Cesar, 18 anos, proveniente do Gana, foi salvo quando já estava se afogando: ele ingeriu água e óleo combustível. Daquela travessia foram resgatadas 72 pessoas, enquanto outras 32 não conseguiram sobreviver.
"Queremos ser coração e braços abertos a cada um desses refugiados”, afirmam Carla e David. Foto: Movimento dos Focolares
Maria, nigeriana, grávida de sete meses, quando estava fora de casa com o marido e um filho pequeno, recebeu uma chamada do seu pai: ele dizia que não voltassem, porque a igreja local fora incendiada e a mãe dela, assassinada. A família de Maria fugiu naquele instante e, chegando à Líbia, tendo dinheiro somente para uma passagem para a Itália, ela embarcou sozinha. O marido e o filho pequeno ficaram na parte oposta do Mediterrâneo, à espera da possibilidade de um próximo embarque.
“São episódios de vida que cortam o coração. Lembrando das palavras de Jesus 'era forasteiro e me acolhestes', queremos ser coração e braços abertos a cada um desses refugiados”. É o que afirmam Carla e David, de Florença (Itália), uma família que se dispôs a acolher os imigrantes. Confira o relato completo:
Em julho de 2013 nós participamos da Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, com os nossos três filhos. Aproveitando a ocasião, passamos um período de missão em Salvador, Bahia. Foi uma experiência profunda, que dilatou o nosso coração à partilha com muitas pessoas necessitadas. Quando voltamos para casa, decidimos acolher os imigrantes na pensão que administramos. A partir daquele momento a missão foi até nós! Desde o início, passaram 756 pessoas provenientes da Síria, Paquistão, Nepal, Bangladesh e alguns países da África. Alguns se hospedam somente para retomar as forças e continuar em direção a outras metas europeias, outros permanecem por mais tempo. E assim os relacionamentos se estreitam a ponto de tornarem-se mais que fraternos.
Alguns se hospedam para retomar as forças e continuar em direção a outras metas europeias, outros permanecem por mais tempo. Foto: Movimento dos Focolares
Uma família eritréia, que agora se encontra na Noruega, ficou conosco por dois meses: ele muçulmano, ela cristã, e aos seis filhos o pai deixou a liberdade para que escolhessem a religião. Assim que chegaram, a mãe e o filho menor foram levados ao hospital porque estavam desidratados e, depois, o pai, por uma infecção. Lembramos da alegria deles quando lhes oferecemos o celular para que pudessem contatar os parentes e avisar que estavam vivos e bem. Em um domingo fomos à missa juntos e, justamente naquela minúscula igreja, na periferia de Florença, estava o cardeal Betori, em visita pastoral. O ponto central da sua homilia foi a acolhida. Na conclusão da celebração ele abraçou aquela família e os abençoou.
Três jovens: uma do Mali e uma da Líbia, ambas muçulmanas, chegaram junto com outra jovem que fugira da Nigéria depois de ter presenciado o assassinato dos pais porque eram cristãos. Entre elas instaurou-se imediatamente uma relação de irmãs e, conosco, como pais e filhas. Um dia, estávamos passeando juntos e Mersi estava muito triste porque naquele mesmo dia haviam anunciado na televisão que acontecera um novo massacre na Nigéria. Depois ela recebeu um telefonema: a irmã menor conseguiu fugir e chegar à Líbia com um amigo da família. A jovem líbia imediatamente contatou a sua família e a criança nigeriana – cristã – foi hospedada por eles – muçulmanos.
Outro fato: Joy e Lorenz, que também vira o pai ser assassinado porque era cristão. Eu, David, sou assistente social e posso entrar no ônibus quando os refugiados chegam. Eu faço isto arriscando contrair doenças, mas, sei que o primeiro contato é fundamental e é naquele momento que se consegue individuar os grupos que, nesse meio tempo, surgem entre eles. Eu vi que Joy estava grávida e os convidei a virem conosco.Também quando a autoridade competente transferiu esse casal nós continuamos a visitá-los e, quando a criança nasceu, levamos um carrinho de bebê e roupinhas que o grupo de Famílias Novas, dos Focolares, conseguiram para eles. Joy e Lorenz nos pediram para sermos padrinhos do pequeno John. Atualmente a família foi transferida para a Puglia. A separação não foi fácil, mas a relação continua. Eles nos chamam mamãe e papai. Quando receberem o visto definitivo de permanência desejam voltar a morar próximos de nós.