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TV interativa transforma a vida de usuários do Bolsa Família

Projeto-piloto implementado em João Pessoa e Brasília possibilita consultas sobre vagas de emprego, capacitação profissional e acesso a serviços públicos, tudo pela televisão

por Pedro Peduzzi - Agência Brasil   publicado às 08:02 de 23/02/2015, modificado às 08:03 de 23/02/2015

Acessar informações e serviços públicos a partir do controle remoto. Este é o propósito do Projeto Brasil 4D que, por meio de um equipamento acoplado aos televisores, permite que beneficiários do Bolsa Família façam, em sua própria casa, consultas sobre vagas de emprego, capacitação profissional, serviços públicos nas áreas de saúde, educação, segurança e transporte, além de serviços bancários, cursos técnicos e de educação financeira.

Projeto-piloto implementado em João Pessoa e Brasília possibilita consultas sobre vagas de emprego, capacitação profissional e acesso a serviços públicos, tudo pela televisão. Foto: Arquivo/Agência Brasil

Com um ano recém-completado, o projeto-piloto que vem sendo tocado em Brasília sob a coordenação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) tem levado, a cerca de 100 famílias de Samambaia, benefícios econômicos e sociais por meio de ferramentas para acesso a serviços públicos e de apoio à pessoa e à família. Em João Pessoa, onde o projeto-piloto já foi encerrado, o uso desse equipamento também proporcionou vantagens desse tipo para as famílias que testaram o equipamento, A constatação está documentada no relatório Brasil 4D – Estudo de Impacto Sócio Econômico sobre a TV digital Pública Interativa, publicado em 2013 pelo Banco Mundial.

“Esse relatório identificou uma economia de R$ 12 por mês com transporte e lanches, principalmente para aqueles que buscam empregos. Parece pouco, mas é muito, se considerarmos que o salário médio das famílias atendidas pelo Bolsa Família [público que recebeu os primeiros equipamentos nessa fase de testes] é R$ 173”, explica o coordenador-geral do Projeto Brasil 4D, o superintendente Executivo de Relacionamento da EBC, André Barbosa. Os autores do relatório chegaram a essa conclusão após um mês de uso do equipamento na capital paraibana. O relatório do Banco Mundial embasou um estudo feito pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que fez projeções e chegou à conclusão de que, caso o Projeto Brasil 4D seja estendido a 10 milhões de famílias, ele representará, em dez anos, uma economia de R$ 7 bilhões.

A expectativa é que cerca de 14 milhões de famílias sejam beneficiadas com a ajuda de parte dos R$ 3,6 bilhões em recursos obtidos como forma de compensação, pagos pelas empresas de telefonia móvel que usarão a faixa de 700 Mhz, também para a troca de transmissores e antenas das empresas de radiodifusão que terão de migrar da faixa, e para a divulgação dessa mudança.

“A experiência na Paraíba nos permitiu ver que – além de eficaz para reduzir a exclusão sociodigital e as despesas das famílias – o modelo Ginga [plataforma criada e desenvolvida no Brasil] funciona. De acordo com o Banco Mundial, das 100 famílias beneficiadas, 72% tiveram facilidade para usar a tecnologia; 64% reduziram as despesas da casa; e 12% tiveram aumento de renda, seja por meio dos cursos de capacitação ou das ofertas de emprego. Como essa pesquisa foi feita após apenas um mês de uso, é bem provável que os resultados sejam ainda melhores”, explicou Barbosa.

Também foi constatada melhora na relação entre os membros da família, uma vez que os jovens costumam ter mais facilidade para manusear o equipamento. Com isso, são eles que ensinam os pais a usá-lo. Ou seja, há mais diálogos entre eles. “Outra coisa bem curiosa aconteceu: esse equipamento ressuscitou o que, no passado, era chamado de 'televizinho'. Com a boa qualidade da imagem e os serviços oferecidos pela TV 4D, as casas com o aparelho passaram a ser mais frequentadas”, disse o superintendente da EBC.

Foi o que aconteceu, em Brasília, com a faxineira Ana Moreira Silva, de 52 anos. Moradora de Samambaia, Ana foi uma das primeiras pessoas a receber o equipamento para teste da TV 4D, durante a implantação do projeto-piloto. A imagem nítida deixou os vizinhos impressionados. “Aqui na região o sinal das emissoras é muito ruim, mas na minha casa a imagem é sempre limpinha e sem risco. Os vizinhos começaram, então, a vir aqui, reclamando que na tevê deles não dava nem para ver o rosto das pessoas nos filmes e nas novelas. Eu gosto disso, porque faz as amizades ficarem mais fortes”, disse ela.

Mas não são apenas boas imagens que a TV 4D proporciona. Por meio do equipamento, Ana Moreira conheceu, por exemplo, a Lei Maria da Penha – explicada de forma didática por meio de teledramaturgia, forma como diversos temas de interesse público são apresentados. “Antes eu não sabia do que tratava essa lei. Agora sei: quando o homem bate na mulher é para ela dar parte na polícia. Graças a Deus, nunca fui agredida, mas se for, já sei o que fazer. Na TV tem até o número do telefone que é para a gente ligar.”

A exemplo das outras famílias que participam do projeto, Ana é beneficiária do Bolsa Família. “Até nisso essa televisão me ajuda. Ela diz quando é para me recadastrar [no Bolsa Família] e o que é para levar. Antes era difícil, porque eu nunca sabia quais eram os documentos que tinha de apresentar. Por isso, várias vezes acabei voltando para casa sem conseguir fazer o recadastramento. Perdi muito tempo e dinheiro com ônibus, porque errava os documentos e tinha de fazer tudo de novo”, lembra a faxineira.

Na casa dela, quem melhor maneja o aparelho são os filhos, que depois ensinaram ao pai. “A gente já usou para procurar emprego. Como agora estamos com trabalho, não precisamos mais, mas tenho um filho que ontem mesmo saiu do quartel e já está começando a tentar trabalho novo com a ajuda do aparelho.”

Cabe aos agentes de cidadania, em geral lideranças comunitárias, o papel de estimular o uso do aparelho. Maria Isabel de Jesus, 45, é uma delas. Segundo ela, muitos conseguiram trabalho graças ao aparelho. “Digo isso porque a gente vê a dificuldade que é para um desempregado gastar dinheiro com passagem de ônibus. Se não tem emprego, não tem dinheiro para pegar ônibus e se não pega ônibus, não consegue emprego. A tevê ajuda porque evita que ele fique se deslocando à toa”, disse a agente.

Outro serviço bastante usado é o de marcação de consultas. “O problema é que para esse serviço é necessário ter internet, e o contrato com a operadora não foi renovado”, disse ela. Em Brasília, o projeto-piloto foi prejudicado por causa da crise financeira no Distrito Federal nesse período de transição de governo. Mas, segundo Barbosa, já há um aceno do atual governador, Rodrigo Rollemberg, no sentido de retomar o projeto.

O Brasil 4D já recebeu diversos prêmios. Entre eles, o Prêmio da Sociedade de Engenharia de Televisão (SET), na categoria Projeto de interatividade para televisão; o Prêmio Frida 2014; uma menção especial pela contribuição para a TV aberta no encontro La Cumbre TV Abierta 2013; e a menção honrosa do Prêmio Celso Furtado 2014.

Mais informações sobre o projeto Brasil 4D podem ser obtidas no site do Programa Brasil 4D.

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