Foto: Mayke Toscano/ Secom-MT
Há muitos anos que os pecuaristas são vistos como os vilões do desmatamento da Amazônia. Isso ocorre porque grande parte das áreas abertas virou pastagem para a produção agropecuária de grandes, médias e pequenas propriedades. Muitos colonos agora enfrentam uma legislação ambiental mais rígida e uma lógica mundial diferente sobre o destino da maior floresta tropical do planeta. Se o lema antes era ocupar, agora é conservar. E isso é um desafio para as pessoas que atualmente ocupam a região.
Diante desse problema, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) lançou um vídeo para divulgar seu estudo Subsídios para um subprograma de intensificação da Pecuária no Acre: uma análise estadual (2012). Segundo Marcelo Stabile, pesquisador do Ipam, o vídeo tem a intenção de provocar a reação das pessoas sobre as alternativas de produção para o bioma. "Queríamos mostrar de forma mais fácil e rápida o que está acontecendo na região, sem que as pessoas tenham que ler um relatório de 20 páginas para se informar. O vídeo ajuda bastante, pois é uma ferramenta que podemos mostrar em reuniões e seminários", diz Stabile.
De forma didática, o filme mostra o funcionamento do sistema de intensificação e traz dois exemplos de produtores que mudaram sua forma de atuar e hoje conseguem obter um melhor resultado com a adoção dessa tecnologia. José Izidoro é um pequeno produtor que reconhece: "antigamente era só ir desmatando e jogando capim ali dentro, era fazer quatro cercas e o gado ia viver a vida inteira lá".
Qualidade do trabalho
Hoje, após adotar práticas mais intensivas, ele diz que suas vacas que davam três litros de leite passaram para cinco a seis litros. "O que entrou na minha cabeça é que não é o tamanho da propriedade que vai fazer a produção, mas sim a qualidade do meu trabalho", explica Izidoro.
A intensificação é uma pratica que ajuda não só o produtor, mas também o meio ambiente. "Se você conseguir que esse boi em vez de ser abatido com quatro anos e meio, ser abatido com dois, você já reduziu a emissão dele pela metade", diz Stabile. Além de usar uma área menor para a produção e evitar desmatamentos, a emissão por quilo de carne no sistema intensificado é 48% menor do que o sistema tradicional. Enquanto que num sistema intensivo são emitidos 39Kg de CO2 por quilo de carne, no sistema tradicional esse valor chega a 74 kg.
Aproveitamento das áreas
O estudo realizado pelo Ipam mostra que se a produção do estado do Acre crescesse apenas 2,2% ao ano e não forem adotadas práticas de intensificação, seria necessário um desmatamento de 470 mil hectares para acomodar esse gado. Mas se apenas metade das propriedades adotarem práticas mais intensivas é possível crescer na mesma proporção, mas sem novos desmatamentos.
De acordo com Andrea Azevedo, pesquisadora do Ipam, existem hoje diversos estudos científicos apontando que a área aberta na Amazônia é mais do que suficiente para aumentar várias vezes a produção de proteína animal. "Nós não precisamos abrir novas áreas, precisamos sim é que nessas áreas que já estão abertas utilizar novas tecnologias e tecnologias que já existem, como a intensificação", diz Azevedo.