Pesquisa nacional sobre consumo consciente, feita pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ) e Instituto Ipsos, mostra que “não por acaso”, houve avanços na economia de energia e água. É o que afirma o economista Christian Travassos.
Foto: Marcos Santos/USP Imagens
De acordo com a sondagem, o uso racional de água e energia aumentou no país. Somente um em cada dez brasileiros (11% dos consultados) disseram lavar a calçada com jato de água. No ano passado, 25% mantinham esse hábito. Entre os que relataram lavar o carro com mangueira, o número atingiu 20%, em 2014, e caiu agora para a metade. Também quando indagados se apagavam as luzes ao sair de um recinto e se fechavam a torneira ao escovar os dentes, houve forte adesão entre os entrevistados, com 96% e 93%, respectivamente.
Christian Travassos analisou que os indicadores foram positivos. Salientou, entretanto, que isso não significa que as pessoas estão mais atentas à preservação do meio ambiente. “As pessoas estão economizando mais energia porque ela aumentou no Brasil quase 60% nos últimos 12 meses, contra inflação média de 8%, e isso afetou o bolso das empresas e do consumidor residencial, de modo significativo. Isso leva empresários e consumidores a reverem hábitos e, eventualmente, a trocarem lâmpadas e fazerem pequenas reformas para reaproveitar a água”, indicou.
Do ponto de vista da água, o economista lembrou que o cenário é de reservatórios com volumes baixos e uso do volume morto, incentivando a economia pelos consumidores. Ele acentuou que a questão da água está ligada à energia, uma vez que a justificativa apresentada para a majoração das tarifas de energia elétrica foi o problema da seca. “Então, ao mesmo tempo em que ele economiza energia, ele poupa mais água também, porque está preocupado em não ficar sem água, e em fazer o seu papel na economia pedida pelo Poder Público. Isso ocorre de forma consciente ou inconsciente", indicou.
No que se refere ao desperdício de alimentos, a pesquisa revela que as pessoas “seguraram” o consumo ao longo do último ano. A parcela de brasileiros que verificam os armários e a geladeira antes de fazer compras ficou em 68%, este ano, contra 71% no ano passado. Travassos explicou que os dados não significam que o consumidor esteja menos consciente na hora de comprar. “Ele está comprando menos. Em termos de cenário, ele olhou menos o armário, porque o armário dele está mais vazio, e ele tem noção do que deve comprar. Ele está enchendo menos o carrinho e gastando o mesmo ou mais, em função do cenário econômico”. Embora retrate o consumo consciente, a pesquisa gera subsídios para falar do momento econômico.
Em termos de reciclagem de lixo, a sondagem mostra que ao longo dos últimos dez anos pouco variou o percentual de brasileiros que separaram o lixo para reciclagem. O número varia entre 40% e 50%. Este ano, ficou em 45%, mostrando leve piora em relação aos 48% do ano passado.
A principal razão para isso é o fato de o brasileiro em geral acreditar que o lixo acaba misturado na coleta pública. “Se o Poder Público separa o lixo, essa informação ainda não ficou clara para o consumidor brasileiro”. Para 64% dos brasileiros não adianta separar o lixo, porque ele acaba sendo misturado na coleta pública. A tendência natural, porém, seguindo o que ocorre no mundo, é a ampliação dos que separam o lixo. “É provado que existe ganho com a separação, para a sociedade, o meio ambiente, os governos e a população”, ressaltou.
Na parte dos alimentos orgânicos, houve estabilidade em relação ao ano passado, com consumo por 21% da população. “Um em cada cinco brasileiros afirma consumir produtos orgânicos”. Apesar de haver maior informação sobre os benefícios dos orgânicos para a saúde e o meio ambiente, o cenário econômico adverso, de 2014 para cá, contribuiu para elevar os preços dos produtos.
Travassos ponderou que a partir do momento em que o Poder Público valorizar o orgânico e o mercado se ampliar, haverá maior produção, e isso vai diminuir custos. “Quando você incentiva a produção orgânica, está incentivando toda uma cadeia mais saudável. No médio prazo, há ganhos para o bolso e para o meio ambiente, porque reduz gastos com saúde, com preservação do solo e ações de reparação da natureza”, comentou.