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Na cidade-sede mais pobre, comunidade e ONGs reformam campo de futebol

A união para reforma do local teve impacto também na mobilização por melhores condições de vida. Depois da inauguração, os moradores conseguiram que a prefeitura asfaltasse a rua de acesso ao bairro

por Isabela Vieira - Agência Brasil   publicado às 08:40 de 09/05/2014, modificado às 08:40 de 09/05/2014

Erguida na região metropolitana de Recife, em São Lourenço da Mata, município com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) entre as cidades-sede, a Arena Pernambuco custou R$ 532 milhões. Com capacidade para 46 mil pessoas, quase a metade dos moradores da cidade, o estádio fica a 10 quilômetros de Várzea Fria. A comunidade pobre, que fica na zona rural, até pouco tempo só tinha um campo de futebol rodeado de lama e esgoto.

Recife - Crianças participam de projeto no Instituto Alberto de Moura. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

A proximidade com o luxo da Arena Pernambuco não se refletiu em investimentos em esporte e lazer na cidade de 108 mil habitantes - na contagem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Lá, os moradores, em parceria com organizações não governamentais reformaram o campo de várzea e criaram condições de as crianças praticarem esporte no contraturno escolar.

“O campo da Várzea tinha muita lama ao redor, se chovesse, alagava, tinha saída de esgoto próximo ao campo, as crianças poderiam pegar algum tipo de doença”, disse Breno Lacet, da ONG Love.Fútbol. Para atuar na comunidade, disponibilizando apoio financeiro e profissional para a reforma do campo, a organização levou em conta o alto número de crianças e o baixo IDH de São Lourenço da Mata, de 0,6 pontos em uma escala de 0 a 1 – quanto mais perto de 1, melhor classificado está o município.

Arena Pernambuco será palco de cinco partidas da Copa do Mundo. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O trabalho durou quatro meses e terminou com a inauguração de um campo novo, cercado de muretas, com vestiários, traves e redes no gol. Com a grama aparada e o campo nivelado, o local passou a receber jogos de outras comunidades, que alugam eventualmente o local. O dinheiro é suficiente para pagar professores de educação física e recreadores, que dão aulas duas vezes por semana para as crianças e os adolescentes, e para a manutenção do campo.

A união para reforma do campo teve também impacto na mobilização por melhores condições de vida. Depois da inauguração, os moradores conseguiram que a prefeitura asfaltasse a rua de acesso ao bairro. “Cada cidadão da Várzea, que via a comunidade como foco de marginalização, percebeu que proporcionou, não somente às crianças, mas a todos, oportunidade de lazer e de esporte”, disse Eliane Sebastião dos Santos, coordenadora da ONG Instituto Alberto de Moura.

Com atividades no campo em dias alternados, sobra tempo para roda de leitura, contação de histórias e cidadania, na sede do instituto, em frente ao campo. Em parceria com a rede municipal de ensino, a ONG atende crianças em contexto de pobreza. O novo sonho, agora, é conseguir o apoio para a construção de uma quadra poliesportiva e de uma piscina. “Aqui é Nordeste, faz muito calor”, brincou Eliane.

O projeto que deu origem a esta reportagem foi vencedor da Categoria Rádio do 7º  Concurso Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, realizado pela Andi, Childhood Brasil e pelo Fundo das Nações Unidos para a Infância (Unicef).

Texto original editado pela Cidade Nova.

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