O governo francês deve reagir aos atentados terroristas da última sexta-feira (13) em Paris intensificando a luta contra o grupo jihadista Estado Islâmico e, ao mesmo tempo, melhorando a segurança interna por meio do aumento do controle das fronteiras, sem ferir o Estado de direito e as liberdades fundamentais. Na avaliação do cientista político e professor da Universidade de Sorbonne Stéphane Monclaire, outro desafio será evitar as infiltrações de terroristas na França sem endurecer a política imigratória. “Será necessário mostrar para a população francesa que não é porque alguns terroristas cruzaram as fronteiras como refugiados que não vamos acolher os refugiados”, afirmou.
Homenagem às vítimas dos atentados no centro de Paris (15/11/15). Foto: Vincent Gilardi/Fotos Públicas
O historiador Bruno Garcia, pesquisador da Revista de História da Biblioteca Nacional, disse ter testemunhado na Europa algumas pessoas relembrando boatos de que o Estado Islâmico estava infiltrando terroristas entre os refugiados.
“Este argumento foi ventilado como uma forma de justificar uma política de bloqueio aos refugiados. Já se sabe que a Europa não tem como lidar com uma onda contínua de refugiados e a promessa de que ela só deve aumentar nos próximos anos. O problema é que ninguém sabe que solução dar, não é uma resposta rápida. Com isso, a extrema direita vai aproveitar essa situação para ganhar capital eleitoral”, destacou Garcia.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou ontem (15) que os atentados em Paris e a descoberta de um passaporte sírio próximo ao corpo de um dos terroristas não devem levar a uma mudança na política europeia de acolhimento de refugiados.
“Os que cometeram os atentados são exatamente aqueles de quem os refugiados fogem e não o contrário. Consequentemente, não há motivo para rever o conjunto das políticas europeias em matéria de refugiados”, disse Juncker à imprensa antes do início da Cúpula do G20 em Antália, na Turquia.
Segundo o professor da Sorbonne, os ataques tiveram uma dimensão simbólica muito forte. Eles começaram perto do Stade de France, onde ocorria uma partida de futebol entre as seleções da França e da Alemanha com a presença do presidente francês François Hollande. Em seguida, os terroristas mataram 129 pessoas e deixaram 352 feridos em locais que ficavam perto da redação do jornal Charlie Hebdo, alvo de ataque em janeiro que resultou em 12 mortes.
“É uma maneira de dizer que estamos fazendo a guerra contra a França. É um recado da potência do Estado Islâmico e do seu nível de organização porque, desta vez, não se tratava de indivíduos cuja coordenação não era muito forte, mas de indivíduos muito determinados, muito bem organizados e coordenados”, disse Monclaire.
Para o historiador Bruno Garcia, é muito difícil lançar uma guerra ao terror contra um inimigo que é abstrato. Ele ressaltou que a solução passa por medidas diplomáticas e uma ação conjunta que também inclui a alternativa militar. “Os terroristas deixaram de ser apenas a Al Qaeda e deixaram de ter residência em um país e passaram a se distribuir de forma mais difusa e com objetivos mais difusos. Ficou claro que uma política de tolerância zero não resolveria o problema. Ao fomentar uma guerra ao terror, o Ocidente produziu de certa forma também outras condições que alimentam o fundamentalismo.”
*Com informações da Rádio França Internacional e da Rádio MEC