam, não formam um mundo à parte protegido do poder e das águas glaciais do mercado. Ao contrário, elas se inscrevem, muito frequentemente, numa larga rede de relações com os Estados, as instituições internacionais e as grandes empresas. Em outras palavras, as linhas de demarcação de ontem tornaram-se espaços compartilhados onde as "multinacionais do bem" colaboram de boa vontade com seus novos vizinhos. Essa face escondida do trabalho que elas realizam é o laboratório de uma vasta redistribuição de papéis entre os atores públicos, a esfera do mercado e a sociedade civil. Deixando de lado as oposições rotineiras e os litígios evidentes, este ensaio analisa a complexidade e a fecundidade do trabalho desenvolvido ao longo dos anos pelas ONGs, seus desafios, levando em consideração as motivações imanentes ao seu surgimento.