No Dia Mundial da Alimentação, uma iniciativa lançada hoje (16) por órgãos governamentais e não governamentais pretende inserir nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a preocupação com a alimentação sustentável que, além das vantagens à saúde, traz benefícios sociais, ambientais e econômicos. O projeto, chamado Rio Alimentação Sustentável, traz uma lista de recomendações que começam na hora de comprar os produtos. As dicas são priorizar pequenos e médios produtores do estado do Rio, dar preferência a produtos orgânicos e escolher os que são provenientes de áreas não desmatadas.
Priorizar pequenos produtores, preferir produtos orgânicos e escolher os provenientes de áreas não desmatadas são algumas das dicas do projeto Rio Alimentação Sustentável, lançado nesta quinta (16/10). Foto: Maurilio Cheli/SMCS (Curitiba, 27/05/14)
Segundo o analista de Políticas Públicas da organização não governamental WWF, Frederico Soares, os primeiros passos já foram dados e incluem obter um comprometimento do Comitê Olímpico Rio 2016 com o relatório lançado hoje. O objetivo é reunir entidades públicas e privadas em grupos de trabalhos sobre como organizar a cadeia produtiva desses produtos para atender a demanda do evento: "Vai ser fundamental um processo de transformação das cadeias de valor, porque hoje elas não têm condições de atender a uma demanda dessa escala. Temos um trabalho bastante árduo pela frente".
A iniciativa foi lançada na sede do Comitê Olímpico Rio 2016, no centro do Rio, em conjunto com o documento sobre alimentação na competição Taste of the Games (O Sabor dos Jogos). Além de ONGs como a WWF e a Planeta Orgânico, assinam a iniciativa órgãos como o Ministério do Meio Ambiente, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Sindicato de Bares e Hoteis do Rio de Janeiro (Sind-Rio).
Para Frederico Soares, uma das principais preocupações em organizar as cadeias produtivas de pequenos e médios produtores de orgânicos, por exemplo, significa fortalecer esse mercado para depois dos jogos. "A gente não deseja atender somente à demanda dos jogos. O nosso enfoque é transformar a realidade desse mercado e a consciência do cidadão".
Além de recomendações, o relatório indica problemas que existem em cadeias produtivas de 15 tipos de alimentos, apontando quais são as metas mínimas e as desejáveis, além de explicar qual é o critério para considerá-las sustentáveis. Um exemplo é a cadeia produtiva dos grãos arroz, feijão e milho, em que é classificado como mínimo adquirir produtos de quem produz em conformidade com as legislações ambientais e trabalhistas, de quem eliminou a exploração de trabalho infantil e também a contaminação por produtos químicos e biológicos. Já como desejável é apontado valorizar a agroecologia, a agricultura orgânica e familiar, gerando renda para pequenos e médios produtores.
"Quando você planta e aquele alimento vai parar no lixo, você gastou água em vão, desmatou em vão, usou petróleo em vão para transportar e poluiu o meio ambiente, porque cada quilo de alimento desperdiçado gera 400 gramas de gás carbônico", afirma Luciana Quintão
Além do comitê organizador, Frederico conta que também estão sendo feitos contatos com os patrocinadores dos jogos. "Eles estão cientes desse movimento que estamos fazendo e estamos tentando trabalhar junto deles. Para que boas práticas sejam estimuladas nas cadeias em que estão inseridos".
Agrônoma e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Regina Celi Coneglian, acredita que as preocupações com sustentabilidade na alimentação são um caminho sem volta na sociedade, que tende a se conscientizar mais sobre o assunto: "Isso cada dia vai aumentar mais. O número de produtores orgânicos e produtores que trabalham com produção integrada está crescendo muito e o produtores estão se conscientizando que dessa forma podem melhorar sua renda".
Uma das preocupações referentes à sustentabilidade alimentar se refere ao desperdício, que continua sendo um desafio para a população mundial. A Organização das Nações Unidas estima que, até 2050, a demanda por alimentos deve crescer 60% pela mudança de estilo de vida e renda nos países emergentes e também pelo crescimento populacional. De acordo com a ONU, o desperdício chegou a 1,3 bilhão de toneladas de comida em 2011, ou um terço da produção mundial, enquanto 800 milhões de pessoas ainda sofriam com a fome.
Em São Paulo, a organização não governamental Banco de Alimentos, que promove ações contra o desperdício, fez hoje um ciclo de palestras e a presidente e fundadora da organização, Luciana Quintão, destacou que o modo de consumir diz muito sobre a sociedade e que o alimento, como produto, tem interface com tudo o que é humano: "Quando você planta e aquele alimento vai parar no lixo, você gastou água em vão, desmatou em vão, usou petróleo em vão para transportar e poluiu o meio ambiente, porque cada quilo de alimento desperdiçado gera 400 gramas de gás carbônico", afirmou, ilustrando que o desperdício de comida do brasileiro seria suficiente para alimentar diariamente 20 milhões de famílias com seis refeições diárias. "Nosso desperdício é imenso. É uma agressão social".