Começa hoje (23) a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). Até domingo (29) governos, escolas, universidades, centros de pesquisa, empresas e organizações da sociedade civil promoverão eventos em todo o país com a finalidade de chamar a atenção dos brasileiros para a importância da produção científica em várias áreas, da educação à economia.
Exposição reúne museus de ciência do Rio para comemorar 30 anos da divulgação científica no Brasil. Foto: EBC (2013)
A expectativa do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) é de que haja 100 mil atividades, de cerca de 2 mil instituições e mais de mil cidades. Até o momento, 23 estados e o Distrito Federal já informaram que vão participar da semana. Apenas o Acre, Alagoas e o Piauí não devem promover eventos. Os estados com o maior número de atividades cadastradas são Minas Gerais, o Rio de Janeiro, São Paulo e Roraima. A programação está disponível no site oficial do evento.
Segundo Sonia Costa, coordenadora da semana e diretora do MCTIC, o objetivo da iniciativa é aproximar a produção científica e tecnológica dos estudantes. “A semana contribui para cultivar a prática interativa de nossos acadêmicos e cientistas com a educação básica. Não existe a cultura dos nossos cientistas de divulgar o conhecimento. Trabalhos acadêmicos são finalizados e nós leigos não conseguimos ter a compreensão da importância daquilo”, avalia Costa.
Matemática
Esse esforço de popularização vai ter como foco um assunto considerado difícil por muitos estudantes. O tema da edição deste ano é “A matemática está em tudo”. Na avaliação educacional internacional Pisa, o desempenho de estudantes na disciplina foi o pior entre as habilidades analisadas (também são medidos o conhecimento em ciências e a capacidade de leitura). Na última edição, em 2015, a nota do país em matemática foi 377, menor do que na edição anterior, em 2012, quando chegou a 389. No ranking mundial dessa disciplina a partir da Pisa 2015, o Brasil ficou em 66º lugar.
O intuito da SNCT é mostrar como a matemática faz parte do cotidiano das pessoas. Na economia, diversas operações financeiras dependem de modelos e equações. Quando uma pessoa pede um empréstimo, boa parte das instituições financeiras usa cálculos sofisticados para a chamada análise de risco. O mesmo vale para a compra de ações por instituições financeiras ou fundos de investimento.
Outro exemplo é o setor petrolífero. Companhias como a Petrobras furam poços em grande profundidade. Essa atividade envolve uma série de riscos, desde a fixação dos instrumentos que fazem o poço até o ato de extrair o petróleo de modo a evitar vazamentos e acidentes ambientais. “Em todas essas etapas a matemática está envolvida. Isso exige a resolução de equações muito complicadas. Matemáticos desenvolvem maneiras de simular essas ações no computador”, explica Roberto Imbuzeiro, professor e pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Os cálculos e equações são a base para os computadores e todas as atividades feitas de maneira informatizada. A coleta e o processamento de dados em larga escala, chamados de “Big Data”, e o uso de algoritmos e de inteligência artificial também envolvem modelos matemáticos complexos que definem as informações que serão consideradas e a correlação entre elas. Esses recursos vão além apenas da área de tecnologias da informação e estão se espalhando cada vez mais por setores da economia. Segundo relatório da consultoria Frost e Sullivan divulgado neste ano, o mercado do chamado "Big Data" movimentou em 2016 R$ 3,5 bilhões no Brasil.
Fernando Senna, estudante, 17 anos, medalha de ouro na Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica, ocorrida no Chile neste ano, conta que a matemática o faz perceber como o mundo funciona. “O nosso universo depende de leis que são expressas matematicamente e eu acho incrível como podemos conhecer coisas que estão a anos luz de distância e ver como tudo isso funciona”, afirma.
Mudanças na educação
Na avaliação de Jhames Matos Sampaio, matemático e professor do Instituto de Ciências Exatas da Universidade de Brasília, a alta carga de conteúdos contribui para alimentar a resistência de muitos alunos em relação à matemática. Para mudar esse quadro, seria preciso investir em um tratamento mais lúdico dos assuntos. “As pessoas enxergam a matemática como uma punição, ou algo muito difícil. O aluno de ensino médio poderia ver menos conceitos para poder trabalhar mais a prática”, defende Sampaio.