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Veja a repercussão da morte de dom Paulo Evaristo Arns

Políticos, religiosos e movimentos sociais lamentaram a perda e enalteceram o exemplo do cardeal

por Agência Brasil*   publicado às 08:00 de 15/12/2016

Representantes da Igreja Católica e diversas autoridades lamentaram ontem (14) a morte do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. O cardeal morreu na manhã de quarta-feira, em São Paulo. Ele estava internado desde o dia 28 de novembro com broncopneumonia, no hospital Santa Catarina. Na terça (13), o estado de saúde do arcebispo emérito da Arquidiocese de São Paulo havia piorado e ele estava na UTI em função de problemas na função renal.

O arcebispo emérito de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, morreu na tarde desta quarta-feira (14/12). O cardeal estava com 95 anos e seguia internado no Hospital Santa Catarina desde o dia 28 /11 com problemas pulmonares. Foto: Luiz Guadagnoli/SECOM (29/09/2015)

Dom Paulo tinha 95 anos, 71 anos de sacerdócio e 76 anos de vida franciscana. Ele era cardeal desde 1973 e foi arcebispo metropolitano de São Paulo entre 1970 e 1998.

Veja a repercussão da morte do cardeal: 

Michel Temer

Por meio de nota, o presidente Michel Temer disse que “Dom Paulo foi um defensor da liberdade e sempre teve como norte a construção de uma sociedade justa e igualitária”. Temer acrescenta que o Brasil “perde um defensor da democracia e ganha para sempre mais um personagem que deixa lições para serem lembradas eternamente”.

Luiz Inácio Lula da Silva

Em nota divulgada por meio do Instituto Lula, o ex-presidente disse que “o Brasil perdeu hoje um dos seus maiores símbolos na luta pela Justiça. Nossa América perdeu a voz destemida que enfrentou ditaduras truculentas e o braço amigo que abrigou centenas de refugiados que eram perseguidos nos países vizinhos. O mundo perdeu um vulto gigante na defesa universal dos Direitos Humanos”.

“Assumindo a autoridade de bispo em 1970, destacou-se na defesa dos direitos de presos comuns na zona norte de São Paulo. Poucos meses depois, tornou-se a voz dos presos políticos sobreviventes das torturas, que sempre reconheceram nele a energia contagiante de quem denuncia a violência e desmascara farsas policiais, sem nunca se recusar a bater na porta de um quartel ou dialogar com quem se dispusesse a isso”, disse Lula.

“O Brasil perde muito. Mas não perde nenhum de seus ensinamentos e de suas lições. Num momento tão difícil de nossa vida nacional, cabe recolher seu legado de dignidade e coerência como inspiração permanente. Cabe resgatar os ideais de esperança que Dom Paulo sempre apresentou como lema de uma vida inteira”, diz a nota.

José Serra

Reunido em Buenos Aires com os chanceleres do Mercosul, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, também lamentou a morte do cardeal e lembrou que ele trabalhou ativamente para o retorno da democracia no Brasil. “Dom Paulo é um exemplo para aqueles que acreditam na justiça social e na melhoria das condições de vida da população. Dedicou seu sacerdócio à defesa dos direitos humanos, em especial dos mais pobres”, disse, em nota.

Serra ressaltou que dom Paulo Evaristo Arns foi quem criou a Comissão Brasileira de Justiça e Paz de São Paulo e estabeleceu a Pastoral da Criança. A primeira, segundo ele, desempenhou papel fundamental no combate à tortura durante o regime militar e a segunda trabalha até hoje pelo bem-estar das crianças. “São Paulo e o Brasil perdem um gigante; eu, um amigo e conselheiro”, disse Serra.

Geraldo Alckmin

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, postou uma mensagem na rede social Twitter sobre a morte do cardeal. “Quem quer agradar a Deus precisa amar o que Ele ama: as pessoas. Esse ensinamento é de dom Paulo Evaristo Arns. Nesta hora de dor, que o seu exemplo nos faça mais atentos aos seus valores: solidariedade, justiça, paz, ética - e coragem para defendê-los”, disse, em seu Twitter.

