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Banco da Providência terá quase R$ 1,9 milhão para projetos sociais em 2015

Fundado por dom Hélder Câmara no Rio de Janeiro em 1959, a organização apoia moradores de rua, egressos do sistema penitenciário e famílias em situação de miséria extrema

por Alana Gandra - Agência Brasil   publicado às 17:31 de 02/12/2014, modificado às 17:57 de 02/12/2014

Banco da Providência terá R$ 1,87 milhão destinados a projestos sociais em 2015. O valor é resultado de uma previsão do banco de elevar em 10% o resultado líquido do ano passado, que somou R$ 1,7 milhão. Nesta quarta-feira (3) começa a 54ª Feira da Providência, que é responsável por 60% do orçamento da instituição, evento que faz parte do calendário social e cultural do Rio de Janeiro. “O resultado da feira é a maior parte do orçamento [dos projetos sociais] do banco para o ano seguinte”, disse nesta terça (2) à Agência Brasil a superintendente da instituição, Clarice Linhares.

Entrada de uma filial na Catedral de São Sebastião do Rio de Janeiro. Foto: Divulgação/Wikipedia

O Banco da Providência é uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1959, no Rio de Janeiro, por dom Hélder Câmara, bispo auxiliar da cidade à época. Segundo Clarice, a missão básica da instituição é contribuir com a redução da desigualdade social. "A gente tem convicção que o Brasil é um país rico, mas extremamente desigual. E desigualdade passa por falta de oportunidades para todos desenvolverem os seus talentos”, disse.

O foco principal é a geração de trabalho e renda. Para isso, o banco desenvolveu uma metodologia baseada em três fases, que duram cerca de nove meses no total. A população em situação de rua, os egressos do sistema penitenciário e famílias que vivem em situação de miséria extrema constituem o público-alvo específico do banco. São atendidas atualmente 2 mil famílias por ano.

Na fase um do projeto, o Banco da Providência trabalha os direitos básicos das pessoas, como documentação e crianças na escola. Os adultos analfabetos são encaminhados para alfabetização. “Há também um trabalho de resgate da autoestima. Essa primeira fase culmina com essas pessoas fazendo um plano de atitude, que é descobrirem como querem gerar renda, quais são as suas possibilidades de acordo com a sua vida”. Clarice esclareceu que muitas mães, por exemplo, não podem ter um emprego formal porque têm filhos pequenos.

As limitações e oportunidades são estudadas em conjunto pelas famílias e a equipe do banco. As pessoas têm um tempo para aprender a dinâmica do trabalho e qual é a melhor forma de trabalhar. Depois de feito o plano de atitudes,  elas  passam à fase dois do projeto e são encaminhadas ao Centro de Capacitação, em Realengo, zona norte da capital fluminense. Cerca de 1,5 mil pessoas são capacitadas por ano em oito diferentes áreas, entre as quais gastronomia, beleza, moda, informática, mecânica, eletricidade. As pessoas definem que curso querem fazer, com base no seu plano de atitude.

"A gente tem convicção que o Brasil é um país rico, mas extremamente desigual. E desigualdade passa por falta de oportunidades para todos desenvolverem os seus talentos”

A fase três objetiva a geração de renda. As pessoas que têm perfil de emprego formal são encaminhadas pela agência de emprego do banco para o mercado de trabalho, enquanto os potenciais empreendedores são encaminhados para capacitação e recebem o apoio necessário. Ao final dos nove meses, Clarice informou que essas pessoas começam a gerar renda de forma sustentável, “porque vão adquirindo ferramentas, possibilidades de gerar renda durante esse processo”.

Pesquisas do próprio banco feitas pós-inclusão social mostram que 85% das famílias que passaram a gerar renda, depois de um ano, mantêm ou melhoram a sua situação de vida, o que, segundo Clarice, dá a certeza de que a metodologia realmente transforma. "Não é aquela ação pontual que, depois que a gente vai embora, as coisas retornam à situação anterior”, disse.

A superintendente disse que 10% do orçamento do Banco da Providência são oriundos de outro evento anual, que é o Roça'n'Rio – Arraial da Providência. Os restantes 40% provêm de parcerias com empresas, que investem direto nos projetos sociais, além de convênio com a prefeitura em função do abrigo para a população em situação de rua e doações de pessoas físicas dentro do projeto Amigos do Banco.

Este ano, a Feira da Providência tem como tema o esporte, devido não só à proximidade das Olimpíadas, que ocorrerão no Rio de Janeiro em 2016, mas também pelas características de superação, tenacidade, trabalho em equipe, busca pela realização de sonhos ligados ao esporte, “que têm a ver com a essência dos nossos valores”, manifestou Clarice, referindo-se aos projetos sociais do banco. Um total de 32 países e 14 estados brasileiros participarão da edição da feira deste ano com artesanato, produtos e comidas típicas.

O evento prioriza também o lado cultural, porque entende que a feira é uma oportunidade de permitir que pessoas que não têm oportunidade de viajar possam conhecer mais a cultura desses países e estados por meio das apresentações de danças típicas e manifestações folclóricas do Brasil e estrangeiras. “É uma forma de as pessoas conhecerem, por meio da dança, da música, da gastronomia e do artesanato as culturas de outros países”.

Tags:

pobreza, trabalho, moradores de rua, banco, investimento, desigualdade social, transformação social, miséria, renda, famílias, egressos sistema penitenciário, providência

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