A arte de aprender com a derrota

O titular da Alemanha, Özil, doou expressiva quantia de dinheiro para financiar cirurgias de crianças brasileiras. Foto: Reprodução/Facebook

“Falhei mais de 9000 arremessos na minha carreira. Perdi quase 300 jogos. Vinte e seis vezes fui escolhido para fazer o arremesso decisivo e falhei. Falhei vezes atrás de vezes durante a minha vida. E foi por causa disso que me tornei um vencedor”.

A frase acima, atribuída ao lendário jogador de basquete estadunidense Michael Jordan, enfatiza uma das mais importantes lições que o esporte pode dar aos seus competidores: aprender a perder.

Esportistas perdem competições devido aos próprios erros, mas também, muitas vezes, por conta de erros dos outros. Perdem por falta de coragem, falta de vontade e até por falta de esforço. Ou perdem simplesmente porque o adversário foi melhor. Contudo, aprender a perder, por mais doloroso que seja, é uma arte que nos ajuda a crescer, a nos conhecer melhor e a descobrir nossos limites para, em um futuro possível, nos tornarmos vencedores.

O fim da Copa no Brasil

Há mais de uma semana, a Copa do Mundo no Brasil chegou ao seu fim. Desconsiderando o fato doloroso de vermos a seleção brasileira sofrer a pior derrota da sua história em Copas do Mundo, ao meu ver, em 2014, venceu o melhor, o mais preparado, mesmo que nem sempre seja dessa forma.

A Alemanha conquistou seu tetracampeonato de maneira grandiosa, dentro e fora do campo, pois os atletas e a comissão técnica não só se preocuparam em vencer a mais importante competição de futebol do planeta, mas também em fazer com que a estadia no Brasil fosse uma oportunidade de mergulhar na cultura do país anfitrião.

Inúmeras foram as reportagens, divulgadas pelo mundo afora, da bonita relação dos alemães com o povoado de Santo André, em Santa Cruz Cabrália, a 24 quilômetros da famosa cidade de Porto Seguro, Bahia. Ao final da competição foi preparado um bonito vídeo de agradecimento pela acolhida do povo local.

 

Entre os bonitos gestos fraternos relacionados à seleção alemã, eu gostaria de destacar um em especial: o jogador Mesut Özil, titular da Alemanha, doou uma expressiva quantia de dinheiro para financiar as cirurgias de 23 crianças brasileiras doentes. Foram essas as palavras de Özil em seu perfil de uma rede social:

"Queridos fãs, antes da Copa do Mundo eu ajudei na cirurgia de 11 crianças doentes. Já que a vitória na Copa do Mundo não foi apenas por causa de 11 jogadores, mas pelo nosso time inteiro, eu vou agora elevar o número para 23. Esse é o meu agradecimento pessoal pela hospitalidade do povo brasileiro", publicou Özil.

Os céticos podem acreditar que tudo não passou de uma ação de marketing, feita por uma estrela milionária do universo futebolístico, que não sentirá falta de alguns milhares de euros. Pode até ser. Mas não é o que aparenta.

O jovem jogador alemão, muçulmano praticante, recita o Alcorão antes e depois de suas partidas. Em 2010, Özil recebeu um prêmio por ser um exemplo de integração na sociedade alemã, já que é membro da terceira geração de turcos que vivem na Alemanha. É importante também ressaltar o fato de que brasileiros, provavelmente sem recursos econômicos, foram ajudados pela generosidade de um atleta estrangeiro. Um exemplo significativo de fraternidade.

Saber perder para querer vencer

No domingo (20), mais uma vez, nós brasileiros tivemos que passar pela triste lição que a derrota no esporte ensina. O renovado time de vôlei, mesmo após ter se superado em muitos momentos durante a competição, acabou derrotado pelos Estados Unidos por 3 sets a 1 na decisão da Liga Mundial. Em outras ocasiões, como em 2010, o Brasil perdeu no futebol, mas ganhou no vôlei. Dessa vez, não.

No automobilismo, nova derrota. Após largar em terceiro no Grande Prêmio da Alemanha, Felipe Massa capotou na primeira curva e, novamente, frustrou os torcedores brasileiros da F1.

Agradável exceção dos últimos dias foi a conquista de Fabiana Murer, atleta brasileira do salto com vara, que venceu no último domingo o charmoso Sainsbury's Anniversary Games. Tantas outras vezes ela também perdeu.

Vencer ou perder, quando se trata de esporte, parece ser o que menos importa. A grande lição, para praticantes e torcedores, é encontrar uma forma de fazer das derrotas constantes aprendizados. Dessa forma podemos nos tornar verdadeiros vencedores.

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Sobre

Fazer do esporte um instrumento de promoção da fraternidade é aceitar o desafio de descobrir, acima de tudo, a prática de atividades físicas como possibilidade de encontro, de relação. Em uma competição esportiva, o adversário não é um inimigo, nem o jogo uma batalha. Por isso, respeitar as regras predefinidas e preservar um espírito de lealdade e honestidade tornam-se elementos essenciais para que o esporte realize a sua missão socioeducativa. Neste blog, queremos identificar, discutir e descobrir os grandes promotores do esporte no Brasil e no mundo e, com eles, refletir sobre valores que ajudam a edificar a nossa sociedade.

Autores

Valter Hugo Muniz

Jornalista com experiências internacionais na Ásia (Indonésia) e na África (Costa do Marfim). Atualmente mora em Genebra, na Suíça. É formado em jornalismo pela PUC-SP. Trabalhou em agências de comunicação, empresas multinacionais, editoras e na televisão. Concluiu recentemente uma pós-graduação no Instituto Universitário Sophia, em Florença, Itália.