Relatório divulgado ontem (8) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pela empresa de pesquisa de opinião Gallup indica que 70% das mulheres e 66% dos homens no mundo entendem que as mulheres devem ter trabalhos remunerados. No Brasil, o índice é de 72% das mulheres e 66% dos homens.
Porto Alegre, 20/01/2016 - Debate com o tema "Mulheres Negras: história, memória e resistência", durante o Fórum Social Temático, em Porto Alegre. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O documento Rumo a um futuro melhor para mulheres e trabalho: vozes de mulheres e homens fornece um relato inédito sobre atitudes e percepções globais sobre o tema das mulheres no mundo do trabalho. A pesquisa ouviu quase 149 mil pessoas em 142 países e territórios, incluindo o Brasil, e representa mais de 99% da população adulta global.
Os resultados mostram que mulheres em todo o mundo preferem ter trabalhos remunerados (29%) ou estar em situações em que poderiam trabalhar e também cuidar de suas famílias (41%). De acordo com o relatório, apenas 27% das mulheres no mundo querem ficar em casa, exercendo um trabalho não remunerado.
Ainda segundo a pesquisa, o índice de 70% de mulheres no mundo que gostariam de ter trabalhos remunerados inclui a maioria das mulheres que não está no mercado de trabalho. Os dados valem para quase todas as regiões do planeta, incluindo aquelas onde a participação das mulheres na força de trabalho é tradicionalmente baixa, como Estados e territórios árabes.
Opiniões convergem
O relatório aponta que 28% dos homens gostaria que as mulheres de suas famílias tivessem trabalhos remunerados, enquanto 29% gostariam que elas ficassem apenas em casa e 38% prefeririam que elas pudessem fazer as duas coisas.
Mulheres que trabalham em tempo integral para um empregador (mais de 30 horas por semana) são mais inclinadas a preferir situações nas quais pudessem equilibrar o trabalho e as obrigações da família e da casa. Mulheres e homens com níveis mais elevados de educação também são mais propensos a preferir que as mulheres tenham trabalhos remunerados e cuidem de suas casas e famílias.
“Esta pesquisa mostra claramente que a maioria das mulheres e dos homens em todo o mundo prefere que as mulheres tenham trabalhos remunerados. Políticas de apoio às famílias, que permitam que as mulheres permaneçam e progridam no trabalho remunerado e incentivem os homens a assumir a sua parte justa do trabalho de cuidados da família e da casa, são cruciais para alcançar a igualdade de gênero no trabalho”, disse o diretor-geral da OIT, Guy Ryder.
Além de investigar as preferências das pessoas sobre mulheres e trabalho, a pesquisa revelou que as mulheres são mais propensas do que os homens a considerar trabalhos remunerados perfeitamente aceitáveis (83%), enquanto os homens ficam um pouco atrás (77%). Os números são mais altos no Brasil, com 96% das mulheres e 94% dos homens considerando o trabalho remunerado perfeitamente aceitável para as mulheres de suas famílias.
Equilíbrio trabalho-família
Conciliar o trabalho com o cuidado das famílias, no entanto, representa um desafio significativo para as mulheres que trabalham em todo o mundo. Tanto homens quanto mulheres da maioria dos países e territórios pesquisados mencionam o equilíbrio entre trabalho e família como um dos maiores problemas enfrentados pelas mulheres que têm trabalhos remunerados.
Outras questões como tratamento injusto, abuso, assédio no local de trabalho, falta de trabalhos bem remunerados e desigualdade salarial também aparecem entre os principais problemas citados em várias regiões do mundo.
Os dados também revelam que mulheres entre 15 e 29 anos são mais propensas do que as mulheres mais velhas a mencionar tratamento injusto, abuso ou assédio no trabalho. Já as mulheres entre 30 e 44 anos são mais propensas do que as de outras faixas etárias a mencionar a falta de acesso a cuidados para seus filhos e famílias. À medida que as mulheres envelhecem, elas se tornam mais propensas a mencionar os salários desiguais em relação aos homens.
Renda e emprego
Em todo o mundo, a maioria das mulheres que trabalha diz que o que ganha é uma fonte significativa (30%) ou a principal fonte (26%) de renda da família. Os homens ainda são mais propensos que as mulheres a se declararem como principais provedores: 48% dos homens que trabalham dizem que seus rendimentos são a principal fonte de renda de sua família.
No entanto, entre mulheres e homens que trabalham e têm níveis mais elevados de educação, a diferença em relação à contribuição para a renda familiar é menor.
O relatório revela que, se uma mulher tem educação e experiência semelhantes à de um homem, mulheres e homens são mais propensos a dizer que ela tem a mesma oportunidade de encontrar um bom trabalho na cidade ou área onde vive. Em todo o mundo, 25% das mulheres e 29% dos homens afirmam que as mulheres têm melhores oportunidades de encontrar bons trabalhos.
No Brasil, 35% das pessoas entrevistadas acham que as mulheres com experiências e qualificações educacionais semelhantes às dos homens têm a mesma oportunidade de encontrar um bom trabalho. Apesar disso, a proporção de brasileiros que acredita que as mulheres têm oportunidades piores em relação aos homens é maior (32%) do que a proporção de brasileiros que enxerga oportunidades melhores para as mulheres (29%).