No Cariri cearense, região que registrou 220 feminicídios nos últimos dez anos, segundo dados do Movimento Frentes das Mulheres do Cariri, as mulheres continuam sofrendo com a falta de medidas que combatam esse tipo de violência. Mas, a cada dia, é mais intensa a luta delas por mudanças. “As dificuldades são imensas, mas a luta por políticas públicas e por alternativas para que tenhamos vida em abundância tem muita beleza”, disse Verônica Carvalho. Segundo ela, discutir essa realidade é fundamental para fortalecer a luta contra a opressão de gênero.
Fome, pobreza e tráfico de mulheres são temas de seminário. Foto: Juca Varella/Fotos Públicas (05/09/2014)
Verônica é uma das participantes do Seminário Internacional Mulheres: Fome, Pobreza e Tráfico Humano, promovido pela Cáritas Brasileira, organização humanitária vinculada à Igreja Católica. A iniciativa integra a campanha internacional Uma Família Humana: Pão e Justiça para Todos, também articulada pela Cáritas e com parcerias da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Pastoral da Mulher Marginalizada e da entidade norte-americana Catholic Relief Services.
Na programação do seminário estão previstas palestras, grupos de discussões e atividades culturais que buscam evidenciar a situação das mulheres na América Latina. Segundo a vice-presidente da Cáritas Brasileira, Anadete Gonçalves, “a ideia é falar da fome, da pobreza e do tráfico, a partir de um olhar feminino, para com isso construir uma plataforma com propostas de políticas para a equidade de gênero”.
Logo na abertura do evento, a professora da Universidade de Brasília (UnB) e integrante da coordenação da Rede Ibero-Americana de Prevenção e Cidadania de Pessoas em Situação de Violação de Direitos, Maria Lúcia Leal, disse que as mulheres sofrem mais com a pobreza, mesmo quando estão inseridas no mercado de trabalho formal, onde elas trabalham mais, mas ganham menos proporcionalmente que os homens. “A pobreza tem que ser explicada pela questão das desigualdades, que precisam ser descortinadas”, defendeu.
“Para as mulheres, a realidade de carência é mais aguda, já que realizam inúmeras atividades que não são remuneradas, o que faz com que muitas vezes sejam dependentes financeiramente”, disse Maria Lúcia, para quem o cuidado da casa e da família são exemplos de atividades não pagas. Conforme a professora, é preciso entender que a pobreza está relacionada à forma de organização social e envolve, além da questão da renda, as diversas desigualdades, a exclusão social e a exposição das mulheres a situações de vulnerabilidade.
Uma dessas situações é o tráfico de pessoas. Segundo a pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Márcia Maria de Oliveira, os últimos anos registraram aumento do tráfico de mulheres, que, de acordo com ela, têm sido levadas a migrar para fugir de situações de dominação, por causa das mudanças no mundo do trabalho, ocorridas após a crise econômica mundial ou, especialmente, devido à crescente indústria internacional do sexo, “setor da economia que mais cresceu em plena crise”, destacou.
A situação é mais comum do que se imagina, segundo a CNBB, que este ano fez do tráfico humano o tema da Campanha da Fraternidade. Participante do seminário, o representante da entidade, dom Leonardo Ulrich Steiner, disse que ficou “admirado com quantas pessoas nos buscavam para dar testemunhos de alguém que já foi explorada ou traficada”. Com as discussões, “eu creio que quando chega um convite para ir para o exterior, as pessoas agora ficam mais atentas e com uma cautela muito maior”, avaliou.
O seminário segue até sexta-feira (17), em Brasília. O evento também conta com a Cáritas da França e Espanha, além das secretarias de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e a de Segurança Alimentar e Nutricional, do Ministério do Desenvolvimento Social.