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ONU premia professor nigeriano que leva educação para vítimas do Boko Haram

A escola criada por ele oferece educação gratuita, alimentos, uniformes e cuidados médicos para meninos e meninas afetados pelo grupo terrorista

por ONU Brasil   publicado às 09:33 de 20/09/2017, modificado às 11:27 de 21/09/2017

Levar educação para todas as crianças, incluindo as que são forçadas a abandonar suas comunidades por conta da violência. Essa é a incansável missão perseguida há quase uma década por Zannah Mustapha, professor nigeriano que foi anunciado na última segunda-feira (18) vencedor do Prêmio Nansen da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Em 2007, o docente fundou uma escola na cidade de Maiduguri, capital do estado do Borno e epicentro dos confrontos provocados pelo grupo extremista Boko Haram.

Zannah Mustapha mantém centros de ensino em regiões afetadas pela violência do grupo extremista Boko Haram. Foto: ACNUR/Rahima Gambo

Dois anos após a criação do centro de ensino, teve início, no nordeste da Nigéria, um conflito entre o governo e a entidade terrorista. Desde 2009, mais de 20 mil pessoas foram mortas em meio aos confrontos. No auge da crise, 2,1 milhões de pessoas foram consideradas vítimas de deslocamento forçado. Desse contingente, 1,9 milhão vivem atualmente como deslocadas internas.

Segundo dados do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 80% do território de Borno é considerado arriscado ou altamente arriscado para profissionais humanitários. É nesta província que o professor Mustapha mantém um recanto seguro para crianças vítimas da violência.

A escola criada pelo professor oferece educação gratuita, alimentos, uniformes e cuidados médicos para meninos e meninas afetados pelas operações do Boko Haram. Aqueles que se tornaram órfãos devido ao conflito são recebidos em todas as aulas do professor, não importando o lado dos combates em que estavam. Para o docente, o acolhimento é um exemplo da reconciliação almejada na região.

Nos dez anos transcorridos desde sua criação, a instituição ampliou sua capacidade de forma surpreendente — de 36 para 540 alunos. Ansiosas para conseguir frequentar a escola, diversas crianças já colocaram seus nomes na lista de espera. Em 2016, Mustapha abriu um segundo centro localizado a poucos quilômetros do primeiro. A cada dia, 88 jovens frequentam as aulas. Todos eles foram forçadas a fugir de conflitos na região.

O trabalho de Mustapha também inclui a negociação da liberação de reféns. Sua intervenção foi fundamental para o processo de libertação das 82 meninas de Chibok, em maio de 2017.

O professor e seu grupo de educadores voluntários conhecem os riscos que enfrentam, mas o trabalho que realizam é muito importante para ser interrompido. “Esta escola promove a paz”, declarou Mustapha, que descreve o centro como o “lugar onde todas as crianças importam”. “Ofereceremos recursos a essas crianças para que possam caminhar por conta própria”, explica o docente.

Em pronunciamento por ocasião do anúncio do vencedor do prêmio Nansen, o alto-comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, afirmou que “a educação é uma das ferramentas mais poderosas para ajudar as crianças refugiadas a superar os horrores da violência e do deslocamento forçado”.

“O empoderamento dos jovens lhes proporciona conhecimentos e capacidades, ajuda a combater a exploração e o recrutamento por parte de grupos armados”, acrescentou. “Mustapha e sua equipe estão fazendo um trabalho extremamente importante, ajudando a fomentar a convivência pacífica e a reconstruir as comunidades do nordeste da Nigéria. Com este prêmio, honramos sua visão e seu trabalho.”

Além de seu trabalho educacional, Mustapha também atua em outros setores da sociedade afetados pelo conflito. Seu apoio foi crucial para a criação de uma cooperativa para viúvas, que dá assistência para cerca de 600 mulheres em Maiduguri.

O Prêmio Nansen para os Refugiados do ACNUR honra o serviço extraordinário prestado a pessoas deslocadas de forma forçada. A iniciativa tem Eleanor Roosevelt, Graça Machel e Luciano Pavarotti entre seus laureados. Em 2017, a cerimônia de premiação será celebrada no dia 2 de outubro, em Genebra, na Suíça.

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