Seis restaurantes em Estrasburgo, na França, abriram suas cozinhas para chefs refugiados no período que antecedeu o Natal, permitindo aos recém-chegados servir pratos de seus países e reunir diferentes culturas por meio da comida.
Restaurante Café con Leche. Foto: ACNUR
O Festival Gastronômico de Refugiados foi uma iniciativa da Food Sweet Food — organização especializada na conexão entre pessoas por meio de eventos culinários, livros e documentários — e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
O objetivo foi mudar a forma como os refugiados são percebidos, e ao mesmo tempo permitir que moradores aproveitassem as festividades sazonais para descobrir novos sabores e culinárias.
“O Festival Gastronômico de Refugiados é um lembrete de que por trás da crise dos refugiados estão mulheres, crianças e homens que vêm para a França com talentos, profissões e habilidades valiosas à espera de serem descobertos”, disse Marine Mandrila, cofundadora da Food Sweet Food.
Os restaurantes participantes serviram pratos afegãos, sírios e tibetanos e, em alguns casos, inventaram novas receitas.
“Quando ouvi falar do festival, era evidente para mim que tínhamos que participar. Ele está em harmonia com o espírito do restaurante, de se abrir para novas culturas e tradições culinárias”, declarou Frederic Muller, proprietário do restaurante francês-vietnamita Le Mandala, que tem como destaque a cozinha de fusão, combinando tradições culinárias da Alsácia, Vietnã e Afeganistão.
Todos os refugiados participantes do evento são chefs profissionais em seus países de origem, e usaram suas habilidades culinárias para se integrar social e profissionalmente na França.
“Queremos usar nossas habilidades, mostrar nossos talentos, e também aprender mais sobre a culinária francesa”, disse Hussam Khodari, cozinheiro sírio refugiado que preparou um brunch sírio no restaurante Café con Leche. A refeição incluiu moutabal (pasta árabe feita com berinjela), falafel (bolinhos de grão-de-bico), labneh (iogurte), fatteh (prato de café da manhã sírio) e ful (prato feito com feijão do tipo fava).
O proprietário do café, Mohammed El Ouariachi, afirmou ter encontrado rapidamente coisas em comum com Hussam. “Falamos sobre culinária e comida imediatamente”.
Os restaurantes do festival disseram acreditar que a chegada de novas pessoas e novos talentos é um aditivo para a cultura alimentar francesa, que sempre foi enriquecida por sabores estrangeiros. “O festival também procura facilitar o acesso dos refugiados a empregos”, afirmou Louis Martin, cofundador da Food Sweet Food.
“O restaurante está com as reservas esgotadas por duas semanas”, declarou Frederic Muller. Com o sucesso do festival, eles estão pensando em contratar o chef convidado afegão Ahmadzai temporariamente, com a possibilidade de efetivá-lo.
A agência da ONU também enfatizou a importância do evento. Além de seus programas humanitários, o ACNUR busca ajudar os refugiados a reiniciar suas vidas o mais rápido possível. A aprendizagem de línguas e competências e a aquisição de qualificações profissionais são essenciais para a integração financeira, social e cultural dos recém-chegados nas sociedades que os acolhem. Pesquisas mostram que os refugiados contribuem para a economia de um país se tiverem a oportunidade de trabalhar e se integrar.
O Festival Gastronômico de Refugiados será seguido por um evento maior a ser realizado em junho de 2017 em várias cidades europeias. Um kit está sendo preparado e estará disponível online em breve para pessoas interessadas em organizar festivais de comida de refugiados em suas cidades.