Sociedade / Educação
  

Irmãos percorrem o Brasil para distribuir doações de livros em escolas públicas

Em três anos de existência, projeto LêComigo já levou quase 4 toneladas de livros a lugares remotos do país

por Marina Lopes - Porvir*   publicado às 07:57 de 08/11/2017, modificado às 07:58 de 08/11/2017

Tudo começou durante um jantar em família. Acostumados a doar roupas e brinquedos para instituições sociais, os irmão Mateus, Maria e Pedro Caltabiano decidiram fazer algo diferente nas férias escolares de 2013. Depois de arrecadarem quase cinco mil livros com a ajuda de parentes e amigos, eles tiveram a ideia de organizar uma expedição para levar doações de caixas-bibliotecas a escolas e comunidades em áreas com pouco acesso a equipamentos públicos culturais.

Em três anos de existência, projeto LêComigo já levou quase 4 toneladas de livros a lugares remotos do país. Foto: Divulgação

Foram quase 40 dias de estrada e cinco mil quilômetros percorridos para apoiar a construção e ampliação do acervo de bibliotecas escolares municipais e estaduais. “A ideia foi unir essa ação a uma viagem de férias”, explica Mateus, 19, que diz já ter percorrido quase metade da volta ao mundo (cerca de 20 mil quilômetros) entre as idas e vindas do projeto LêComigo.

A expedição, que teve início no dia 20 de dezembro de 2013, seguiu da capital pelo interior de São Paulo em direção ao Maranhão. “Nós abríamos o mapa e olhávamos qual era a cidade com a menor letrinha. Logo no começo, nos apaixonamos por um Brasil que ainda não conhecíamos”, conta o jovem, que na época estava com 16 anos.

Com a sala de casa tomada por pilhas de livros, todos recebidos a partir de doações, Mateus e os irmãos começaram a separar os títulos em caixas-bibliotecas, que tinham cerca de 170 volumes cada. Hoje, com o apoio da mãe, Susana Foz Caltabiano, a ação deu origem a uma OSC (Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos) que utiliza a leitura como ferramenta para estimular o protagonismo de jovens de diferentes realidades culturais e sociais.

Além das tradicionais expedições para promover o acesso à leitura em diferentes regiões do país, a organização idealizada pelos jovens atua continuamente em escolas da grande São Paulo. Entre elas, a Escola Estadual Padre Antão, na Penha, e a Fernando Gasparian, no Capão Redondo.

“Levar livros e promover vivências faz os jovens perceberem que conseguem trazer novos assuntos para a sala de aula. Eles também começam a se sentir mais responsáveis pela própria educação”, garante. Afinal, o jovem ainda completa: “Aprender a ler com os textinhos dos livros didáticos pode até funcionar, mas apenas durante o primeiro mês, no máximo.”

Para montar os kits, os irmãos separam todas as doações em diferentes faixas etárias. A cada mês chegam cerca de 200 a 300 novos livros. “As escolas em lugares remotos do país recebem livros didáticos do governo, mas acreditamos que o grande lado da formação e da estimulação de uma criança acontece por meio das histórias e dos livros infanto-juvenis”, ressalta Maria, 17, ao sugerir que os títulos separados pelo LêComigo buscam criar conexões com os interesses dos estudantes.

“Tentamos plantar uma sementinha para o jovem daquela escola se conectar novamente com a leitura”, afirma a estudante, que está no terceiro ano do ensino médio e tem planos de se tornar uma escritora. “Meu sonho é escrever livros, criar mundos para que as pessoas possam viajar nas minhas histórias.”

Com experiências acumuladas a partir de expedições, que já passaram por lugares como Jalapão (TO), Fernando de Noronha (PE), Chapada da Diamantina (BA), Vale do Jequitinhonha (MG), Jericoacoara (CE), Comunidade do Anã (PA) e Avaraes (AM), os jovens já desenvolveram uma metodologia que combina atividades e dinâmicas em grupo para introduzir o projeto LêComigo nas escolas. E tudo isso com o suporte de muitas histórias. “O livro é sempre um quebra-gelo. Ele é um conector instantâneo de pessoas”, defende Maria.

A empolgação dos irmãos com as viagens também se espalhou entre os colegas de classe, que estudam ou já estudaram na Graded School, uma tradicional escola americana localizada em São Paulo (SP). Em conjunto com o Instituto Trancoso, eles começaram a organizar viagens anuais dos estudantes ao estado da Bahia para apoiarem a implantação de espaços de leitura na Escola Municipal da Sapirara, que fica na área rural de Trancoso.

O convite para participar das expedições também se entende aos alunos de escolas de todo o país. “LêComigo é tanto uma ong quanto um movimento. Queremos mostrar que todo mundo consegue fazer parte disso”, diz Mateus, ao mencionar que jovens de diferentes escolas podem compartilhar livros e experiências literárias.

Tags:

jovens, livros, leitura, literatura, lêcomigo

Confira também

Cidade InformaSociedade / Educação
14/03/2017
Projeto Arte da Palavra aproxima o público da literatura
por Alana Gandra - Agência Brasil
Cidade InformaSociedade / Educação
RevistaTecnologia / Comunicação

Novembro / 2016

Booktubers
por CIBELE LANA