"A minha vida tomou outro rumo. Eu sou fonoaudióloga, mas sempre tive vontade de trabalhar pelo social. Quando fui contratada pela secretaria de Desenvolvimento Agrário, em 2008, o trabalho para mim adquiriu um novo sentido.”
Com essas palavras Maria Sandra Araújo Bandeira avalia os últimos dez anos de sua vida profissional, período em que passou a se dedicar integralmente ao projeto das Casas Digitais, no sertão cearense.
A história toda tem início anos antes, em 2005, quando a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Ceará teve o primeiro contato com a Economia de Comunhão, em seminário realizado no estado vizinho, Pernambuco, com a presença de Luigino Bruni.
Após o evento, o governo cearense, em parceria com a EdC local, iniciou um trabalho de formação humana de agentes rurais no sertão. Mais tarde, o projeto passou a trabalhar com a formação de jovens e adultos. “Fomos visitar uma comunidade que fazia esse trabalho de inclusão digital e vimos que poderíamos multiplicar essa experiência. Montamos uma formação com questões ligadas à realidade deles, com os princípios da EdC”, relata Sandra. Surgiam, assim, as primeiras Casas Digitais.
Com o apoio de voluntários, as Casas Digitais se espalharam pelo estado e levaram a inclusão para diversas comunidades de baixa renda. Inicialmente, foram abertas sete sedes, mas, em pouco tempo, chegaram a 30.
A expansão foi possível porque os voluntários se tornaram formadores de novos voluntários, de maneira a multiplicar o raio de alcance da iniciativa. Como formadores, eles recebiam R$ 2.800 para fazer a capacitação de voluntários. “Depois de concluir as 30 casas, conseguimos inscrever mais 90 comunidades, para as quais recebemos recursos, equipamentos e mobília”. As casas também favoreciam a leitura e a alfabetização.
Além da capacitação em si, que possibilitou a diversos jovens da comunidade acesso ao ensino a distância e, consequentemente, a novas possibilidades de desenvolvimento humano e profissional, as Casas Digitais desempenharam um papel de coesão social importante onde foram implantadas.
Quando chegavam às cidades, os formadores eram acolhidos pelas famílias locais, que se mobilizavam para oferecer as melhores condições de estadia possível. Em comunidades que sofriam com a seca, as pessoas se alternavam para fornecer água aos formadores.
“Isso envolvia toda a comunidade e tinha experiências de reconciliação entre as pessoas”, conta Sandra.
Hoje, por falta de recursos, diversas Casas Digitais foram desativadas, mas as que permanecem ainda contribuem para a inclusão. “O nosso grande impacto foi fazer os jovens voltarem a estudar. Muitos fizeram faculdade a distância”, destaca Sandra.
Desde 2016, além da inclusão digital, o projeto passou a oferecer oficinas de formação empreendedora por meio de duas metodologias da Aliança Empreendedora, parceira da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão (Anpecom).
“A gente percebe que não basta a comunicação, a gente precisa dar às pessoas oportunidade de geração de renda”, conclui Sandra.