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CPI do Assassinato de Jovens ouve mães que tiveram filhos mortos por policiais

A assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional também participou da audiência e afirmou que é comum que policiais mexam na cena do crime e inviabilizem a perícia

por Mariana Jungmann - Agência Brasil   publicado às 10:41 de 25/08/2015, modificado às 10:41 de 25/08/2015

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Assassinato de Jovens no Brasil ouviu ontem (24) os depoimentos de mães que perderam filhos em razão de violência e de ativistas de direitos humanos que apresentaram dados sobre homicídios no Brasil.

Foto: Sergey Nivens - Fotolia.com

Uma das depoentes – Terezinha de Jesus Ferreira, mãe de Eduardo de Jesus Ferreira, morto na porta de casa onde morava no Morro do Alemão, no Rio – disse que seu filho foi assassinado por policiais. Segundo ela, eles tentaram também modificar a cena do crime, trocando o celular que Eduardo tinha na mão por uma arma.

Terezinha disse ainda que os policiais usavam capuzes e se contradisseram várias vezes na justificativa do assassinato, apresentando várias versões. “Eu sei que policiais do bem não entram encapuzados na favela. Esses, que entram encapuzados, são só que atiram primeiro para depois perguntar. São verdadeiros bandidos armados.”

Débora Maria da Silva também perdeu o filho e acusa policiais pelo assassinato. Ela faz parte do grupo Mães de Maio, formado por mulheres que perderam os filhos durante os ataques do Primeiro Comando da Capital em 2006, em São Paulo, ou pela polícia em retaliação a mortes de policiais militares no episódio.

“É uma história dos crimes de maio, que o governo de São Paulo não quer conversa sobre o que aconteceu naquele mês”, disse Débora aos senadores. De acordo com ela, no dia em que o filho foi morto, policiais avisaram sobre o toque de recolher para “as pessoas de bem”, porque haveria chacina em razão da morte de outros policiais nos ataques do crime organizado a delegacias e postos de polícia na Baixada Santista e São Paulo.

Segundo Débora, o filho estava numa moto, ficou sem gasolina e, quando abastecia em um posto de combustível, foi abordado por policiais militares em várias viaturas. Ela disse também que a Polícia Civil sequer se empenhou em buscar as fitas das câmeras de segurança do posto e nunca esclareceu o crime.

“[Em] todas as mortes de 2006 não houve perícia. Os policiais mexeram nos corpos, como mexeram no do meu filho, para prejudicar as vítimas. Nos exames cadavéricos, nós vimos absurdos nas conclusões. Como é o caso do meu filho, que não retiraram o projétil da espinha cervical dele [que poderia servir de prova sobre a autoria]”, afirmou.

A assessora de Direitos Humanos da Anistia Internacional, Renata Souza, participou também da audiência na CPI e afirmou que, nos casos de homicídios cometidos por policiais, é comum que eles mexam na cena do crime e inviabilizem a perícia. Ela apresentou um relatório da organização sobre o padrão de conduta da polícia e dos episódios de violência na Favela de Acarí, no Rio de Janeiro, em que esse tipo de conduta dos policiais é um dos pontos abordados. O relatório também aponta que os crimes cometidos por eles dificilmente são esclarecidos.

“Esses homicídios são de autoria conhecida. Os policiais admitem que mataram, mas alegam que foi em legítima defesa. Mesmo assim, eles ficam em aberto sem serem resolvidos. Por que um homicídio de autoria conhecida, com a Polícia Civil tendo metas a cumprir de resolução de casos, por que esse homicídio fica mais de quatro anos em aberto sem ser resolvido? Isso é uma carta branca aos policiais e um retrato chocante de impunidade”, afirmou Renata Souza.

Tags:

violência, filhos, anistia internacional, assassinatos, crimes, violência policial, impunidade, mãe, pcc, legítima defesa

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