“Por outro lado, caríssimos, viver por algo mais ou menos, viver ajoelhados ou sentados na frente da televisão por horas e horas, viver somente para ouvir música, para dar um passeio com os amigos, é muito pouco para um jovem que tem somente uma vida. Convém viver por algo maior. Deus oferece algo grande. Cabe a vocês aceitá-lo.” Esta frase de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, expressa bem o sentimento que surgiu em um dado momento da minha vida. Estudava, saía com os amigos, estava engajado em muitos grupos e movimentos da Igreja, mas faltava um propósito bem definido pelo qual valesse viver. O meu encontro com o carisma da Unidade me fez abrir os olhos para uma realidade nunca imaginada. O Evangelho que eu pensava conhecer com o intelecto era verdadeiro, vivo e dinâmico. Diante dos momentos de crise, reconhecer que Deus me amava imensamente despertou o desejo de viver por Ele e trabalhar para cumprir a sua Vontade: o Mundo Unido.
Depois de ingressar nesta aventura, tudo ganhou movimento por meio de experiências mais ou menos fáceis, mas sempre motivadas por aquele sonho. Lembro que anos antes, mesmo sendo impulsivo e às vezes duro, procurava ouvir meus amigos e estar perto deles até quando não era recíproca a atenção e a escuta. Havia ganho alguns livros que pra mim representavam muito: um continha experiências do Evangelho vivido por pessoas do mundo inteiro e comentários de Chiara Lubich e se chamava "Palavras Vivas"; outro falava do silêncio, não só o das palavras, mas também interior. Ali, em meio aos conflitos de interesse e confusões próprias da adolescência, podia compartilhar com os demais as ferramentas que estava aprendendo para viver bem.
Foi uma longa caminhada de contato com as pessoas, encontros com jovens da minha e de outras cidades para partilhar a vida, para correr sempre mais na direção daquele sonho que anos antes havia escolhido como meu. No ano de 2017, fui aprovado na Universidade em Recife e, a partir dali, longe da família e da vida pacata do interior, mais um salto aconteceria. Por algum motivo, Deus havia me dado coragem para deixar tantas coisas: pais, amigos, o lar, as atividades na paróquia.
Na nova cidade, comecei a me encontrar com alguns jovens do Movimento dos Focolares para aprofundar sempre mais aquele estilo de vida. No início, percebi um contraste: não era sempre tudo alegre, festivo e dançante como eu imaginava e por isso tinha sido atraído. Contudo, Deus me chamava para viver com esta nova família, abraçando alegrias e dores, mas com uma grande diferença: a Sua presença entre nós. Dessa realidade, muita coisa nasceu. Pude viver coisas grandíssimas e com elas o empenho de continuar construindo o Mundo Unido, fosse com as crianças ou com os jovens. Sentia que aquele modo de viver me impulsionava a estar sempre projetado para fora e doar tudo aquilo que eu vivia e aprendia.
Em 2018, por exemplo, pude trabalhar na minha comunidade em prol do Genfest local que realizamos na cidade de Campina Grande, paralelo à grande jornada que os jovens do mundo realizavam em Manila, nas Filipinas. Levamos uma grande quantidade de jovens que puderam experimentar durante dois dias um laboratório do mundo unido e fraterno que tanto comentávamos.
Em 2020, fui convidado a acompanhar a juventude na minha região, que incluía o meu Estado Pernambuco, mas também a Paraíba e o Rio Grande do Norte. No início, me senti incapaz, mas confiei que tudo correria bem. Não sabia eu que meses depois enfrentaríamos uma pandemia que deixaria a todos incapacitados de se encontrar e fazer muitas coisas. Ali, tudo parecia desmoronar, pois como faríamos para encontrar os jovens? As estratégias pareciam limitadas, porém, o amor nos tornou superpotentes e muitas coisas aconteceram de forma online e também presencial, nas famílias, hospitais, nos contatos feitos por telefone. Aquilo que aparentava ser um empecilho, tornou-se uma ferramenta para aproximar mais as pessoas.
Alguns anos se passaram e aqui estou eu, cheio de tantas histórias pra contar e ansioso para escrever muitas outras. Mesmo perante os desafios, posso dizer que vale a pena viver assim. Agora me preparo para o próximo Genfest que, dessa vez, reunirá os jovens do mundo aqui no Brasil para estarmos "Juntos para Cuidar". De fato, há muito o que ser cuidado, a começar por nós e por aqueles que estão ao nosso redor. Não posso ter medo das feridas e dos feridos que encontro pelo caminho. O trabalho tem sido unir forças na minha cidade para alcançar mais jovens, mas também propagar isso para os outros Estados, criando redes e compartilhando os dons que possuo e que cada um também pode oferecer. Também me empenho de forma concreta na construção da Segunda Fase do Genfest, uma grande celebração de ações e experiências que acontecerá em Aparecida em julho de 2024. De ofertas grandes e pequenas, conseguiremos fazer um grande festival e poder gritar nos telhados: o mundo unido é possível! Viva por Ele!
Cf. LUBICH, Chiara, Resposta aos Jovens por um Mundo Unido, 1989.