Francisco Nguyen Van Thuan nasceu no Vietnã em 1928, em uma família católica. Sua mãe, todas as noites, narrava histórias de mártires, especialmente de seus antepassados, e contava histórias bíblicas.
Aos 25 anos foi ordenado sacerdote e também se formou em Direito Canônico, em Roma, mas logo retorna ao Vietnã, onde assume como reitor do seminário. Em 67, é ordenado bispo em uma diocese no centro da cidade, onde permaneceu por oito anos, até se mudar para Saigon.
Ali começa o seu caminho de dor e de santidade. Preso pelo regime comunista, ainda no caminho para a prisão pensou: "Em minha mente surgiu claramente uma palavra que dispersou toda a escuridão, a palavra que Monsenhor John Walsh, Bispo missionário na China, pronunciou quando foi libertado depois de doze anos de cativeiro: ‘Passei a metade da minha vida esperando’. É verdadeiríssimo: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada minuto sua libertação. Porém, depois decidi: ‘Eu não esperarei. Vou viver o momento presente, enchendo-o de amor’.”
Van Thuan foi, então, mantido prisioneiro por 13 anos, dos quais 9 ficou incomunicável. Apertado entre os outros prisioneiros, não deixou de celebrar a missa um dia sequer, com vinho levado como “remédio para dores de estômago”, por seus fiéis. Fez dos companheiros de cela seus amigos, deu a eles aulas de francês e inglês e com um inocente “contrabando” de papeis escreveu três livros durante os anos de cárcere.
E já em liberdade, escreveu o quarto: “Testemunhas da Esperança”, publicado por Cidade Nova, no qual declara-se apaixonado pelos “Cinco defeitos de Jesus”.
Do alto da cruz, Jesus “esqueceu” todos os pecados daquele ladrão à sua direita para acolher o seu humilde pedido naquele momento de dor. Van Thuan escreve: “Se fosse eu, teria respondido: ‘Não vou esquecê-lo, mas seus crimes devem ser pagos por longos anos no purgatório’. No entanto, Jesus respondeu-lhe: “…hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43). Jesus esqueceu todos os crimes desse homem”.
E também “esquece” os pecados da mulher que banhou seus pés com perfume: “Seus inúmeros pecados estão perdoados, porque muito amor demonstrou” (Lc 7,47)
Van Thuan também recorda a misericórdia de Jesus ao esquecer 99 ovelhas para ir atrás daquela uma que havia se extraviado. “Para Jesus, uma pessoa tem o mesmo valor de noventa e nove e, talvez, até mais.”
Em certa passagem da Bíblia, Jesus conta que uma mulher possuía dez dracmas, perdeu uma e quando a reencontrou fez uma festa com as amigas para partilhar da sua alegria.
Se não há lógica em fazer uma festa por uma dracma, para Jesus vale a lógica do coração: “Eu vos digo que haverá mais alegria diante dos anjos de Deus por um só pecador que se converte…” (Lc 15,10).”
“O coração tem motivações que a razão desconhece”, completa Van Thuan.
Num tom bem humorado, Van Thuan relembra que Jesus não promete sustento, nem casa, nem bens materiais aos apóstolos que querem segui-lo. Chega inclusive a dizer a um dos seus seguidores: “As raposas têm tocas e as aves do céu ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).
E essa vida aventureira conquistou não apenas os doze apóstolos, como milhares e depois milhões de pessoas nesses 2 mil anos.
Van Thuan relemebra com certo humor: “Como entender um administrador que paga o mesmo salário a quem inicia o trabalho cedo e a outro que só trabalha uma hora? Um descuido? Jesus errou a conta?”
Certamente Jesus não saberia administrar bem uma empresa, mas por sua misericórdia e amor, coordenou toda a humanidade para o bem!
“Por que Jesus tem esses defeitos? Porque é o Deus da Misericórdia e Amor Encarnado. Deus Amor (cf. 1Jo 4,16). Portanto, não um amor racional, calculista, que condiciona, recorda ofensas recebidas. Mas um amor doação, serviço, misericórdia, perdão, compreensão, acolhida… Em que medida? Infinita.”
Van Thuan morreu em 2002, vítima de um câncer. Atualmente é beato da Igreja Católica.
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