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Exposição na Maré propõe reflexão sobre transformação urbana

Realizada pela ONG Observatório de Favelas, a mostra tem como objetivo entender a arte como forma de contato afetivo e criativo entre as pessoas e com o mundo

por Akemi Nitahara - Agência Brasil   publicado às 09:10 de 14/09/2015, modificado às 09:10 de 14/09/2015

Começou no último fim de semana, no Galpão Bela Maré, a exposição Travessias 4 – Arte Contemporânea na Maré, no complexo de favelas da zona norte do Rio de Janeiro. Em sua quarta edição, a atividade propõe a reflexão e discussão sobre o papel da arte na transformação do espaço urbano.

Quarta edição da exposição Travessias – Arte Contemporânea na Maré, que acontece no Galpão Bela Maré. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Participam da mostra os artistas convidados Regina Silveira e Eduardo Coimbra, além de dois trabalhos de artistas iniciantes, selecionados por meio de edital. A organizadora da exposição, Luiza Mello, explica que a proposta é entender a arte como forma de contato afetivo e criativo entre as pessoas e com o mundo.

“A proposta é que a gente atravesse fronteiras, que as pessoas de outros bairros venham para cá e que as pessoas que moram aqui, gostando de arte, passem a frequentar outros espaços culturais em outros bairros da cidade. Então é oferecer essa ponte, abrir os olhos das pessoas, é proporcionar e provocar para um tipo de expressão cultural que é a arte visual”, disse a organizadora.

Regina Silveira montou a obra Touch especialmente para o galpão, com mãos enormes impressas pelo chão e nas paredes do local. Grandes painéis luminosos pendurados no teto compõem a obra interativa de Eduardo Coimbra Balancéu que, ao serem balançados, dão a sensação de que o céu está em movimento. Marie Carangi fará a performance Corte estilo guilhotina, que questiona a auto-imagem e a representação dos padrões revelados pelo cabelo.

O quarto trabalho é o Interiores da Maré, uma parceria entre o produtor Henrique Gomes, morador do bairro, e o fotógrafo italiano Antonello Veneri. O fotógrafo explica que a ideia é reproduzir uma tradição antiga no Brasil dos retratos de família, para mostrar a beleza que existe na Maré. “A maioria das famílias daqui são de origem nordestina e no Nordeste do Brasil essa tradição do retrato fotográfico é muito antiga. Aliás, muitas famílias que fotografamos tinham na casa retratos dos pais. Então pensamos: por que não continuar fazendo isso? Também porque das comunidades, das favelas, sempre é mostrado o lado ruim da violência, a mídia sempre mostra esse lado. Então nós quisemos mostrar esse outro lado, que é o lado do cotidiano, da beleza. Todas as famílias adoraram”.

Outra atração é a maquete colaborativa do complexo de favelas, feito sob coordenação do arquiteto Pedro Évora desde a segunda edição do evento. Este ano, ela está com 48 metros quadrados, o dobro do tamanho de 2014, e conta com uma projeção da artista Regina Silveira. Évora relata que ainda falta a representação de quase 40% da comunidade. De acordo com ele, as oficinas e o trabalho que envolveu a comunidade na elaboração da obra empolgou os cerca de 40 participantes.

O estudante Walison John Aleixo Ramos, de 10 anos, mora na região e ajudou a fazer a maquete. “Tudo é legal. Achei minha casa, a passarela. Nunca tinha trabalhado com maquete. A exposição está bonita, o céu parece que é verdadeiro. Essas mãos na parede parecem que são minhas mãos”.

O diretor do Observatório de Favelas, ONG idealizadora do projeto, Jorge Luiz Barbosa, explica que um dos objetivos da mostra é proporcionar, além do intercâmbio entre artistas conhecidos e iniciantes, o encontro entre as diversas regiões da cidade.

“Primeiro é esse encontro necessário que pode refundar a arte com outras motivações, outros conceitos e outros significados. O segundo é fazer uma superação dos estigmas de violência e dos estereótipos de carência da favela, criando um grande centro cultural numa das maiores favelas do Brasil e a maior do Rio de Janeiro, que é a Favela da Maré, mostrando que a favela pode ser uma referência na produção e na fruição estética. O terceiro ponto é fazer um grande encontro das pessoas da cidade num espaço popular. Então é como a favela pode se tornar também esse espaço público de vivência e convivência das pessoas da cidade”.

Inaugurado no sábado (12), o projeto Travessias 4 fez dois workshop de criação coletiva e intervenção e vai receber quatro oficinas e dois encontros sobre os temas em debate. O programa educativo já tem visitas agendadas de 17 das 19 escolas da região. Os trabalhos podem ser vistos até o dia 14 de novembro no Galpão Bela Maré, que fica na Rua Bittencourt Sampaio, entre as passarelas 9 e 10 da Avenida Brasil.

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