Como gerir o pânico do Coronavírus?

Publicado originalmente no site da revista Città Nuova no dia 29 de fevereiro deste ano, o artigo a seguir não só corresponde à proposta desta seção, como se mostra relevante e atual para o público brasileiro

por Luís Henrique Marques   publicado às 00:00 de 14/04/2020, modificado às 14:34 de 14/04/2020

Por Angela Mammana

Como todas as emoções, o medo tem uma função adaptativa: nos ajuda a estar no mundo e a sobreviver diante de possíveis perigos. O medo funciona bem diante de situações emergenciais, mas, se se tornar excessivo em comparação com os riscos objetivos, pode se transformar em pânico e, assim, acabar nos prejudicando. Diante da recente disseminação do vírus Covid-19, o Conselho Nacional da Ordem dos Psicólogos da Itália publicou um documento com o objetivo de ajudar a evitar que o medo seja desproporcional e crie formas de ansiedade individual e de pânico coletivo.

Apresento alguns pontos do documento para refletir sobre dinâmicas que nos envolvem, seja do ponto de vista subjetivo, seja do ponto de vista social.

●      Ater-se aos fatos, isto é, ao perigo objetivo. O Coronavírus é um vírus contagioso, mas como sublinhou uma fonte da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 100 pessoas que ficam doentes, 80 se recuperam espontaneamente, 15 têm problemas administrados no ambiente sanitário, somente 5 têm problemas mais graves e, entre esses, as mortes são cerca da metade, acontecendo, em geral, com sujeitos portadores de outras importantes patologias.

●      Não confundir uma causa única com um dano colateral. Muitas mortes não são causadas somente pela ação do Coronavírus, assim como aconteceu e acontece com outros tipos de gripe que provocam mais mortes. Até agora, os falecimentos ligados ao Coronavírus são estimados no mundo como cem vezes inferiores àqueles que se estima causados a cada ano por influência da gripe comum.

●      Se o pânico se torna coletivo, muitos indivíduos se sentem ansiosos, desejam agir e fazer alguma coisa para diminuir a ansiedade, e isso pode gerar estresse, comportamentos irracionais e pouco produtivos.

●      Ser pego pela ‘infecção coletiva de pânico’ nos leva a ignorar os dados objetivos e nosso julgamento pode enfraquecer.

●      Desejando fazer qualquer coisa, muitas vezes, acabamos fazendo coisas erradas e ignorando ações simples e de proteção, aparentemente banais, mas muito eficazes, que estão no site da OMS.

●      Em linhas gerais, emoções demais impedem o raciocínio correto e a capacidade de ver as coisas em uma perspectiva justa e mais ampla, ou seja, alargando o espaço-tempo com o qual examinamos os fenômenos.

●      É difícil combater as emoções com a razão, porém é bom tentar se basear em dados objetivos. A regra fundamental é o equilíbrio entre o sentimento de medo e o risco objetivo.

●      A indignação pública costuma acentuar alguns medos. Estamos preocupados com a nossa vulnerabilidade e a dos nossos entes e buscamos nos tornar invulneráveis. Mas a busca obsessiva pela invulnerabilidade é contraproducente, porque nos faz excessivamente medrosos, incapazes de enfrentar o futuro, uma vez nos tornamos muito fechados em nós mesmos.

A TV e as redes sociais nos submergem em uma maré de informações de todo tipo sobre o Coronavirus: verdadeiros especialistas, especialistas improvisados, pessoas que relatam ter ouvido ou ter lido algo. Deve ser bloqueado ou ignorado o estado de “alarme psicológico permanente” que alimenta a percepção dos riscos e, assim, o impulso em buscar obsessivamente informações mais tranquilizadoras. Encontrar a justa medida entre subestimar e superestimar o risco é buscar uma forma equilibrada de enfrentar o cotidiano.

Concluindo, me parece que emergem três aspectos que podem nos ajudar: pensamentos fundamentados em dados objetivos e fontes confiáveis, comportamentos responsáveis e saudáveis e a busca de uma “segurança interna”, que controle o medo e que dê um pouco de tranquilidade.

 

Versão em português: Luís Henrique Marques.

A autora é psicóloga e coach humanista, docente de Psicologia Geral junto à Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade de Roma “Tor Vergata”. É também membro da comissão internacional do grupo Psicologia e Comunhão.