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Jovem iraquiano narra sua fuga de cidade controlada pelo Estado Islâmico até a Europa

“O ISIL não tem nenhuma humanidade”, conta Stafwan que morava em Mossul. Ele sobreviveu ao náufrago de uma embarcação que levava 350 pessoas pelo Mediterrâneo

por ONU Brasil   publicado às 09:31 de 08/01/2016, modificado às 09:34 de 08/01/2016

Em outubro de 2015, uma embarcação que levava 350 pessoas pelo Mar Egeu em direção a Lesbos, na Grécia, naufragou, deixando mais de 40 mortos. Um dos sobreviventes era Stafwan, iraquiano que decidiu fugir de seu país de origem após o Estado Islâmico da Síria e do Levante (ISIL) ocupar Mossul, cidade onde residia. Entre a opressão sob o domínio dos extremistas e a perigosa travessia do Mediterrâneo, o jovem de apenas 24 anos optou por tentar chegar à Europa e começar uma nova história.

Stafwan vendeu tudo o que tinha para poder chegar à Europa e escapar do controle do ISIL. Foto: Giles Duley/ACNUR

“Minha vida era feliz, eu tinha tudo de que precisava. Tinha meu próprio carro. A vida era boa”, conta Stafwan, que se lembra de Mossul antes da chegada do ISIS. Ao controlar a cidade, o grupo terrorista começou a perseguir, torturar e executar pessoas supostamente envolvidas em atividades de resistência à ocupação e movimentos ativistas, homossexuais, adúlteros e indivíduos considerados promíscuos. Minorias foram expulsas ou assassinadas.

“O ISIL não tem nenhuma humanidade. Eles arrancaram nossa liberdade. Não há mais vida lá”, afirma o iraquiano, que foi chicoteado pelos extremistas por ser flagrado fumando um cigarro. Além de proibir o consumo de tabaco, o Estado Islâmico também obrigava os homens de Mossul a deixar a barba crescer e a se vestir de determinada maneira. Outra preocupação de Stafwan era o recrutamento forçado de jovens em idade de combate, como ele.

Sem querer lutar pelo grupo e incapaz de manter os negócios, Stafwan vendeu o carro e o pequeno café do qual era dono para conseguir dinheiro e pagar a fuga rumo à Europa. Escondido num caminhão de combustível, o iraquiano viajou por cerca de oito horas até chegar à Síria. Depois de caminhar por mais uma hora, Stafwan chegou à Turquia, onde teve de pegar 2,3 mil euros pela viagem de barco no Mediterrâneo.

O iraquiano explica que o preço elevado era devido ao tamanho da embarcação, maior e mais segura que os barcos menores. O custo alto, porém, não garantiu sua proteção. “Fomos informados de que haveria 95 pessoas no barco. Fomos ao ponto de encontro e, primeiro, um grupo de 37 pessoas chegou. Então, mais pessoas chegaram, e mais continuavam vindo, até que havia cerca de 350”, explicou. “Não podíamos falar nada, nem protestar, porque levaríamos um tiro. Eles tinham armas e não tínhamos escolha a não ser subir no barco”.

A embarcação só percorreu metade do caminho, quando começou a se partir e afundar. Segundo Stafwan, passaram-se cerca de duas horas até algum socorro chegar. O iraquiano salvou três crianças e um idoso, colocando-os sobre destroços que flutuavam na água gélida do Mediterrâneo. O jovem só foi resgatado após passar quatro horas à deriva no mar, quando um pescador o avistou.

Embora Stafwan tenha sobrevivido, seu destino permanece incerto, como o de tantos outros indivíduos que fugiram da guerra e do terrorismo e conseguiram chegar ao continente europeu. Ele tem planos de chegar à Alemanha ou à Suécia. “Eu quero viver uma nova vida. Eu quero esquecer tudo que aconteceu em Mossul. E nessa viagem. Eu quero começar uma nova vida. Eu quero ir adiante e nunca olhar para trás”, afirmou.

A história de Stafwan faz parte do projeto “Legado da Guerra”, uma iniciativa do fotógrafo britânico Giles Duley. A serviço do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Duley tem acompanhado e registrado, desde o ano passado, a crise de populações deslocadas que chegam à Europa. O fotógrafo conheceu e entrevistou Stafwan em novembro de 2015.

Saiba mais sobre o projeto aqui.

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