O papa Francisco recebeu, na manhã do último sábado (04/02), na Sala Paulo VI, mais de mil representantes da Economia de Comunhão (EdC). O projeto surgiu em maio de 1991, após uma visita de Chiara Lubich ao Brasil, como resposta concreta ao problema social e ao desequilíbrio econômico do país e do capitalismo em geral.
Vaticano, 04/02/2017 - Papa Francisco durante encontro com representantes da Economia de Comunhão; à sua esquerda, o coordenador mundial e principal pensador da EdC, Lugino Bruni; à sua frente, Maria Helena Faller, presidente da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão (Anpecom) do Brasil. Foto: SIF
Em seu discurso aos numerosos presentes, provenientes de 49 países, o Papa refletiu sobre os termos “Economia e Comunhão”, de particular interesse:
“Economia e comunhão: duas palavras que a cultura de hoje mantém bem separadas e, muitas vezes, até as considera opostas. Duas palavras que, ao invés, vocês uniram, respondendo ao convite que Chiara Lubich fez no Brasil, há 25 anos. Diante das desigualdades que percebeu na cidade de São Paulo, ela exortou aos empresários a se tornarem agentes criativos e competentes de comunhão”.
De fato, ponderou Francisco, o empresário é considerado pelo Movimento dos Focolares como “agente de comunhão”, um novo modo de encarar as empresas e a economia. Uma empresa não deve destruir a comunhão entre as pessoas, mas edificá-la e promovê-la. A comunhão espiritual dos corações é mais plena quando se torna comunhão de bens, de talentos e de lucros.
Aqui o Santo Padre refletiu sobre três aspectos concernentes ao Projeto dos Focolares: o dinheiro, a pobreza e o futuro. Sobre o primeiro aspecto, disse:
“É muito importante que ao centro da Economia de Comunhão esteja a comunhão dos lucros. A Economia de Comunhão também é comunhão de lucros, expressão da comunhão de vida. Muitas vezes falei sobre o dinheiro como ídolo, quando se torna objetivo de vida e pecado de idolatria. Mas, o dinheiro é importante, sobretudo, quando falta e quando dele dependem a alimentação, a escola e o futuro dos filhos”.
Vaticano, 04/02/2017 - Luigino Bruni, coordenador mundial e principal pensador da Economia de Comunhão, discursa durante encontro com o Papa Francisco. Foto: SIF
A riqueza, acrescentou o Pontífice, é a mais nova divindade em nossos dias, que destrói milhões de famílias no mundo. Diante dessa realidade, os Focolares escolheram colocar os lucros em comum, compartilhando-os com os pobres e para dar instrução e trabalho aos jovens.
Assim, o Papa passou ao segundo aspecto da sua reflexão: a pobreza, um tema central para o Movimento fundado por Chiara Lubich:
“Hoje, são lançadas diversas iniciativas, públicas e particulares, para combater a pobreza, para o crescimento da humanidade. Na Bíblia, os pobres, os órfãos e as viúvas eram descartados pela sociedade. Hoje, foram inventados diversos modos para ajudar, matar a fome e instruir os pobres. Não obstante, o capitalismo continua a produzir descartes e exclusões”.
A Economia de Comunhão, afirmou Francisco, se quiser ser fiel ao seu carisma, deve criar um sistema econômico-social para salvar as vítimas do capitalismo. Um empresário de comunhão deve ser como o pai misericordioso da parábola evangélica do Filho Pródigo.
Por fim, o Papa falou sobre o terceiro aspecto da Economia de Comunhão, o futuro:
“Esses 25 anos da história da Economia de Comunhão confirmam que a comunhão e as empresas podem crescer lado a lado. Comunhão é a multiplicação dos bens para todos. A economia de hoje precisa da alma dos empresários e da fraternidade respeitosa e humilde. É preciso compartilhar mais os lucros para combater a idolatria do dinheiro”.
Vaticano, 04/02/2017 - A presidente do Movimento dos Focolares, Maria Voce, e o copresidente, Jesús Morán, saúdam o papa Francisco durante encontro com representantes da Economia de Comunhão. Foto: SIF
Francisco concluiu seu pronunciamento aos numerosos participantes no encontro de Economia e Comunhão convidando o Movimento dos Focolares a continuar a mudar as estruturas sociais para evitar as vítimas do descarte e da exclusão. “Continuem, disse, a ser sal e fermento de uma nova economia, a Economia do Reino, onde os ricos partilham suas riquezas e os pobres são chamados bem-aventurados”.
Representantes brasileiros com Francisco
Antes de o Papa pronunciar o seu discurso, a curitibana Maria Helena Ferreira Fonseca Faller, Presidente da Associação Brasileira de Economia e Comunhão, fez a seguinte saudação:
"Nasci em uma família de classe média, porém, desde pequena e durante toda a minha adolescência, a pobreza me fez sofrer e eu desejava fazer algo por isso. Quando eu tinha 17 anos, pude experimentar os efeitos econômicos da pobreza na minha família. Porém a minha história foi diferente, porque eu participava da Economia de Comunhão. E com a ajuda da Economia de Comunhão eu pude entender, compreender e vivenciar que vencer a pobreza é possível e de um modo eficaz. Estudei, me tornei advogada, e tomei a decisão de dedicar grande parte da minha vida ao desenvolvimento da EdC. Hoje sou a presidente da Associação Nacional por uma Economia de Comunhão do Brasil".
Vaticano, 04/02/2017 - Mais de mil representantes da Economia de Comunhão participaram de encontro com o Papa Francisco. Foto: SIF
Origem do Projeto
Dirigida de modo particular às Empresas, a proposta da “Economia de Comunhão”, lançada no Brasil, em 1991, por Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, coloca em comum a riqueza produzida e fundamenta a dinâmica operacional sobre a comunhão e a fraternidade. Atualmente centenas de empresas, no mundo inteiro, inspiram-se nesse projeto para partilhar a riqueza produzida.
A Economia de Comunhão suscita o surgimento dos chamados “polos industriais”, inseridos nas Mariápolis permanentes, pequenos “núcleos de testemunho” do Movimento dos Focolares.
Os polos industriais, construídos nesses anos no Brasil, Argentina, Itália, Croácia, Bélgica e Portugal, indicam uma economia onde produzir e trabalhar são verdadeiras expressões da lei do amor recíproco.
O Projeto “Economia de Comunhão”, na sua totalidade, tem o objetivo de trabalhar por uma humanidade “sem indigentes”, em vários níveis. Com a criação de trabalho, pode-se envolver os excluídos do sistema econômico e social, mediante uma cultura da partilha e da comunhão, a criação de iniciativas educativas e culturais e ajudas concretas aos projetos de desenvolvimento.
*Texto original editado por Cidade Nova.