Há uma concentração significativamente mais elevada da população negra entre as menores rendas no Brasil na comparação com a população não afrodescendente, revelou, na última terça-feira (30) novo relatório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).
Foto: TV Brasil
Analisando dados de quatro países latino-americanos, o documento “Panorama Social da América Latina 2016” mostrou que enquanto havia 33% de negros na menor faixa de renda no Brasil, a proporção era de 16% entre os que se declaram não afrodescendentes, segundo dados de 2014.
A mesma situação é vista em outros três países latino-americanos analisados. Enquanto os negros respondiam por 34% das menores rendas no Equador, esse percentual era de 22% entre os brancos. No Peru, a proporção era de 20% e 13%, respectivamente. No Uruguai, a desigualdade chega a ser ainda maior: os negros respondiam por 50% das menores rendas, enquanto entre os não afrodescendentes essa proporção era de 27%.
A situação se reverte quando são analisadas as maiores rendas nos quatro países latino-americanos analisados. Segundo a CEPAL, no Brasil, os negros respondem por 8% do topo da pirâmide, enquanto os brancos são 24%. Tendência semelhante ocorre nos demais três países.
“As desigualdades étnico-raciais, junto com as socioeconômicas, as de gênero, as territoriais e aquelas associadas ao ciclo de vida constituem eixos da matriz da desigualdade social na América Latina”, afirmou o documento da CEPAL.
“Elas se manifestam nos diversos âmbitos do desenvolvimento social, entre eles a posição socioeconômica, a saúde, a educação e o trabalho”, completou.
Segundo a CEPAL, uma das evidências mais eloquentes da interação que ocorre entre as desigualdades socioeconômicas, de gênero e étnico-raciais é a que se manifesta na situação das trabalhadoras domésticas assalariadas.
De acordo com o organismo da ONU, esta é uma das ocupações que geram mais fontes de emprego para as mulheres na América Latina, ao mesmo tempo em que se constitui uma das atividades menos valorizadas social e economicamente, apresentando um alto déficit do ponto de vista do trabalho decente.
“Ao considerar a dimensão étnico-racial, se observa que, no total da ocupação feminina, o percentual de trabalhadoras domésticas assalariadas varia de cerca de 3% (no caso das mulheres afrodescendentes da Colômbia) até 20% (no caso das mulheres afrodescendentes do Brasil)”, disse a CEPAL.
No Brasil e no Equador, o percentual de mulheres ocupadas como trabalhadoras domésticas equivale ao dobro do percentual de mulheres não afrodescendentes na mesma ocupação.
Saúde da população afrodescendente
Segundo a CEPAL, as condições de pobreza na qual vivem as mulheres afrodescendentes da região agravam suas condições de saúde, ao que se somam as limitações de acesso e acessibilidade cultural aos serviços de saúde.
A gravidez na adolescência é outra manifestação da desigualdade que afeta as jovens afrodescendentes. As cifras dos censos revelam que o percentual de adolescentes afrodescendentes entre 15 e 19 anos que são mães se mantém em níveis elevados, e em sete dos dez países com dados disponíveis supera o percentual de maternidade das adolescentes não afrodescendentes.
As maiores desigualdades relativas são observadas no Brasil e no Uruguai, o que, segundo a CEPAL, “põe em evidência que inclusive países que implementaram políticas de saúde integrais e universais para a atenção de jovens, incluindo aquelas dirigidas à redução da gravidez não desejada na adolescência, não foram capazes de superar a desigualdade étnico-racial”.
Clique aqui para acessar o relatório completo da CEPAL (em espanhol).