Dom Odilo Scherer

O cardeal dom Odilo Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo, divulgou nota lamentando a morte de Arns. “Louvemos e agradeçamos ao 'Altíssimo, onipotente e bom Senhor' pelos 95 anos de vida de Dom Paulo, seus 76 anos de consagração religiosa, 71 anos de sacerdócio ministerial, 50 de episcopado e 43 anos de cardinalato. Glorifiquemos a Deus pelos dons concedidos a Dom Paulo, e que ele soube partilhar com os irmãos. Louvemos a Deus pelo testemunho de vida franciscana de Dom Paulo e pelo seu engajamento corajoso na defesa da dignidade humana e dos direitos inalienáveis de cada pessoa”, diz a nota.

O cardeal também convidou a todos a participarem do velório e dos ritos fúnebres realizados na Catedral da Sé. 

CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifestou pesar pelo falecimento. “Em seu ministério episcopal, especialmente durante os penosos anos do regime de excessão vividos pelo Brasil, ele foi sempre um pastor símbolo da fidelidade à Palavra de Cristo e aos Ensinamentos da Igreja. Sua palavra sempre trouxe especial alento ao coração dos cristãos e deu significativa contribuição na luta contra a tortura e o restabelecimento da democracia”, disse o secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, em nota.

O secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB, Carlos Moura, disse que dom Paulo Evaristo Arns deixa o legado de colocar na agenda pública nacional a inviolabilidade da vida humana. “Quem conviveu com o religioso, teve a oportunidade de escutar 'de esperança em esperança', esse quase lema que o acompanhou nos tempos mais difíceis da história nacional, quando o autoritarismo era lei que prendia, torturava e condenava quem discordasse da Lei de Segurança Nacional”, disse, em nota.

O trabalho pastoral de Arns foi voltado principalmente aos moradores da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros e à defesa e promoção dos direitos humanos. O livro de sua autoria Brasil: nunca mais retrata os mecanismos de tortura e outras graves violações a direitos humanos durante a ditadura militar brasileira.

Pastoral da Criança

A Coordenação Nacional da Pastoral da Criança disse que dom Paulo Evaristo Arns foi “o grande responsável por semear a criação da Pastoral da Criança”, em 1982, projeto desenvolvido por sua irmã, a médica pediatra e sanitarista Zilda Arns Neumann, e que busca reduzir a mortalidade infantil.

Em nota, a Pastoral disse que a vida do cardeal foi marcada por uma série de ações voltadas às populações mais pobres e necessitadas. “Ele foi um exemplo de que os ensinamentos cristãos se concretizam no contato com o povo, pelo viés da solidariedade, buscando a transformação das injustiças sociais. Costumava dizer que, para que essas transformações aconteçam, é importante cada um se interessar pela política e agir, no sentido de defender os direitos daqueles que mais precisam”.

Dom Orani Tempesta

O cardeal arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, disse que Evaristo Arns foi um homem que desempenhou uma missão importante na capital de São Paulo com suas pastorais, mas também um trabalho importantíssimo durante o período de exceção no Brasil "pela liberdade e pela responsabilidade de termos um país melhor".

"O cardeal Arns teve um papel de destaque para a Igreja no Brasil, em especial com relação às associações políticas. Nós sambemos que, além disso, como homem culto que era e também piedoso, que o seu exemplo nos ajude e nos anime nessa missão que agora temos no nosso país, de olhar para frente e darmos esperança. Eu creio que esse foi o seu lema de esperança, temos que nos mover também e ter esperança no Senhor nos atuais tempos", disse Orani.

Pastoral da Terra

A Comissão Pastoral da Terra também manifestou pesar à morte de Arns e ressaltou sua ligação com as questões agrárias. A entidade afirmou que "une-se a todos os brasileiros e brasileiras e a todos os que, lutando por um mundo de justiça e igualdade, hoje pranteiam a morte de Dom Paulo Evaristo Arns.

"Dom Paulo foi um baluarte na luta pela democracia, no combate à Ditadura Militar, denunciando os desmandos praticados contra lideranças e militantes de movimentos, presos e submetidos a horrorosas sessões de tortura. A palavra e a postura de dom Paulo dando guarida a perseguidos, denunciando as atrocidades e brandindo a espada da Justiça é um exemplo que marca até hoje a história de nosso país".

* Reportagem de Camila Boehm (São Paulo), Douglas Corrêa (Rio de Janeiro) e Andreia Verdélio (Brasília)

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