Com cursos de línguas, a organização não governamental (ONG) Abraço Cultural vem abrindo portas para refugiados que vivem no Brasil. Os estrangeiros fazem cursos sobre métodos pedagógicos e recebem uma oportunidade de ter fonte de renda ensinando as línguas que dominam.
O professor nigeriano Olawale Shakuru dá aulas de inglês na ONG Abraço Cultural, na qual todos os professores são refugiados. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
“A gente já capacitou mais de 60 refugiados e contratou mais de 30. Já gerou mais de R$ 500 mil em renda para esses refugiados. A gente paga bem, acima da média do mercado”, conta uma das coordenadoras do projeto Mari Garbelini sobre os resultados obtidos nos quase dois anos de funcionamento.
Além da sede em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, a ONG tem dois espaços no Rio de Janeiro e busca, agora, chegar à Europa. “A gente já está em uma fase avançada do desenvolvimento do projeto em Paris”, diz sobre os planos para o novo escritório que deve começar a funcionar em setembro.
“Lá tem muito mais refugiados e muito mais preconceito com esses refugiados. O projeto, além de valorizar esses refugiados, empoderá-los e gerar renda, também é importante para quebrar preconceitos que dificultam a inserção deles na sociedade”, comenta Mari.
Para promover as diferentes culturas que compõem o projeto, são realizadas atividades de culinária, música e venda de produtos produzidos pelos estrangeiros.
Essas atividades potencializam o aprendizado em sala de aula, na avaliação do professor e coordenador do curso de árabe, Ali Jeratli. “Quando você vai aprender o idioma com música, dança e comida, você vai aprender muito mais rápido”, diz o refugiado que chegou ao Brasil em 2014 para escapar das dificuldades da guerra na Síria.
“Aqui não é só uma escola, é uma família do mundo inteiro. Não estou só ensinando, estou aprendendo várias coisas, de culturas do mundo inteiro”, diz sobre a experiência no projeto.
Além de ensinar o idioma, Ali tenta passar uma outra visão sobre o país onde nasceu. “Eu vou ensinar e mostrar a minha cultura. Porque a Síria tem uma cultura muito rica, uma história muito grande e mostrou para o mundo inteiro várias coisas”.
Para Ali, o trabalho na Abraço foi uma oportunidade importante, uma vez que ele não conseguiu uma colocação na área de hotelaria, onde atuava em Damasco.
“Quando eu cheguei aqui eu pensei: vai ter Copa do Mundo, então, muitos hotéis vão precisar de gente com experiência”, disse sobre as perspectivas que tinha em 2014. “Tentei, mas não consegui. No começo, por causa dos documentos e pela língua”, acrescenta ao contar as dificuldades que teve para se inserir no mercado de trabalho.
A atual coordenadora da iniciativa conta que chegou ao projeto como estudante de árabe. “Eu entrei como aluna na primeira turma, depois me tornei voluntária, porque me apaixonei loucamente pelo projeto. Desde o final de 2015 eu estou como coordenadora administrativa”, diz Mari Garbelini.
Hoje, ela é uma das responsáveis por fazer funcionar a estrutura que, só em São Paulo, tem 15 turmas de até dez alunos. Apenas com as mensalidades dos cursos regulares e as aulas particulares contratadas por empresas, a ONG consegue custear toda a estrutura e remunerar os professores, sem depender de doações privadas ou incentivos governamentais.