No Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado no último domingo (9), o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon lembrou que muitos avanços globais foram alcançados, mas alertou para problemas persistentes e por vezes crescentes, como a violência contra os povos originários e a mortalidade infantil.
“Podemos olhar para trás para avaliar os grandes avanços da humanidade. A adoção em 2007, pela Assembleia Geral da ONU, da Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas foi um dos muitos êxitos alcançados através da frutífera parceria entre os povos indígenas e os Estados-membros das Nações Unidas”, disse Ban.
Ele lembrou que o ano também marca um divisor de águas no desenvolvimento humano. O período dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) se encerra no final de 2015 e será sucedido por uma agenda de desenvolvimento pós-2015 que avançará na inclusão e na prosperidade partilhada. “Esta agenda popular é um plano concreto de ação para acabar com a pobreza em todas as suas dimensões, de forma irreversível, em todos os lugares, não deixando ninguém para trás”, disse Ban Ki-moon na mensagem.
O Dia Internacional se concentra, neste ano, na saúde e no bem-estar dos povos indígenas do mundo. “A Declaração afirma o direito de manter as práticas de saúde indígenas, bem como ter acesso a todos os serviços sociais e de saúde para o desfrute dos mais altos padrões de saúde física e mental. Devemos fazer todos os esforços para apoiar os direitos e aspirações dos povos indígenas, como afirmado na Declaração”, disse o chefe da ONU.
Segundo Ban, os povos indígenas enfrentam uma ampla gama de desafios à sua saúde e bem-estar. “A maioria é eminentemente evitável. Eles incluem o saneamento e a habitação inadequados, a falta de assistência pré-natal, a violência generalizada contra as mulheres, bem como os altos índices de diabetes, abuso de drogas e álcool, suicídio de jovens e mortalidade infantil. Estas questões devem ser abordadas com urgência, como parte da agenda de desenvolvimento pós-2015, de forma culturalmente apropriada de modo a atender às concepções dos povos indígenas e suas aspirações de bem-estar”, acrescentou.
“Neste Dia Internacional dos Povos Indígenas, eu apelo à comunidade internacional para garantir que eles não sejam deixados para trás. Para criar um futuro melhor e mais justo, vamos nos comprometer a fazer mais para melhorar a saúde e o bem-estar dos povos indígenas”, concluiu Ban.
No Brasil, o programa do governo federal “Mais Médicos”, que conta com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS), tem não só levado serviços de saúde para povos indígenas como também resgatado o saber tradicional destes povos. É o caso do médico cubano Javier Lopez Salazar, do Programa Mais Médicos, que chegou ao Brasil em janeiro de 2014. Especialista em Medicina Familiar e comunitária e com uma pós-graduação em Medicina Tradicional, ele iniciou um trabalho de resgate cultural na aldeia Kumenê, em Oiapoque, localizada a 590 quilômetros da capital do Amapá.
Em outro caso, os beneficiados vivem na aldeia tupiniquim Irajá, localizada a 12 km do centro do município de Aracruz, ao norte do Espírito Santo. Formada por pouco mais de 560 pessoas que lutam pela sobrevivência do seu povo, a aldeia conta pela primeira vez com um médico fixo, atendendo de segunda a sexta e exclusivo para a comunidade.
“É uma reivindicação antiga da gente, porque antes só tinha médico de vez em quando, às vezes era difícil conseguir ir até o polo ter atendimento ou esperar pela vinda do médico até aqui. Então isso para nós é uma vitória”, disse Bruno Joaquim Siqueira, presidente do Conselho de Saúde da aldeia.
O médico cubano do Programa Mais Médicos José Antonio Fuentes Cabrera foi designado para a função. Além do curso de adaptação e capacitação que todos os médicos do Programa Mais Médicos fazem ao chegar ao Brasil, José Antonio fez um curso especial sobre cultura e saúde indígena antes de ser direcionado à aldeia.