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Refugiado usa garrafas de plástico para construir moradias resistentes ao clima do deserto

Em um campo do Saara Ocidental, o jovem Tateh Lehbib Breica está construindo 25 unidades residenciais que darão abrigo a deslocados forçados vulneráveis

por ONU Brasil   publicado às 14:46 de 09/02/2017, modificado às 14:46 de 09/02/2017

Com um mestrado em eficiência energética, o refugiado Tateh Lehbib Breica planejava construir uma casa reaproveitando recursos e respeitando o meio ambiente. O jovem de 27 anos pensava em erguer uma residência no deserto, usando garrafas plásticas descartadas para plantar mudas no jardim do terraço.

Em um campo em Tindouf, na Argélia, um jovem refugiado saarauí constrói abrigos resistentes a tempestades — de chuva e de areia — usando garrafas de plástico. Foto: ACNUR/Russell Fraser

A ideia inicial, porém, revelou-se inviável, devido ao formato circular do telhado. Tateh se viu, então, rodeado de garrafas que haviam perdido seu propósito.

“Perguntei a mim mesmo: ‘O que posso fazer com essas garrafas?’”, lembra o rapaz, que nasceu e cresceu no campo de refugiados de Awserd. Com uma bolsa de estudos, Tateh frequentou uma universidade em Argel, capital da Argélia, e depois entrou para o mestrado em uma faculdade espanhola.

“Eu lembrei de um documentário que eu tinha visto, durante meus estudos universitários, sobre construir usando garrafas de plástico, e pensei: ‘Por que não tentar isso?’”

Oferecer habitação adequada, capaz de resistir às duras condições climáticas do deserto, é um desafio no campo de Awserd. O acampamento é um dos cinco na região que circunda Tindouf, província argelina, e que abriga refugiados que escaparam da Guerra do Saara Ocidental, há mais de 40 anos.

Casas feitas com tijolos de argila são vulneráveis às fortes chuvas que periodicamente atingem o deserto do Saara. Ao final de 2015, uma tempestade demoliu milhares de moradias. As frequentes tempestades de areia — chamadas “haboobs” — também atingem as residências e tradicionais barracas. A poeira é tanta que a população é chamada a evacuar temporariamente certas áreas.

A primeira casa construída por Tateh usando garrafas do lixo era para sua avó idosa, que tem dificuldade para caminhar. A senhora ficou ferida ao ser levada para um centro comunitário durante uma tempestade de areia.

Além de ter maior resistência estrutural à água, a casa circular de paredes espessas provou ser melhor para bloquear a areia e a poeira das “haboobs”.

O interesse de Tateh em construir com recipientes de plástico descartáveis lhe rendeu o apelido de “Majnoun al qarurat”, o “Louco das garrafas”. O aspecto peculiar da estrutura e as publicações do rapaz no Facebook renderam às casas uma fama que ultrapassou os limites da zona rural.

Entre os que se interessaram pelos benefícios da casa e vieram conferi-la de perto, estavam alguns funcionários da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

“Após as chuvas pesadas de outubro de 2015 que danificaram e destruíram dezenas de milhares de casas construídas com tijolos de argila, o ACNUR vem trabalhando com os saarauís (nome dado aos refugiados do Saara Ocidental) no aprimoramento das técnicas de construção, para melhor resistir ao clima severo desta região”, explicou a coordenadora sênior do ACNUR em Tindouf, Juliette Murekeyisoni.

“Incentivamos o uso de tijolos fortificados com cimento e, agora, estamos estimulando o uso de garrafas de plástico”, acrescentou a representante do organismo internacional.

O oficial de Abrigo do ACNUR, Otis Moore, explica que as garrafas de plástico são opções melhores do que as casas de blocos de argila e do que as tendas familiares tradicionais utilizadas pela maioria dos saarauís.

“Como as casas de argila podem ser destruídas por chuva pesada ou prolongada, o uso de garrafas de plástico cria estruturas mais duráveis. Adotamos a forma circular porque é aerodinâmica e pode resistir a tempestades de forma mais eficaz”, explicou o especialista.

Atualmente, em um projeto financiado pelo Fundo de Inovação do ACNUR, Tateh está trabalhando para construir 25 casas usando garrafas de plástico em cinco campos — Awserd, Boujdour, Dakhla, Smara e Laayoune. As residências serão destinadas a pessoas vulneráveis.

Em reconhecimento pelo seu projeto criativo, o refugiado recebeu recentemente o prêmio de Personalidade do Ano de 2016 de uma revista local. O apelido que lhe foi dado no campo pegou: “As pessoas ainda me veem como o cara obcecado com a reciclagem de garrafas e construção de casas incomuns”, confessa o rapaz.

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