Dialogar é uma característica vital do ser humano em todas as fases da vida e começa com a escuta. Mas existe uma diferença entre ouvir e escutar: ouvir é uma capacidade biológica do sistema auditivo, a captação dos sons provenientes da nossa interação com o meio que, na cóclea, são transformados em impulsos elétricos neuronais e encaminhados ao córtex cerebral onde acontece a decodificação.
Escutar vem do latim, auscultar, que significa “ouvir com atenção, perceber além das palavras”. Portanto, para escutar é preciso compreender e processar, dentro da alma, o que está sendo captado pela audição. É uma atitude de respeito, acolhida e aceitação do outro. Falar é uma necessidade, escutar é uma arte!
Para aperfeiçoar nossa capacidade de escutar podemos: perder nossos pensamentos, sentimentos, planos; para sentir com o outro; oferecer a nossa completa atenção e interesse, que exprimimos também pelo contato visual, pela postura do corpo, expressão do rosto; aceitar o outro sem julgamentos; acolher a diversidade como possibilidade de enriquecimento; vencer a tentação de, mentalmente, ir preparando uma resposta para não criarmos duas conversações simultâneas, porque a segunda, mesmo se silenciosa, cria interferência, impedindo-nos de compreender realmente o outro, e dar espaço sem interromper, porque uma interrupção bloqueia o processo comunicativo. A nossa capacidade de escutar e acolher influencia diretamente na qualidade da comunhão do outro.
Para aperfeiçoar nossa capacidade de comunicar podemos: falar como nos sentimos sem criticar ou culpar o outro; comunicar os próprios desejos e expectativas, sem esperar que o outro leia nossos pensamentos; ser claros na mensagem; cuidar para que as mensagens que enviamos com as palavras não sejam contrariadas pelos nossos gestos e atitudes; procurar superar a reação emocional para responder com consciência; evitar afirmações absolutas como nunca, sempre... e buscar os pontos positivos do outro.
É impossível não se comunicar. Comunicamos em todos os momentos, com ou sem palavras, por meio de emoções, expressões, gestos, olhares, silêncios...
A comunicação interpessoal possui dois níveis típicos: um mais superficial, geralmente bom e necessário, limitado aos aspectos das rotinas do dia a dia, quando falamos dos estudos, do trabalho, dos amigos, das notícias, daquilo que é externo. Outro mais profundo, em que nos confrontamos segundo a vivência das próprias experiências interiores, que devem ser compartilhadas com delicadeza, sem nos perdermos em detalhes inúteis e um assunto por vez. Este tipo de comunicação é mais difícil, porém, é a dimensão mais madura do diálogo. Para construirmos relacionamentos saudáveis, é importante que a nossa comunicação seja um ato de amor. Então, precisamos verificar se conhecemos o outro e a nós mesmos e respeitamos as nossas diferenças, que vão muito além das nossas opiniões; se o que vou falar é necessário; se o momento é adequado; se consigo dizer com amabilidade.
É o amor que torna possível o diálogo porque o diálogo é dom de si, reciprocidade, encontro. Alguns estudos demonstram que uma boa capacidade de comunicação dialógica, especialmente intergeracional, traz benefícios mútuos valiosos: estimula a memória e a linguagem, os mais jovens desenvolvem melhor as habilidades socioemocionais, os mais velhos, têm menores chances de desenvolver transtornos mentais e cognitivos, ambos adquirem novos aprendizados e uma perspectiva positiva e adaptativa diante dos desafios da vida... É fundamental para o equilíbrio psíquico, para o amadurecimento pessoal, conjugal, familiar, profissional... para sermos instrumentos de fraternidade e de paz, pois aumenta o conhecimento e o reconhecimento, a confiança, a liberdade e a estima recíproca.
Matéria originalmente publicada pela Revista Cidade Nova, edição de outubro/2024.
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