Foto: Carona a pé
De acordo com um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Pelotas, que analisou os meios de locomoção de crianças e adolescentes na cidade de São Paulo entre 1997 e 2007, o uso de transporte ativo (pedestre, bicicleta, triciclo, patins e skates) sofreu uma queda de 10 pontos percentuais neste período. Parte da mudança pode estar associada a uma necessidade específica das famílias, mas os desafios de mobilidade na cidade também contribuem com esse cenário.
Em muitos países, como Japão e Suíça, a organização de grupos de crianças foi uma alternativa encontrada para superar esses desafios. Na Dinamarca, por exemplo, a cidade de Odense criou o programa Cycle Happy School (Pedale Feliz para a Escola), que estimula o uso da bicicleta e ensinar os estudantes a se comportarem no trânsito.
Acostumada a encontrar alunos no caminho entre a sua casa e o Colégio Equipe, em São Paulo, a professora Carolina Padilha também teve a ideia de organizar um grupo para fazer esse trajeto a pé. De uma rota piloto com 17 crianças, feita em junho de 2015, hoje a iniciativa já está presente em quatro escolas paulistanas – duas na zona sul e duas na região central. “Percebemos que a demanda era real e poderia ser levada para outros lugares”, diz a idealizadora do projeto Carona a Pé, que se transformou em startup de mobilidade e educação.
Se por um lado a caminhada estimula a interação com a cidade, por outro, ela também requer cuidados, já que muitas vezes o espaço público não é projetado para ser ocupado por crianças. “O pedestre já é bastante desrespeitado na cidade. Dentro dessa cultura do carro, o pedestre criança é mais desrespeitado ainda”, observa. Como exemplo disso, ela cita o tempo de um sinal de travessia, que não considera o passo lento das crianças ou até mesmo dos idosos.
Para garantir a segurança, antes das caminhadas são estabelecidos combinados de conduta, que incluem cumprir os horários, não sair correndo e fazer filas. Com os devidos cuidados, Juliana Levy, sócia da startup Carona a Pé, garante que a recepção entre as famílias é positiva. “Nunca tivemos resistência dos pais”, reforça.
Resultado na aprendizagem
Além de mudar a percepção das crianças em relação ao espaço público, a caminhada até a escola pode trazer resultados na aprendizagem, conforme mostrou uma pesquisa realizada por três universidades espanholas (Granada, Autónoma de Madrid e Zaragoza). Após avaliar o rendimento de 1.700 jovens entre 13 e 18 anos, o estudo concluiu que os estudantes que fazem esse percurso a pé apresentam melhor desempenho. Isso porque o exercício diário estimula funções cognitivas do cérebro.
As várias formas de ir até a escola também podem ser uma maneira de estimular o compartilhamento entre crianças de diferentes contextos geográficos. Neste ano, o “Caminho Seguro para a Escola” será tema da nova edição do Aprender em Rede, programa do Instituto Crescer que incentiva a aprendizagem colaborativa entre escolas de todo o país.
Voltado para alunos dos quartos e quintos anos do ensino fundamental, o programa promove um intercâmbio online entre crianças e professores para que os participantes compartilhem a realidade da segurança no trânsito no entorno das suas escolas. “Estamos criando oportunidades para as crianças conhecerem outras realidades e desenvolverem uma série de competências de leitura, escrita, comunicação e uso de tecnologias”, conta Luciana Allan, diretora do Instituto Crescer.
Com atividades marcadas para terem início na primeira semana de setembro, mês em que é celebrada a Semana Nacional de Trânsito (entre os dias 18 e 25), o programa tem apoio da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e de todos os seus associados, como o Automóvel Clube Brasileiro. Por meio de um grupo fechado no Facebook, professores inscritos poderão compartilhar trabalhos dos seus alunos, que ao longo do semestre irão produzir campanhas sobre segurança no trajeto para a escola.
“Nessa faixa etária, eles começam a sair do universo do bairro e da cidade para ter uma ideia de contexto de país. Nada mais significativo do que eles poderem trocar informações. Uma criança de uma comunidade ribeirinha pode contar como vai e volta da escola para uma criança de São Paulo, que vai conhecer melhor a sua realidade”, explica a diretora do Instituto Crescer.
Até o dia 4 de setembro, o programa está com inscrições abertas para professores de todo o país pelo link https://goo.gl/yWjdkS.