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Smartphone alfabetiza jovens e adultos em Itatiba (SP)

Aplicativo Palma ensina a ler e escrever, desperta motivação dos alunos e reduz evasão escolar. Há projetos parecidos em outras sete cidades, como Campinas (SP), Franca (SP) e João Pessoa (PB)

por Filipe Prado - Porvir   publicado às 09:48 de 26/11/2014, modificado às 09:50 de 26/11/2014

A Cooperativa de Materiais Recicláveis da cidade de Itatiba, no interior de São Paulo, adotou um novo método para alfabetizar seus trabalhadores em uma sala de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Eles utilizam o Palma (Programa de Alfabetização na Língua Materna), uma iniciativa que propõe o uso de smartphones e tablets com um aplicativo educacional cujo objetivo é estimular e complementar, por meio digital, as habilidades de leitura, escrita e compreensão de textos.

A Cooperativa de Materiais Recicláveis da cidade de Itatiba, no interior de São Paulo, adotou um novo método para alfabetizar seus trabalhadores em uma sala de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Eles utilizam o Palma (Programa de Alfabetização na Língua Materna). Foto: Reginaldo Maciel/Prefeitura Municipal de Itatiba

De acordo com a professora responsável pela aplicação da tecnologia no processo de alfabetização há seis meses, Maria da Gloria Viana, os resultados são surpreendentes. Os alunos sentem-se valorizados, motivados, realizam os exercícios em casa e aprendem através de jogos e pequenos testes que separam cada nível de aprendizado.

“O Palma aumenta a frequência em sala de aula e a concentração do aluno, diminui a evasão escolar e retém o aprendizado. Muitos adultos aprendem, mas acabam não exercitando. O programa gera um grande impacto na autoestima dos alunos”, disse ao Porvir o matemático José Carlos Poli, idealizador do projeto e presidente da IES2, startup que criou o aplicativo. Ele expõe os dados de impacto social baseado em pesquisas feitas com 300 alunos da rede pública que testaram o programa. O uso da tecnologia no processo de alfabetização também aumenta o tempo de estudo e fomenta a autonomia do aluno.

Itatiba lançou oficialmente o programa em agosto deste ano, depois de dois anos de experiências e testes. O projeto também é aplicado a 30 alunos da EMEB Cel. Manoel Joaquim de Araújo Campos, onde faz sucesso entre os alunos. Eles dizem que o software é “muito bom” e que “é possível aprender brincando”. “Giz e lousa já eram”, segundo a coordenadora pedagógica da escola, Angela Ivete Ramos.

 
Ao todo, a cidade atende 83 estudantes, incluindo alunos de 1º a 9º ano que precisam de reforço no processo de alfabetização e um estudante com síndrome de down. Projetos pilotos com o Palma também ocorrem em outros sete municípios, entre eles Campinas (SP), Franca (SP) e João Pessoa (PB), onde foi montada uma sala de aula em uma obra de construção civil.

“O Projeto Palma é importante como uma ferramenta para auxiliar no processo de alfabetização e ao mesmo tempo promove a inclusão digital para aquelas pessoas que não são familiarizadas com tecnologia”, comentou, através da assessoria de imprensa, Fatima Polesi Lukjanenko, secretária municipal de educação Itatiba.

O aplicativo

Seguindo recomendação da Unesco de utilizar tecnologia móvel para obter melhores resultados na escola, o Palma engloba um conjunto de aplicativos que combina sons, letras, imagens e envio de dados. Há cinco níveis de dificuldade: alfabeto, sílabas simples, sílabas complexas, universo vocabular e leitura e compreensão de textos. No tablet, é possível até mesmo aprender a escrever utilizando o touch screen, que indica exatamente o movimento de escrita que deve ser feito a cada letra letra.

Em cada fase há testes que avaliam continuamente o progresso do aluno, gerando automaticamente um relatório ao professor responsável. Isso permite não só um acompanhamento individual e específico sobre cada uma das dificuldades detectadas, como também respeita o tempo de aprendizagem de cada estudante. Ao todo, são 4.331 atividades de fixação, de avaliação e jogos.

 

“Respeitar a velocidade de cada um é fundamental”, avalia Poli. “O Palma muda a vida das pessoas”. Segundo suas definições pedagógicas, o Palma tem como base a abordagem sintética da alfabetização, cujo princípio consiste em ir do simples ao complexo. Ele prevê o desenvolvimento da consciência fonológica através da ligação simbólica entre letras e sons da fala e da percepção das diferenças entre as letras e consciência dos sons da fala. As palavras-chave e o vocabulário utilizado no programa seguem recomendações do MEC (Ministério da Educação) e foram escolhidas com base nas diferenças regionais do país.

“Acreditamos que as tecnologias aliadas a metodologias eficazes são capazes de potencializar a aprendizagem, aumentar a autoestima das pessoas, causando grandes transformações”, afirma Maristela Guanaes, responsável pelo marketing do programa.

Uma versão demo do aplicativo está disponível por R$ 2,50, mas o projeto caminha para se tornar mais completo e com maior alcance. A ideia é promover parcerias em que o poder público compre os aparelhos celulares e a empresa forneça o software com capacidade para cinco alunos por R$ 40. Apesar de o modelo comercial ainda não estar completamente definido, a expectativa é atingir 5 mil usuários em 2015. Outro plano para os próximos meses é abarcar também o ensino básico de ciências e matemática no aplicativo.

Para usar o Palma em sala de aula, os professores passam por um treinamento rápido, de apenas quatro horas, mas segundo educadores que já experimentaram o aplicativo é fácil e bastante intuitivo. Em um país em que o índice de analfabetismo da população é de 8,5% em 2013, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), métodos tecnológicos para ajudar no aprendizado de adultos são bem vindos. “Só de ser voltado a EJA e pessoas com Síndrome de Down, um público frequentemente esquecido pelas políticas públicas, já é de grande importância”, diz a coordenadora Angela Ramos.

A ideia de usar o celular para alfabetizar surgiu a partir da constatação de que grande parcela da população possui um aparelho celular atualmente. “Percebi que todas as pessoas sabem usar o celular. Imaginei que se essas pessoas fazem ligações usando algarismos de 0 a 9, poderiam associar letras aos números. Como sou matemático, criei um programa que combina números com letras, imagens, sons e símbolos. Concluí que seria importante que, quando terminasse a aula, os alunos pudessem continuar suas lições em casa, no ônibus, em qualquer lugar”, conclui José Poli.

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