Em outubro de 2015, uma embarcação que levava 350 pessoas pelo Mar Egeu em direção a Lesbos, na Grécia, naufragou, deixando mais de 40 mortos. Um dos sobreviventes era Stafwan, iraquiano que decidiu fugir de seu país de origem após o Estado Islâmico da Síria e do Levante (ISIL) ocupar Mossul, cidade onde residia. Entre a opressão sob o domínio dos extremistas e a perigosa travessia do Mediterrâneo, o jovem de apenas 24 anos optou por tentar chegar à Europa e começar uma nova história.
Stafwan vendeu tudo o que tinha para poder chegar à Europa e escapar do controle do ISIL. Foto: Giles Duley/ACNUR
“Minha vida era feliz, eu tinha tudo de que precisava. Tinha meu próprio carro. A vida era boa”, conta Stafwan, que se lembra de Mossul antes da chegada do ISIS. Ao controlar a cidade, o grupo terrorista começou a perseguir, torturar e executar pessoas supostamente envolvidas em atividades de resistência à ocupação e movimentos ativistas, homossexuais, adúlteros e indivíduos considerados promíscuos. Minorias foram expulsas ou assassinadas.
“O ISIL não tem nenhuma humanidade. Eles arrancaram nossa liberdade. Não há mais vida lá”, afirma o iraquiano, que foi chicoteado pelos extremistas por ser flagrado fumando um cigarro. Além de proibir o consumo de tabaco, o Estado Islâmico também obrigava os homens de Mossul a deixar a barba crescer e a se vestir de determinada maneira. Outra preocupação de Stafwan era o recrutamento forçado de jovens em idade de combate, como ele.
Sem querer lutar pelo grupo e incapaz de manter os negócios, Stafwan vendeu o carro e o pequeno café do qual era dono para conseguir dinheiro e pagar a fuga rumo à Europa. Escondido num caminhão de combustível, o iraquiano viajou por cerca de oito horas até chegar à Síria. Depois de caminhar por mais uma hora, Stafwan chegou à Turquia, onde teve de pegar 2,3 mil euros pela viagem de barco no Mediterrâneo.
A embarcação só percorreu metade do caminho, quando começou a se partir e afundar. Segundo Stafwan, passaram-se cerca de duas horas até algum socorro chegar. O iraquiano salvou três crianças e um idoso, colocando-os sobre destroços que flutuavam na água gélida do Mediterrâneo. O jovem só foi resgatado após passar quatro horas à deriva no mar, quando um pescador o avistou.
Embora Stafwan tenha sobrevivido, seu destino permanece incerto, como o de tantos outros indivíduos que fugiram da guerra e do terrorismo e conseguiram chegar ao continente europeu. Ele tem planos de chegar à Alemanha ou à Suécia. “Eu quero viver uma nova vida. Eu quero esquecer tudo que aconteceu em Mossul. E nessa viagem. Eu quero começar uma nova vida. Eu quero ir adiante e nunca olhar para trás”, afirmou.
A história de Stafwan faz parte do projeto “Legado da Guerra”, uma iniciativa do fotógrafo britânico Giles Duley. A serviço do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Duley tem acompanhado e registrado, desde o ano passado, a crise de populações deslocadas que chegam à Europa. O fotógrafo conheceu e entrevistou Stafwan em novembro de 2015.
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