Marcos Gorinstein, 37 anos, deixou para trás um trabalho confortável e a praia de Tel Aviv para seguir seu sonho de trabalhar em prol da paz em Jerusalém – cidade onde 40% dos moradores são árabes e 60%, judeus. Em 2014, ele criou o projeto “Árvore da vida – nos recusamos a ser inimigos”, que tem como objetivo fazer com que alunos dos dois lados aprendam a conviver através de uma atividade em comum.
O carioca Marcos Gorinstein, ao centro, com seu alunos de jiu-jitsu em Jerusalém. Foto: Reprodução/RFI
Quando chegou em Israel, em 2010, Marcos já tinha o sonho de lidar com o conflito entre árabes e judeus na região, mas não imaginava que seria por meio das artes marciais. “Eu vim para cá com o objetivo de trabalhar em algum trabalho sobre a questão do conflito palestino-israelense”, diz o carioca. “Chegando em Jerusalém, eu disse: ‘sou professor de jiu-jitsu, então vou usar essa arte marcial como ferramenta para poder criar contato entre judeus e palestinos’”
Marcos Gorinstein é faixa preta pela Academia Gracie da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde estudou com o mestre Vinicius Aieta, o Vini. Para ele, o jiu-jitsu é o esporte perfeito para quebrar o gelo entre inimigos, no caso crianças judias e árabes, que enfrentam um ambiente de desconfiança mútua.
“Muitas vezes, quando a gente tenta o contato entre povos inimigos, esse contato é feito verbalmente, as pessoas conversam, as pessoas trocam olhares. Já o jiu-jitsu tem o toque. A gente toca o tempo todo, está junto o tempo todo. É uma luta com contato total do corpo”, explica Marcos. “O jiu-jitsu tem essa capacidade de a gente elevar a relação para o contato físico, o que é um lado muito positivo da prática. Além disso, é um esporte que faz com que a gente, o tempo todo, aprenda os nossos limites e os limites dos que estão treinando conosco”.
Atualmente, Marcos tem mais de 40 alunos, principalmente estudantes do colégio “Yad BeYad”, ou “De mãos dadas”, em Jerusalém, uma escola mista de árabes e judeus que faz um trabalho de convivência exemplar. Mas seu esforço já está sendo reconhecido e ele pretende montar uma academia própria onde poderá concentrar todas as turmas, de crianças e adultos.
'Fronteiras invisíveis'
A ideia é promover a coexistência por meio do esporte para outras áreas de Jerusalém e arredores, incluindo a Cisjordânia. Porém, há obstáculos no caminho, principalmente por parte das famílias dos dois lados, que nem sempre aprovam que seus filhos lutem juntos o jiu-jitsu. “A questão principal que a gente enfrenta aqui é um preconceito. Porque as pessoas não conhecem quem está do outro lado. Há fronteiras muito invisíveis que a gente não passa por elas”, conta Marcos.
“É muito raro você ver crianças judias indo a Jerusalém Oriental. É praticamente zero o número de crianças judias que fazem isso, por conta de medo dos pais, por conta da realidade em que a gente vive. Então a ideia é buscar, através de colégios, através de instituições que trabalham com jovens, a criação de turmas para que a gente possa quebrar essas fronteiras e que as crianças passem a conhecer uns aos outros através da prática do jiu-jitsu”.
Muitos alunos do sociólogo carioca não pagam mensalidade integral por falta de condições financeiras e Marcos busca, agora, parceiros institucionais que ajudem a completar o valor para que nenhuma criança deixe de competir. O sonho do brasileiro é que seus alunos, tanto árabes quanto judeus, se tornem instrutores de jiu-jitsu e, como ele e outros, se dediquem à promoção da paz na Terra Santa.