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Maioria dos moradores tem consciência da ação do tráfico nas comunidades

Segundo estudo do Data Favela, 51% das pessoas que vivem nesses locais não acham que a comunidade precise de uma ação de pacificação, mas 42% pensam justamente o contrário

por Daniel Mello - Agência Brasil   publicado às 07:00 de 04/03/2015, modificado às 07:09 de 04/03/2015

Mais de dois terços (70%) dos moradores de favelas reconhecem a presença do tráfico de drogas nas comunidades onde vivem. Segundo estudo divulgado ontem (3) pelo Data Favela, 51% das pessoas que vivem nesses locais não acham que a comunidade precise de uma ação de pacificação, nos moldes das medidas de segurança implementadas no Rio de Janeiro. Porém, 42% pensam justamente o contrário e acreditam na necessidade de uma medida de ocupação policial ou militar. A pesquisa ouviu, em fevereiro deste ano, 2 mil pessoas em 63 favelas, nas dez regiões metropolitanas de São Paulo. O trabalho foi feito em parceria com o Instituto Data Popular e a Central Única das Favelas (Cufa).

Foto: Dhani Borges/Flickr (10/12/2010)

Para 75% dos entrevistados, a polícia é mais violenta do que deveria e 65% disseram que as forças de segurança agem com mais truculência nas favelas. Os moradores dessas comunidades rejeitam a atuação dos traficantes. Na opinião de 81%, o crime não traz nenhum benefício para a região. “Por mais que o tráfico, durante anos, tenha suprido a carência de serviços públicos nas favelas brasileiras, hoje, oito em cada dez moradores não enxergam que o tráfico de drogas possa trazer benefícios para a favela, destacou o presidente do Data Popular, Renato Meirelles.

Para a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, a pacificação é importante em determinadas situações, mas não deve ser a única medida para garantir a segurança nas favelas. “Não se pode subestimar determinadas medidas em situações limite. Superar a situação de violência não pode ser só com ação emergencial, tem que ser com ações estruturais, acesso à educação e aos direitos”, disse Tereza, ao exemplificar os benefícios de programas como o Mais Educação, que leva educação em tempo integral para as comunidades. 

O poeta Sérvio Vaz criticou o modelo de pacificação. Para ele, esse tipo de ação mostra que os governos ainda não entenderam os anseios dos moradores de favela. “Eles veem a favela como uma senzala. Só precisa de polícia. Eles não perceberam que queremos saúde, educação e saneamento básico”, disse o fundador da Cooperativa Cultural da Periferia, que organiza atividades culturais na zona sul paulistana.

Segundo o poeta, a educação e a cultura devem ser o foco do trabalho nas comunidades. “As pessoas precisam consumir cursos de inglês, de computação, web design e entrar na universidade. Não são só bens e produtos. Tem que investir em escola, literatura, cinema e cultura”, defendeu Vaz, após participar de um debate no 2º Fórum Nova Favela Brasileira, onde a pesquisa foi lançada.

Sérgio Vaz disse acreditar que as favelas e periferias vivem um momento de grande força criativa. “O momento é de efervescência cultural.  A periferia está vivendo hoje a sua bossa nova, seu cinema novo, sua tropicália, tudo de uma vez só. É muito forte. São mais de 50 saraus na periferia de São Paulo. As pessoas cansaram de esperar o Poder Público e começaram a fazer”, destacou o  poeta.

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