O Papa Francisco reconheceu, no dia 26 de maio, um milagre atribuído ao beato Charles de Foucauld. Agora, seu processo pode prosseguir para a canonização.
Foucauld não é muito conhecido, mas tem uma história de fé e conversão digna de ser contada em muitos livros. A Cidade Nova, inclusive, já publicou Charles de Foucauld – Nos passos de Jesus de Nazaré; Viajante Noturno e Irmãzinha Madalena de Jesus, esse último com a biografia de uma de suas seguidoras.
Natural de Estrasburgo, na França, Foucauld nasceu em 15 de setembro de 1858. Sua família era nobre e de tradição militar. Ficou órfão muito cedo e, por isso, morou com o avô quase toda a infância e adolescência. Estudou nas melhores escolas militares e ainda muito jovem tornou-se subtenente do exército francês. Foi quando também acabou perdendo a fé e viveu uma vida desregrada e vazia.
Tal estilo de vida o fez deixar o exército com apenas 25 anos de idade. E aí começa a sua história de transformação. Foucauld escolheu o norte da África para recomeçar e ali viveu uma vida simples e pobre entre a comunidade, desenhando mapas e esboços.
Com pouco mais de 30 anos foi arrebatado pela fé cristã e ingressou como noviço no mosteiro trapista de Nossa Senhora das Neves. Mas no anseio de uma vida ainda mais radical, largou tudo e foi para a Terra Santa.
Depois de algumas idas e vindas entre a França e a Terra Santa, Charles de Foucauld completou os estudos, recebeu a ordenação sacerdotal e voltou à África. Em Argel, viveu bem próximo aos muçulmanos e nesse período, os escritos de Foucauld revelam um entusiasta do diálogo.
Estou aqui não para converter os tuaregues de uma só vez, mas para tentar compreendê-los [...]. Estou certo de que o bom Deus acolherá no Céu aqueles que forem bons e honestos. Você é protestante, T. é agnóstico, os tuaregues são muçul- manos, mas estou convencido de que Deus receberá todos, se merecermos... (apud Lehureaux, 1946, p. 115).
Foucauld tornou-se um eremita muito querido da população local. Em 1904 já havia traduzido os quatro evagelhos na língua dos tuaregueses, povo nômade do deserto, e morava em uma cabana.
Foi então que veio a guerra entre a Turquia e a Itália, a partir de 1912. E em 1916, Charles de Foucauld foi assassinado com um tiro na cabeça por um adolescente em uma tentativa de roubo e sequestro.
A vida de Foucauld deu início aos Irmãozinhos e Irmãzinhas de Jesus.
A Cidade Nova separou dez pensamentos de Foulcauld do livro “Charles de Foucauld – Nos passos de Jesus de Nazaré. Confira.
A imitação é a medida do amor [...]:
é o segredo de minha vida. Eu perdi
meu coração por esse Jesus de Nazaré crucificado há mil e novecentos anos
e passo a minha vida tentando imitá-lo,
na medida que a minha fraqueza permite.”
Eu era só egoísmo, só impiedade, só desejo do mal, esta- va como que enlouquecido... (Carta à senhora de Bondy, 17.4.1892)
É preciso que nos esforcemos para impregnar-nos do espírito de Jesus, lendo e relendo, meditando e meditando ainda, sem parar, suas palavras e seus exemplos: que eles façam em nossas almas como a gota de água que cai e recai sobre uma laje, sempre no mesmo lugar. (Carta a Louis Massignon, 22.7.1914)
É preciso ir não onde a terra é a mais santa, mas onde as almas têm maior necessidade. (Ibidem, p. 83)
Não há frase do Evangelho, acredito eu, que me tenha causado impressão mais profunda e transformado mais a minha vida do que a que diz: “O que fizerdes a um desses pequeninos, é a mim que o fareis”.
Só vejo um único bem em mim: é a vontade constante de fazer o que mais agrada ao bom Deus, sempre e em tudo [...]. Mas, na prática, quantos fracassos! (Carta a padre Huvelin, 17.9.1907)
Que, em seu amor, Ele se digne converter-me, deixar-me como Ele me quer, fazer-me amá-lo com todo o meu coração; amá-lo, obedecer-lhe, imitá-lo o quanto for possível, todos os instantes de minha vida [...]. Coração Sagrado de Jesus, que o vosso reino chegue... (Ibidem, p. 48)
Meu apostolado deve ser o apostolado da bondade; ao me verem, as pessoas devem dizer: “Sendo esse homem tão bom, sua religião deve ser boa”.
Para tornar conhecido o santo Evangelho, estou pronto a ir até o fim do mundo e a viver até o julgamento final. (Carta a dom Guérin, 27.2.1903)
O islamismo produziu em mim uma profunda reviravolta... Ver essa fé, essas almas vivendo na contínua presença de Deus fez-me entrever algo maior e mais verdadeiro do que as ocupações mundanas. Comecei a estudar o islamismo e, depois, a Bíblia. (Carta a Henry de Castries, 8.7.1901)