AS ELEIÇÕES passaram. Arriscamos dizer que sobrevivemos à talvez mais tensa disputa da história brasileira. Nessas condições, o que virá agora? Bem, os novos governos só tomam posse em janeiro, e as câmaras legislativas começam os trabalhos em fevereiro. Então, há quem diga que aí vai começar o “terceiro turno” das eleições, ou seja, continuaremos a presenciar e até a viver uma tensa disputa entre governo e oposição não só em âmbito federal, mas também no estadual. Como viver, com o nosso protagonismo, essa nova etapa?
Sempre arriscando, sugerimos aqui algumas atitudes, adquiridas da experiência, que podem ajudar a construir uma política mais fraterna e melhor, que possa mesmo contribuir para o bem comum e, principalmente no caso do Brasil, para o suporte e o respeito aos menos favorecidos.
Uma grande contradição em uma disputa polarizada como a que vivemos é que não conseguimos conceber que o apoiador do candidato adversário pense dessa maneira. Tentamos chamar a atenção dele para o que nos parece óbvio: que o candidato dele é um bandido, um patife, um salafrário e outras coisas que não se publicam em uma revista como a Cidade Nova, e que o nosso é a única salvação para o Brasil. O resultado é que, entre nós, não há mais diálogo, e cada um segue convicto o seu caminho.
Nesse ponto, sugerimos observar Brasília. Talvez lá esteja o lugar verdadeiramente mais democrático do país: a cafeteria do Congresso Nacional. Todos, ou quase todos, os parlamentares (talvez alguns não gostem de café) são forçados a se encontrar lá. E parece que conversam alguma coisa, porque, se observarmos a história do Brasil, há políticos que, alguns anos atrás, juravam fidelidade a um lado e hoje estão com outro. Os quase inimigos do passado podem ser, no futuro, aliados até a morte.
Isso nos chama a uma reflexão: se os políticos são assim, por que eu não posso fazer o mesmo com meus parentes e amigos com quem rompi os laços por causa de preferências políticas? Nossos representantes reatam relações; por que nós não fazemos o mesmo?
Ah, sim, é porque eu sei que este caminho é o melhor para o país, enquanto aquele meu ex-colega pensa diferente. Certo, não vamos mudar nossa opinião nem renunciar às nossas convicções, mas vamos expô-las e não as impor, sabendo que o outro poderá querer me contradizer e nunca vai concordar comigo, e isso é direito dele!
Para que esse diálogo exista de fato, sem maiores constrangimentos, uma dica que parece ser muito útil é fazê-lo ao vivo, pessoalmente, cara a cara. Nossa experiência mostra que, quando nos colocamos presencialmente diante de outra pessoa, somos mais respeitosos, ponderados e até educados. É o comportamento oposto do que se verifica nas conversas por WhatsApp, em que, muitas vezes, até por preguiça, para justificar minha opinião, em vez de escrever minha ideia, prefiro postar um texto ou um vídeo que recebi de um amigo super confiável. E aí, a imagem é linda, mas o conteúdo é uma enorme fake news ou, mesmo que não seja, deixa meu interlocutor profundamente irritado. E assim ele sai do grupo e da convivência.
Essa briga on-line foi facilitada pela pandemia e contribuiu para o aumento da tensão pré-eleitoral. Mas agora, que estamos retomando os hábitos anteriores, por que não voltar à conversa pessoal, para expor opiniões e evitar mal-entendidos? Tomar um cafezinho juntos, como fazem os políticos no Congresso, é prazeroso e pode ser inspirador.
Por fim, nós sempre temos de superar um mau hábito que já existia muito antes destas eleições: o de achar que nenhum político presta. Você pode até ter fortes indícios de que essa hipótese está correta, mas a consequência dela é muito danosa para você e para todos nós. Quem pensa assim costuma fugir da política, não se interessa em buscar bons candidatos e, muitas vezes, nem se dá ao trabalho de votar. E assim os maus políticos (sim, eles existem, não somos ingênuos!) podem se perpetuar no poder, porque ninguém os contesta. Azar o seu.
Bem, uma informação muito importante, que deve ficar clara para você não cair em depressão, é que todos nós somos diferentes uns dos outros. Então, se você não é candidato, nunca vai encontrar um político que seja 100% do jeito que você sonha, com os comportamentos, o histórico e as propostas que você deseja. Mas certamente há aqueles que defendem uma pauta com a qual você se identifica: são honestos, estão comprometidos com o bem comum, defendem a vida de todos e trabalham mesmo pelos mais necessitados, pelos esquecidos da sociedade. Nem sempre esses políticos falarão ou votarão do jeito que você esperava, mas certamente você se sentirá mais perto da atuação deles do que da de outros.
Se é assim, procure acompanhar esse político. Envolva a sua comunidade nesse protagonismo e, com ela, dentro do espaço público, ao lado desse eleito, exerça a cogovernança. Veja o que ele faz e o que podemos fazer, sugira propostas e também cobre dele. E não é para cobrar jogo de camisas para o time da firma! É para confirmar que o que ele faz beneficia mesmo o povo. É para ter a certeza de que a escola que ele quer construir na sua cidade vai ser mesmo algo importante para a população, e não um prédio inacabado que vai deixar os professores sem receber salário. Se você conseguir estabelecer um mínimo de contato com um político desses, junto com a sua comunidade, pode ter certeza de que vai descobrir como a política é um trabalho muito árduo e também a melhor ferramenta que existe para melhorar o mundo. Por isso mesmo, como toda ferramenta, ela pode ser usada muito mal, se nós não nos percebermos corresponsáveis e capazes de cuidar para que o seu resultado alcance todas as pessoas de maneira fraterna.
Por Airam Lima Jr.1 e Flávio Del Pozzo2
1) Jornalista e colaborador da revista Cidade Nova.
2) Presidente do Movimento Político pela Unidade (MPpU) no Brasil.