Segundo o dicionário Houaiss da língua portuguesa, a palavra museu se refere a uma “instituição dedicada a buscar, conservar, estudar e expor objetos de interesse duradouro ou de valor artístico, histórico etc.”. A partir dessa perspectiva, o modelo norte-americano de escolas Magnet [escolas públicas com currículo especializado] criou, em 2002, a Escola Magnet Museu Normal Park, em Chattanooga, no Tenneesse, nos Estados Unidos.
Lá, os estudantes – de 5 a 14 anos – se tornam autores e também curadores do seu processo de aprendizagem. Além da participação e intensa vivência no desenvolvimento de projetos, os alunos apresentam seus trabalhos regularmente à comunidade escolar e do entorno: a cada nove semanas, todos apresentam os resultados do que fizeram como uma exposição de museu. Nestas visitas à escola, as pessoas da comunidade podem opinar sobre os projetos, sugerir novas intervenções e até disponibilizar seu apoio, encontrando formas para contribuir com os processos pedagógicos da instituição.
Escola se transforma em museu de aprendizados. A cada nove semanas, alunos no Tenneesse , nos Estados Unidos, criam exposição do que aprenderam para a comunidade. Foto: Ivan Vicencio/Free Images
Em sua missão, a escola se propõe a “cultivar sabedoria e cidadania em todos os alunos, preparando-os para o futuro e desafiando-los a descobrir-se e ao mundo”. Dessa forma, a gestão escolar e a equipe docente compartilham de valores-chave em todas suas ações: apreciação, colaboração, criatividade, descoberta, paixão pelo conhecimento e esperança. Para a instituição, é só reconhecendo o desenvolvimento individual de cada criança e de cada docente que o sucesso acadêmico se constrói. Por isso, todos têm acesso a várias possibilidades de aprendizagem, que incluem também percursos integrados ao currículo em sete equipamentos museológicos da cidade.
No lugar de ficar apenas na sala de aula, os estudantes acessam a comunidade e transitam por diferentes espaços livres da escola, que estão diariamente repletos com as suas intervenções e projetos. Para tanto, a escola oferece expositores com qualidade de museu, tanto para valorização, quanto para preservação das obras dos estudantes. As paredes são todas ocupadas por murais coloridos e existem variados espaços de intervenção dos alunos, garantindo que eles possam comunicar suas experiências e efetivamente fazer parte do espaço.
Paralelamente, artistas da comunidade são regularmente convidados a expor suas obras na escola, com momentos abertos ao público geral, mas especialmente priorizando o envolvimento da comunidade escolar e a relação delas com o trabalho pedagógico da instituição.
Currículo
Para a escola, a chave do processo curricular está na colaboração, tanto entre professores e estudantes e entre estudantes, quanto com as instituições da comunidade. Por isso, semanalmente, todos participam de expedições curriculares pelos museus parceiros, como o Museu Hunter de arte americana, o Aquário do Tennessee, o Centro de História, o Zoológico e o Centro Natural de Chattanooga, o museu de Descobertas Criativas e o Centro Cultural Bessie Smith. Além da visita, o diferencial é que a escola planeja conjuntamente com as equipes educativas das instituições o percurso a ser feito. Nos espaços, os estudantes participam de atividades que dialogam diretamente com o que o aluno está desenvolvendo em sala de aula.
Normalmente interdisciplinares, as experiências nos museus se relacionam também com os projetos e temas das exposições dos alunos. Para complementar o aprendizado, a escola aciona outros parceiros da comunidade, como o tribunal de justiça, o centro de artes da cidade, teatros e parques locais.
Tanto nas expedições à comunidade, quanto nas aulas na escola, a proposta é a de fortalecer a autonomia do estudante, incentivando-o a manter o desejo de aprender ao longo da vida. Para tanto, o corpo docente trabalha em módulos trimestrais e aprendizagem por problemas, apresentando o resultado final como ponto de partida da investigação acadêmica. As questões disparadoras têm sempre uma relação com a comunidade, com os temas da juventude ou com o que as instituições parceiras discutem.
Amparada por tecnologia, a escola faz uso de lousas digitais de aprendizagem e de notebooks encorajando a interação e colaboração entre os envolvidos. Mas, além dos recursos digitais, os estudantes mantém diários de bordo, nos quais são convidados a descrever o que aprenderam, suas dúvidas e questionamento sobre o currículo e o programa escolar. Estas reflexões auxiliam – trimestralmente - a Normal Park a rever sua proposta pedagógica. A instituição apoia o acompanhamento personalizado do docente com seus alunos.
Além disso, a escola trabalha com aulas de escrita estimulando, inclusive, a publicação dos trabalhos dos estudantes; aulas de modelos matemáticos em um método que associa a ciência às questões do mundo contemporâneo; leitura guiada em sala de aula, tanto em grupos, quanto individualmente, incentivando o debate na compreensão de textos; e uso constante de laboratórios de ciências, apoiando a experimentação e o “aprender fazendo”.
Avaliação
A Normal Park trabalha com múltiplos recursos avaliativos. Embora existam provas, elas têm a função de orientar o professor no acompanhamento do estudante. No lugar, os meninos e meninas se autoavaliam a partir dos seus portfólios. Já seus trabalhos, expostos à comunidade, recebem críticas, sugestões e apreciação de terceiros; tudo sempre na perspectiva da colaboração.
Durante todo o processo, o educador indica as expectativas de aprendizagem aos estudantes, tornando-os copartícipes do processo.
Como atividades complementares, os estudantes podem participar de oficinas de teatro (tanto em atuação, quanto em produção cênica), dança, artes visuais, banda de fanfarra, banda de jazz e coral.